Cristãos classificam acordo do Vaticano com comunismo na China como "traição"

O acordo vem em um momento em que o Partido Comunista da China está violando cada vez mais a liberdade religiosa no país.

fonte: Guiame, com informações do Christian Post

Atualizado: Quarta-feira, 26 Setembro de 2018 as 9:19

Cristãos participam de culto na China. (Foto: Greg Baker/AFP)
Cristãos participam de culto na China. (Foto: Greg Baker/AFP)

Grupos cristãos de direitos humanos e alguns bispos católicos têm expressado suas preocupações com a recente decisão do Vaticano de permitir que o governo chinês selecione candidatos bispos em um momento em que o regime comunista está reprimindo a liberdade religiosa no país.

Em paralelo a um 'juramento de lealdade' da Igreja Católica da China ao Partido Comunista do país, o Vaticano também firmou um acordo provisório com o governo chinês em Pequim para encerrar sete décadas de conflito sobre quem deveria nomear bispos católicos no país comunista. Vários cristãos — ativistas de direitos humanos, católicos e protestantes — argumentaram que o Vaticano aparentemente legitimou a China em um momento em que tem um longo histórico de opressão contra grupos religiosos.

Enquanto certos detalhes do acordo permanecem desconhecidos, os relatórios do tratado indicam que as autoridades chinesas enviarão um candidato a bispo ao Vaticano e o papa terá a palavra final sobre o assunto.

O acordo vem em um momento em que o governo secularista chinês tomou medidas extremas para limitar a liberdade religiosa de cristãos e outros grupos religiosos no país, seja através da demolição de centenas de igrejas, obrigando os cristãos a assinar documentos para renunciar sua fé ou até mesmo sua campanha para derrubar cruzes dos templos e queimar Bíblias.

Reação

A organização 'Christian Solidarity Worldwide', uma ONG de vigilância de perseguição credenciada pelas Nações Unidas, está entre os grupos de direitos humanos que sinalizaram suas preocupações sobre o acordo.

"A CSW está profundamente preocupada com o momento deste acordo provisório entre o governo chinês e o Vaticano", disse o líder da equipe da Ásia Oriental, Benedict Rogers, em um comunicado. "Embora entendamos algumas das motivações por trás do esforço do Vaticano para um acordo, há preocupações significativas sobre as implicações para a liberdade de religião ou crença na China".

Rogers afirmou que, se o acordo é para ter "valor real", o próprio acordo deve ter liberdade de religião ou crença como um dos seus componentes centrais.

"Reiteramos nosso apelo às autoridades chinesas para que liberem todos os católicos na China, detidos em qualquer forma de prisão, e todos os outros detidos em conexão com suas atividades religiosas pacíficas", concluiu Rogers.

A China classifica-se como o 43º pior país do mundo no que diz respeito à perseguição cristã, de acordo com a Lista Internacional de vigilância sobre a perseguição religiosa, atualizada anualmente pela Portas Abertas (EUA).

A CSW alerta que desde a aprovação do Regulamento de Assuntos Religiosos da China em fevereiro, as autoridades demoliram pelo menos 20 igrejas e removeram ou destruíram pelo menos 100 cruzes dos templos. Além disso, houve centenas de detenções apenas na província de Henan.

A organização observa que a severa repressão à liberdade religiosa é parte de uma campanha maior de "Sinicização" (adequação aos padrões comunistas), através da qual o governo está substituindo os símbolos religiosos por bandeiras do partido comunista, slogans ou imagens do presidente chinês Xi Jinping.

No dia 17 de julho, a Igreja Católica Liangwang foi demolida pelas autoridades sem qualquer aviso.

Traição

A China Aid, outro grupo de vigilância de perseguição ao cristianismo, afirma que antes do acordo, o clero que era leal ao Vaticano e os ensinamentos da Igreja Católica liderariam suas próprias congregações — em grande parte clandestinas na China. Os bispos que serviram as igrejas não oficiais foram alvos de uma imposição do governo para que os bispos indicados pelo Partido Comunista pudessem assumir o controle de suas igrejas.

"Embora entendamos a ansiedade do Vaticano em buscar mais legitimidade aos olhos do Partido Comunista Chinês, este acordo não é mais do que uma traição de milhões de cristãos perseguidos sofridos na China e na Igreja em nível global", disse o presidente da China Aid, Bob Fu, em um comunicado.

"Isso poderia ser uma repetição do que aconteceu na Alemanha de Hitler, na década de 1940, quando a igreja estatal alemã consentiu com a perseguição e o genocídio de milhões de judeus. Ironicamente, como o Vaticano pode responder com a consciência tranquila a este acordo pacífico, enquanto o Partido Comunista acaba de lançar uma guerra velada, prometendo acabar com católicos e protestantes clandestinos na China?".

 

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