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A sacralização das manifestações nas ruas

A sacralização das manifestações nas ruas

Atualizado: Terça-feira, 2 Julho de 2013 as 12:19

brasilEu nunca estive tão feliz por ver tanta gente nas ruas reivindicando por menos corrupção, melhor desempenho dos nossos governantes, ou medidas específicas como a diminuição de uma taxa do transporte público.
 
Já ouvi e fiz varias críticas, uma delas sobre a falta de pauta de muitos nas ruas, mas entendo que a pauta estes dias é a indignação,  que levou centenas de milhares de pessoas às ruas. Também falei sobre a mídia televisiva que tem falado que a grande maioria das manifestações  é pacífica, mas  de forma esquizofrênica, só mostra violência e vandalismo, colocando medo nos que estão em casa, e manipulando a grande massa.
 
A manifestação nas ruas é uma peça do quebra-cabeça que estava faltando na democracia do brasil, de um povo engajado pela justiça social, de uma cobrança de eficácia e honestidade do nosso governo.
 
Mas, como falei acima, é uma peça de quebra-cabeça importante, mas é apenas mais uma peça do grande quadro. O meu medo é que com o encanto das ruas nós sacralizemos as ruas e desprezemos todas as outras peças importantes da construção democrática.
 
Uma delas é o voto, ainda que um voto consciente, em si mesmo já demonstrou não ser suficiente para esse sonho de um Brasil melhor. A máquina está emperrada e corrompida, da mesma forma com que a cobrança sozinha nas ruas também não é suficiente.
 
Outra peça importante é a internet, pois lá temos uma democracia da informação, com menos manipulação que a mídia tradicional e com uma liberdade de debate jamais vista antes. Não podemos hostilizar quem milita online, os rebaixando como apenas online, pois estamos vendo que nos últimos anos nada é apenas online, de uma hora para outra transborda e faz toda a diferença. E mesmo quando transborda e entra em cena “nas ruas”, ela é fundamental para convocar, orientar e pautar as manifestações.
 
Uma outra peça fundamental é o engajamento pessoal em ONGs, Missões, Ordens e até partidos políticos. O estado não é o único responsável pela engrenagem de um Brasil eficiente e justo. Já vimos que sempre vai deixar lacunas, vai menosprezar os direitos das minorias, e vai valorizar os que tem mais recursos financeiros. E por isso precisamos estar engajados em movimentos que estão agindo por justiça independente do governo, cobrando e fiscalizando as falhas do estado de forma mais eficaz.
 
Sei que estamos maravilhados com o que aconteceu nas ruas nos últimos dias, de termos descobertos essa peça tão preciosa para funcionar a democracia, mas não podemos sacralizar as ruas e esquecer ou desprezar as outras peças da engrenagem. Pois até mesmo essas manifestações nas ruas podem virar apenas um evento, como virou a passeata gay ou a marcha para Jesus.
 
Se não ficarmos espertos, os manipuladores de plantão e os políticos mal intencionados vão fazer das manifestações nas ruas o ópio do povo.
 
 
- Marcos Botelho

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