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Sem a fé em Deus, é difícil sofrer com propósito

Muitas pessoas que não acreditam justificam sua falta de fé alegando que não pode haver um Deus bom se há tanto sofrimento no mundo.

fonte: Guiame, René Breuel

Atualizado: Quarta-feira, 13 Novembro de 2024 as 1:26

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Viver é sofrer. É sentir-se solitário, perguntar-se sobre o porquê das circunstâncias e ficar com raiva da dor do mundo.

Muitos céticos afirmam que a existência do mal é uma prova da inexistência de Deus

E muitas pessoas que não acreditam justificam sua falta de fé alegando que não pode haver um Deus bom se há tanto sofrimento no mundo. Já na antiguidade, um dos poetas romanos, Lucrécio, concluiu: "Se Deus tivesse projetado o mundo, ele não teria sido tão frágil e defeituoso como o encontramos."

A formulação clássica dessa objeção foi dada pelo filósofo escocês David Hume, que escreveu: "[Deus] está disposto a evitar o mal, mas não é capaz? Então ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo. Ele é capaz e disposto? Então, por que existe o mal?" Ou, como Primo Levi, um sobrevivente dos campos de concentração nazistas, colocou: “Se existe Auschwitz, então não pode haver um Deus.”

Sem fé em Deus, não temos base para considerar o mal “mal”

A primeira coisa a observar é que o mal é um fato que parece contestar Deus, mas que, na verdade, pressupõe o seu caráter, pois nosso senso de justiça e moralidade é um traço de Deus em nós.

Se Deus não existisse, por que deveríamos protestar contra a injustiça? Se não temos nenhum senso de bondade absoluta, por que a violência e a crueldade seriam erradas? Não foi assim que evoluímos, os fortes comendo os fracos? Não haveria problema algum.

Jean-Paul Sartre, um filósofo existencialista francês, afirma que o protesto contra o sofrimento não pode surgir de uma visão de mundo ateísta. “... se Deus não existe, não temos nem atrás nem diante de nós um reino luminoso de valores nem qualquer maneira de justificar qualquer comportamento.” O escritor russo Dostoiévski foi ainda mais sucinto: “Se Deus não existe, então tudo é permitido.”

Um professor de direito da Universidade de Yale, Arthur Leff, escreveu: “Se o mal existe, deve haver um bem absoluto para que possamos julgá-lo como verdadeiramente mau. Com que base, então, o ateu julga o mundo natural como horrivelmente errado, incorreto e injusto? O não-crente em Deus não tem uma boa base para se indignar com a injustiça, que era a razão para se opor a Deus em primeiro lugar.”

Se Deus não existe, por que protestar contra a maneira como o mundo funciona? Temos um profundo desejo de justiça porque fomos criados por um Deus bom. 

Os não-crentes devem explicar a bondade e o senso de justiça que encontramos no mundo

Aqueles que não acreditam em Deus têm o desafio de explicar o mal, e não apenas isso: eles também devem explicar por que temos um senso inato de justiça. Eles têm de explicar a bondade, a beleza, o amor e tudo o mais! Por que este mundo existe em vez de nada? De onde vem tanta dignidade e significado? Por que sabemos que o bem é bom e que o mal não nos deixa indiferentes?

Sem fé em Deus, não temos uma base sólida para chamar o mal de "mal". Tampouco teremos a base para lutar contra a injustiça no mundo, porque com que base você vai dizer à outra pessoa que o que ela está fazendo é errado?

O secularismo torna o sofrimento sem sentido

Em Caminhando com Deus em Meio à Dor e ao Sofrimento, Timothy Keller examina as perspectivas estoicas, budistas, cristãs e baseadas no carma. Surpreendentemente, afirma que nunca houve uma cultura que tenha preparado as pessoas de forma pior para o sofrimento do que nossas sociedades ocidentais modernas.

No passado, as pessoas viam um significado no sofrimento: ele poderia nos purificar, nos fazer crescer ou nos aproximar de Deus. O sofrimento tinha um significado. Mas hoje acreditamos que não há nada além deste mundo. O propósito da vida é ser feliz aqui. Quando você morre, deixa de existir. Mas então o sofrimento não tem sentido. É exatamente o que queremos evitar: vivemos para não sofrer.

“Em todas essas visões de mundo, o sofrimento e o mal (...) podem ser um capítulo importante na história de nossa vida e um estágio crucial para alcançarmos o que mais queremos na vida. Mas na visão estritamente secular, o sofrimento não pode ser um bom capítulo em sua história – apenas uma interrupção... A razão para toda essa ênfase no aqui e agora deste mundo é que o secularismo não tem outra felicidade a oferecer. Se você não consegue encontrá-la aqui, não tem outra esperança... Na visão secular, o sofrimento sempre vence.”

Sem a fé em Deus, é difícil sofrer com propósito. Falta-nos garra e determinação. Ficamos chocados com as dificuldades. Não sabemos o que fazer.

 

René Breuel é um pastor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e Não É fácil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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