Esses dias, ouvindo sobre justiça e misericórdia em diferentes ambientes e momentos, me peguei pensando sobre como temos desejos diferentes em relação a cada uma dessas palavras dependendo a quem elas se aplicam.
Quando vejo algo de errado no mundo, algo injusto, algo que alguém fez e não deveria ter feito, nosso desejo mais básico é o de justiça; queremos que aquele alguém pague pelos seus atos, pague com a mesma moeda, sinta o peso do que fez. Queremos ardentemente ver a ira de Deus contra esse alguém.
No entanto, quando sou eu quem erro, quando o pecado é meu, quando eu faço algo que não deveria; o meu desejo ardente não é por conhecer a justiça de Deus na minha vida, o que eu quero nesse momento é experimentar da misericórdia de Deus, quero que Ele demonstre compaixão e não derrame sua ira em mim.
É errado querer justiça? Não. É errado querer misericórdia? Não. O problema é quando nossos desejos são completamente desequilibrados e perdemos a capacidade de sentir compaixão pelo outro ou de examinar com sinceridade a nós mesmos.
Quando acompanhamos as histórias do povo judeu no Antigo Testamento, vemos tanto misericórdia quanto justiça, porque para tudo existe um tempo. Deus faz uma aliança com o povo de Israel, esse povo quebra essa aliança repetidamente. É então que primeiro conhecemos misericórdia, afinal, Deus não impõe consequências aos primeiros sinais de desvio da sua lei. Ele demonstra paciência e misericórdia, avisa o povo repetidamente, manda profetas e mensagens e aguarda que esse povo se arrependa e volte aos bons caminhos. O povo, via de regra, não volta e continua praticando idolatria, imoralidade e se esquecendo de Deus. É então que conhecemos a ira de Deus, é então que a justiça vem em forma de consequência e aí não tem mais jeito. O povo volta a ter paz, mas antes terá que passar pelo sofrimento em que suas repetidas escolhas os levaram.
É errado querer justiça quando vejo algo de errado? Não. E, por favor, não estou dizendo que criminosos e assassinos não devem ser presos (mas mesmo eles são seres humanos criados e amados pelo Pai e se apresentarem verdadeiro arrependimento, recebem salvação assim como o ladrão ‘desprezível’ na cruz foi perdoado). Estou dizendo que, com certa frequência, vemos um irmão, um amigo, tomar uma decisão errada e já queremos vingança e justiça, não damos espaço à misericórdia, não queremos saber se ali existe um coração arrependido e contrito, queremos fogo caindo do céu.
É errado querer misericórdia quando eu erro? Não. Porém, meu sentimento é sincero? Eu me arrependi de fato? Que tipo de vida tenho levado? Tenho buscado o reino de Deus, tenho buscado me afastar do que me leva a pecar? Eu quero misericórdia, mas tenho sido teimosa como o povo de Israel tantas vezes foi ou tenho me arrependido e voltado para os braços do Pai com um coração disposto e sincero?
Seus pensamentos e intenções só você e Deus podem examinar. Inclusive, Deus muito melhor que você. Há tempo para justiça e há tempo para misericórdia. Peça ao Pai por sabedoria, para que saibamos qual o momento de cada uma, tanto nas nossas vidas quanto na vida do nosso próximo. Se tem alguém que sabe a melhor forma de agir em cada situação é Ele, o que se assenta no trono eterno.
Mariana Mendes, casada com Leandro, autora de O Relógio de Nina. Membro da IAP do Parque. Filha do Pai e filha de pastor. Apaixonada por livros, por culinária e por observar os detalhes da vida, a fim de enxergar a rotina com novos olhares.
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