Conselho islâmico diz que jihad armada contra Israel é “obrigação” para muçulmanos

A declaração foi emitida por um conselho islâmico sediado no Catar e liderado pelo Sheikh Ali Al-Qaradaghi.

fonte: Guiame, com informações do Jerusalem Post

Atualizado: Terça-feira, 8 Abril de 2025 as 11:10

Sheikh Ali Al-Qaradaghi, presidente da União Internacional de Estudiosos Muçulmanos. (Foto: Wikipedia)
Sheikh Ali Al-Qaradaghi, presidente da União Internacional de Estudiosos Muçulmanos. (Foto: Wikipedia)

A União Internacional de Estudiosos Muçulmanos (IUSM) emitiu uma fatwa ampla, convocando uma "Jihad armada" contra Israel e declarando a normalização dos laços como religiosamente proibida.

Entre os muçulmanos existe o dever religioso de defender o islã através de uma luta que se chama “Jihad” – que para eles é a “Guerra Santa”. 

A fatwa é uma opinião ou decreto religioso emitido por um estudioso islâmico qualificado, conhecido como mufti. Baseada na interpretação da Sharia, que é a lei islâmica, a fatwa pode abordar uma ampla gama de questões.

O pronunciamento, divulgado no site oficial da organização e na conta oficial do X/Twitter de seu presidente, Sheikh Ali Al-Qaradaghi, reflete uma posição teológica significativa adotada por uma entidade islâmica internacional no contexto do atual conflito em Gaza.

Com sede em Doha e presença em Istambul, na Turquia, a IUSM, fundada em 2004 pelo xeque Yousef Al-Qaradawi, afirma representar milhares de acadêmicos religiosos globalmente.

Al-Qaradawi, um clérigo notório e respeitado, liderou o eixo da Irmandade Muçulmana e ganhou destaque por apoiar e promover os atentados suicidas do Hamas contra civis israelenses.

Nesta semana, o "Ijtihad and Fatwa Committee" da União emitiu um edital sobre a chamada "agressão em andamento contra Gaza". A declaração inclui diversas demandas, como um cerco total a Israel "por terra, mar e ar" e a "intervenção militar imediata de países islâmicos" para fortalecer a luta armada palestina em frentes militares, econômicas e diplomáticas.

Diretrizes teológicas

Os estudiosos religiosos mencionaram as estatísticas de baixas do Hamas em Gaza, que supostamente ultrapassam 50.000, classificando a situação como um "genocídio metódico conduzido com apoio explícito dos Estados Unidos, em meio à quietude árabe e à passividade de nações de todo o mundo islâmico".

No âmbito econômico, o conselho reiterou seu apoio a boicotes contra "empresas que apoiam a entidade sionista" e afirmou que muçulmanos abastados devem "contribuir para a jihad com recursos financeiros e equipar militantes".

A diretriz teológica detalha os deveres atribuídos aos muçulmanos com base em sua proximidade ao conflito. Surpreendentemente, a fatwa classifica Israel como "Kafir" (infiel), contrastando com visões islâmicas tradicionais que reconhecem o judaísmo como parte do "Povo do Livro".

A posição do conselho abrange também restrições comerciais, afirmando que é religiosamente proibido fornecer a Israel "petróleo, gás natural e quaisquer produtos que sustentem sua campanha militar", incluindo "alimentos e bebidas enquanto a população de Gaza sofre com a fome".

Entre os aspectos mais ambiciosos da decisão está o apelo para que os países árabes e islâmicos "formem uma coalizão militar unificada para defender os territórios islâmicos", descrito pelo conselho como "uma obrigação urgente e inadiável".

A fatwa aborda questões geopolíticas, convocando as nações com vínculos diplomáticos com Israel a "reavaliar esses acordos e aplicar pressão conforme necessário", além de proibir categoricamente "qualquer forma de normalização com a entidade ocupante sionista".

Reações cautelosas

Apesar da ampla influência e do papel central da IUMS nos movimentos islâmicos, houve reações mais cautelosas ao decreto.

O Dar Al-Ifta do Egito, órgão islâmico consultivo e governamental, argumentou que, segundo a Sharia, aqueles que defendem a Jihad armada devem estar dispostos a participar pessoalmente.

Acrescentou ainda que "convocar para a jihad sem considerar as capacidades da nação e sua realidade política, militar e econômica é irresponsável e contradiz os princípios da lei islâmica".

'Obrigação religiosa'

A Dra. Nesya Shemer, especialista em Sharia e relações judaico-islâmicas, esclareceu ao Jerusalem Post que a fatwa que convoca a Jihad armada contra Israel exemplifica o Fard 'Ayn, uma obrigação religiosa que recai sobre todos os muçulmanos, independentemente de sua localização.

“Isso significa que a IUMS considera a Jihad contra Israel como uma ‘Jihad defensiva’, destinada a repelir inimigos da pátria que deve ser governada pelo Islã”, explicou Shemer, acrescentando que, em sua visão, a Palestina esteve sob domínio islâmico desde o século VII até o mandato britânico e, portanto, deveria ser “recuperada”.

“Isso contrasta com a Jihad ofensiva, considerada como Fard Kifayah, uma obrigação que recai sobre a nação islâmica como um todo, na qual uma força representativa de muçulmanos seria suficiente”, ela esclareceu.

Ao ser questionada sobre o significado da nova fatwa, Shemer destacou que ela segue a linha adotada pela IUMS desde o início da guerra.

“Embora suas implicações imediatas ainda não sejam totalmente compreendidas, cresce o receio de que a fatwa se amplie, transformando-se em uma guerra religiosa global contra os judeus, com um impacto direto na vida das comunidades judaicas ao redor do mundo”, explicou Shemer.

“Além disso, a guerra e as imagens que circulam na mídia podem influenciar a opinião pública nos países fronteiriços de Israel, impactando a estabilidade dos regimes nessas nações”, continuou Shemer.

“No entanto, com todo respeito, nem essas fatwas nem a percepção dos regimes vizinhos devem orientar Israel em sua busca para derrotar o Hamas e seus apoiadores globalmente.”

Shemer concluiu: “Essa fatwa demonstra que o Hamas não é apenas uma pequena organização terrorista operando em Gaza, mas sim uma entidade apoiada por corpos e organizações muçulmanas internacionais que defendem a mesma ideologia. Enfrentar o Hamas significa, na verdade, lidar com essa ideologia islamista, que é internacional e amplamente disseminada no mundo muçulmano.”

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