Há quatro anos, mais de 140 mil cristãos enfrentavam um êxodo em massa enquanto militantes do grupo terrorista Estado Islâmico invadiam as planícies de Nínive, no Iraque. Milhares de casas, igrejas e até mesmo locais sagrados como o túmulo de Jonas foram destruídos.
Por mais de 2000 anos, Nínive foi a pátria histórica dos cristãos caldeus, siríacos e assírios. Tudo o que foi construído em milênios foi vandalizado em poucos dias. “Quando o EI varreu o norte do Iraque, eles dizimaram a população cristã. Eles deram às pessoas a opção de se converter, morrer ou em alguns casos fugir”, disse Andrew Walther, da organização Cavaleiros de Colombo, à CBN News.
Nos dois anos seguintes, o grupo terrorista destruiu mais de 13 mil casas, 263 propriedades das igrejas e 140 edifícios públicos. “O objetivo do EI também era explodir monumentos, igrejas ou coisas que indicassem uma crença religiosa que estavam em desacordo com o Estado Islâmico”, acrescentou Walther.
Embora o Estado Islâmico tenha perdido espaço na região, as cicatrizes do terrorismo ainda estão nas cidades e aldeias de Nínive. Algumas cidades ainda zonas de guerra onde a população original não pode voltar e outras ainda têm minas terrestres que oferecem riscos.
Refugiados cristãos fugindo do Iraque após domínio do Estado Islâmico, em 2014. (Foto: Stivan Shany)
Apesar dos grandes desafios, os cristãos iraquianos estão voltando aos poucos para suas comunidades com a ajuda de grupos de ajuda humanitária. Os Cavaleiros de Colombo investiram cerca de US$ 2 milhões para levar centenas de famílias de volta e reconstruir seus lares.
“A igreja é a única organização que trabalha com os cristãos do Iraque e outras minorias para recuperar suas casas”, disse o padre Salar Kajo, que trabalha com o Comitê de Reconstrução de Nínive (NRC, na sigla em inglês). “Se essas famílias não voltarem para suas casas, o cristianismo desaparecerá do Iraque.”
A NRC estima que cerca de 8.815 famílias cristãs iraquianas retornaram às planícies de Nínive desde que o Estado Islâmico foi derrotado, mas a segurança ainda é um item preocupante.A ONU estima que entre 20 mil e 30 mil combatentes do EI ainda estão operando no Iraque e na Síria.
Segundo especialistas, o grupo terrorista está posicionado para capacitar seu califado e ressurgir. “O EI tem mais capacidade do que a Al-Qaeda no Iraque entre 2006 e 2007, quando operava como o Estado Islâmico do Iraque”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Robertson. “O EI continua sendo uma ameaça”.
Um homem caldeu trabalhando na reconstrução com um jovem vizinho em Karemlash, no Iraque. (Foto: Martyn Aim)
Força do perdão
Embora os extremistas do EI tenham tido a intenção de exterminar os cristãos das planícies de Nínive, aqueles que estão voltando para casa estão prontos para perdoar e seguir em frente.
“Algo que os cristãos de lá me dizem sempre é que o perdão é um grande elemento [do retorno]”, disse Walther. “A ideia de que a comunidade cristã pode perdoar é uma espécie de fermento como resultado disso, é algo que eles levam muito a sério”.
Esse mesmo sentimento é ecoado pelo padre Salar Kajo: “Em nome de Jesus Cristo tudo é possível. O povo sofreu muito durante três anos como refugiado no Curdistão iraquiano, enfrentou muitas dificuldades. Mas eles têm uma fé que lhes permitiu superar tudo”, destacou. “Essa fé também possibilita que eles realmente vivam esse perdão”.