Qual o papel da religião no cenário atual? Como adeptos de diferentes religiões podem conviver em harmonia e dialogar sem abrir espaço à hostilidade? Por que é importante reconhecer e reforçar a questão da fé no contexto pós-moderno? Como dar voz à religião nas esferas pública e política? De que maneira os cristãos podem exercer influência positiva nesse cenário por vez tão conturbado?
Para responder a tais questões, Miroslav Volf, renomado teólogo croata e diretor do Centro de Fé e Cultura da Universidade de Yale, escreveu “Uma fé pública: como o cristão pode contribuir para o bem comum”. O livro chega às livrarias brasileiras pela Editora Mundo Cristão.
Na obra, Miroslav conduz o leitor a um rico debate sobre as implicações da tolerância e da liberdade religiosa no ambiente polarizado de nossos dias, e aponta para a busca de relevância e diálogo no cenário excessivamente conturbado das sociedades contemporâneas. De acordo com a visão de Volf, a única maneira de lidar com o problema de conflitos violentos entre diferentes perspectivas de vida — religiosas ou seculares — é concentrar-se nos recursos internos de cada perspectiva para o fomento da cultura da paz.
Falando como cristão, o autor menciona que o próprio âmago da fé cristã é pautado pelo amor. Cabe aos seguidores de Cristo, portanto, amar as pessoas. “Amor não significa concordância e aprovação”, ressalta Volf, “significa benevolência e beneficência, em que pesem discordâncias e desaprovações.” É com essa postura amorosa que o cristão poderá participar do debate público em prol do bem comum.
O modo como os cristãos trabalham visando à prosperidade humana não é impondo aos outros a sua visão de prosperidade humana e bem comum, mas sendo testemunhas de Cristo, que personifica a vida boa.
Em “Uma fé pública”, Miroslav Volf elucida a questão do crescente secularismo — posição que advoga a separação entre governo e religião — cada vez mais presente no ambiente político. O histórico do secularismo, lembra o autor, não é melhor que o das religiões. “A maior parte da violência perpetrada no século 20, o mais violento século da história da humanidade, foi cometida em nome de causas seculares.”
O objetivo das afirmações de Volf, porém, não é condenar o secularismo, mas lembrar que, ao excluir a religião da tomada de decisões e ao impor separação total entre igreja e estado, o secularismo acaba sendo a perspectiva geral favorecida, o que é claramente uma injustiça contra quem adota uma religião. Num momento em que a fé ganha cada vez mais relevância no debate social entre os brasileiros, o lançamento de “Uma Fé Pública” vem para contribuir com argumentos bem embasados de um influente autor. Leitura que beneficiará não apenas cristãos, mas também agentes públicos, acadêmicos e adeptos de outras religiões que se interessam pela relação entre fé e esfera pública.