
Jogo no Google para ver o que falam do filme “Missão impossível – o acerto final”, com Tom Cruise, e o que vejo, a primeira coisa, senão um diálogo muito bem articulado, engenhoso e sofisticado de inteligência artificial para inteligência artificial. E quando me refiro à inteligência artificial, não estou me referindo apenas à inteligência das máquinas…
O filme poderia representar, num primeiro momento com uma superprodução cinematográfica computadorizada, aquilo que Max Weber chamou de “desencantamento do mundo” (a ciência, uma mecanização da vida, a razão e a lógica atropelando coisas elevadas como a sensibilidade da fé e de valores e a existência do ser). Mas depois vem o esclarecimento de si mesmo. Enfim, a lição não “dá entidade” mas “na entidade”.
Eu queria ser um entrevistador chato que pergunta na saída do cinema o que o filme passou de lição. Chavões como o absurdo da guerra e da busca desenfreada por poder, claro, acredito e torço que seriam inevitáveis. Mas, agora, e o pensamento fraco e o esquecimento do ser? Será que lembrariam de dizer que lembraram da liberdade, regimes de liberdade versus regimes opressores (conflito entre os EUA e Rússia), que a entidade é, acima de uma inteligência artificial, um espírito objetivo que domina a mente humana por poder, que Deus está acima de qualquer decisão humana sobre o destino da uma cidade ou de uma humanidade, que o poder está verdadeiramente com aqueles que não o buscam, ou seja, com os humildes (Tom Cruise, no filme, foi o escolhido para resgatar num submarino afundado e arriscando sua vida uma peça mecânica que se juntaria à outra para impedir o triunfo da entidade de dominar os seres humanos). E, na cena final, saiu com a peça no bolso.
Os entrevistados assistiram ao filme com os olhos da fé e do sentimento, com o coração, ou simplesmente o analisaram como um jogo articulado de cenas e de cores contando com um consagrado ator hollywoodiano para garantir de vez que o que estavam assistindo valia mesmo à pena os quarenta reais investidos?
E cada um seguiu suas vidas como se nada de anormal tivesse acontecido. No filme e na saída do cinema? Tomara que só no filme. Alguma lição mais profunda alguma outra entidade que não a artificial (Deus) deve ter passado, não é possível! Será que é tão impossível assim uma missão tão nobre em nossos dias desencantados e artificiais?
Como diz Max Weber em II lavoro intellettuale come professione, “Já não é preciso recorrer à magia para dominar ou para agradar os espíritos, como faz o selvagem, para o qual existem semelhantes poderes. Isso é suprido pela razão e pelos meios técnicos”.
Deus está nos detalhes, e eles não são cinematográficos. Apreendidos espiritualmente, eles é que dão o colorido e o sabor às produções intelectuais e artísticas.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, membro da Igreja Universal do Reino de Deus e autor de obras jurídicas e dos seguintes livros: Fenomenologia de Jornal, O que não está na mídia está no mundo e Voltaram de Siracusa.
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