Crescem conversões ao judaísmo de nordestinos com ascendência judaica

Milhares de nordestinos se converteram ao judaísmo após descobrirem sua descendência judaica por testes de genética.

fonte: Guiame, com informações de BBC News Brasil

Atualizado: Terça-feira, 26 Agosto de 2025 as 5:18

Milhares de nordestinos se converteram ao judaísmo. (Foto: Reprodução/YouTube/BBC News Brasil).
Milhares de nordestinos se converteram ao judaísmo. (Foto: Reprodução/YouTube/BBC News Brasil).

As conversões ao judaísmo cresceram no Nordeste nos últimos anos, segundo um documentário da BBC Brasil, chamado “Os novos judeus do Nordeste: a tribo perdida do sertão”.

Grande parte dos judeus convertidos são ex-evangélicos, que descobriram por testes genéticos que são descendentes dos judeus de origem ibérica – que saíram da Espanha e de Portugal para viver no Brasil com mais liberdade religiosa, no século 15. Durante a Inquisição, esses judeus foram forçados a se converter à fé católica. 

Hoje, vários séculos depois, milhares de seus descendentes estão retornando ao judaísmo — um movimento que acontece principalmente em bairros periféricos e pequenas cidades da região Nordeste do Brasil.

Conhecidos como “bnei anussim” ("os filhos dos forçados"), os novos judeus convertidos fundaram várias sinagogas em regiões onde não havia presença judaica até então.

É o caso da sinagoga Beitel, localizada no bairro Messejana, na periferia de Fortaleza (CE). Antes de 2014, o local era uma igreja evangélica que foi se tornando cada vez mais judaica.

Depois, a congregação passou a seguir o judaísmo messiânico, que adora Jesus como o Messias. Até que em 2018, a igreja abandonou a fé em Cristo e aderiu ao judaísmo ortodoxo.

Hoje, a sinagoga tem 45 membros convertidos à fé judaica e são liderados à distância por um rabino de Israel.

Segundo a BBC Brasil, o movimento de retorno ao judaísmo no Nordeste iniciou nos anos 1960, quando católicos passaram a reivindicar sua ancestralidade judaica e a frequentar sinagogas tradicionais em cidades como Recife e Natal.

Nos últimos anos, a novidade é o surgimento de várias comunidades formadas apenas por judeus convertidos – os “bnei anussim”.

As sinagogas seguem todos os ritos do judaísmo, incluindo orações em hebraico e a circuncisão. Algumas, porém, adaptaram os cantos litúrgicos com melodias de clássicos da música nordestina, como “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, e "Eu só quero um xodó", de Dominguinhos.

Aliá

Há casos de famílias inteiras de judeus convertidos nordestinos que hoje vivem em Israel. Mas a maioria migra sozinha.

As comunidades de judeus convertidos visitadas pela BBC Brasil estimaram que “centenas" de “bnei anussim” brasileiros moram em Israel.

Antonio Fabiano de Oliveira Cavalcante, líder da comunidade judaica ortodoxa de Tibau, afirmou que os “bnei anussim” não filiados a congregações judaicas tradicionais enfrentam entraves para fazer a aliá e ingressar em programas de estudo para judeus em Israel.

4 milhões de brasileiros com origem judaica

Ainda não há dados oficiais sobre a quantidade de convertidos ao judaísmo no Brasil. Entretanto, há indícios de que o número esteja aumentando. 

Uma pesquisa do Samuel Neamen Institute, realizada em 2021, estimou que 30 mil brasileiros se converteram ao judaísmo nos últimos anos.

Segundo a pesquisa, há ainda 4 milhões de brasileiros com origem judaica que poderiam se enquadrar na categoria “bnei anussim”, mas não são convertidos.

Conforme Jacques Ribemboim, autor de livros sobre a história do judaísmo no Nordeste, o número de nordestinos com ancestralidade judaica pode ser ainda maior e superar até a população de Israel, que hoje possui 10 milhões de habitantes.

"Há no Nordeste brasileiro um potencial para algumas dezenas de milhões de descendentes de judeus que podem eventualmente voltar a se identificar com o judaísmo e a vontade de retomar a prática judaica. É um fenômeno extraordinário”, afirmou Jacques.

Vários “bnei anussim” entrevistados no documentário da BBC foram convertidos ao judaísmo por Chaim Amsalem, um rabino que atuou como político em Israel durante anos.

Ele ficou conhecido por defender um processo de conversão mais simples ao judaísmo. "Somos 20 milhões [de judeus] no mundo hoje, mas podemos nos tornar 200 milhões. Se você é um povo grande, você é um povo mais forte”, declarou ele, à BBC Brasil.

E acrescentou: “Toda pessoa que pense que tem origem judaica pode entrar no judaísmo. Hoje, para mim, essa é a missão mais importante que pode existir no mundo judaico”.

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