Dois evangelistas foram detidos e passaram o Natal na prisão depois de serem acusados falsamente de blasfêmia, no leste de Uganda.
Joseph Omadi e Isaac Napakol foram presos em 21 de novembro, no último dia de uma campanha evangelística, que durou três dias, na cidade de Soroti.
“Os cristãos pregaram na rua por cerca de 30 minutos quando foram surpreendidos por uma multidão de muçulmanos”, disse o pastor Robert Omodingi, que conseguiu fugir na ocasião, ao Morning Star News.
E continuou: “Pensamos que talvez eles tivessem vindo para ouvir a Palavra de Deus, mas para nossa surpresa, eles simplesmente agarraram meus colegas e começaram a agredi-los, e logo a polícia veio e os prendeu”.
Em 23 de novembro, a polícia os acusou de supostamente “ferir os sentimentos religiosos” da comunidade muçulmana, e um tribunal local os enviou para a prisão para aguardar julgamento.
Os muçulmanos da região ficaram incomodados porque os evangelistas estavam usando o Alcorão em suas ministrações.
Segundo o pastor Robert, o líder distrital Sheikh Ramadhan Ibwakit enviou uma mensagem para os cristão para que eles parassem de usar o Alcorão, durante o segundo dia da campanha evangelística.
“Ele disse às autoridades: ‘Nós, como muçulmanos, trabalhamos lado a lado para prender esses infiéis depois de avisá-los para parar de usar nosso Alcorão e outra literatura islâmica, mas eles se recusaram. Eles estavam citando o Alcorão enquanto falavam com nossos muçulmanos nas ruas de Soroti. Isso é inaceitável em nossa fé’”, contou o pastor.
Preocupação da igreja local
Em uma audiência na última quarta-feira (20), fontes locais informaram que Joseph estava mancando devido a uma lesão na perna esquerda.
“Quando os evangelistas compareceram ao tribunal no dia 20 de dezembro, eles perderam muito peso e estavam muito tristes. Possivelmente, eles podem ter sido submetidos a algum tipo de tortura”, disse outro pastor que não quis se identificar.
De acordo com ele, o tribunal agendou a próxima audiência para 10 de janeiro: “Estamos preocupados com a deterioração da aparência física de nossos dois evangelistas, e estamos pedindo que o tribunal lide com o caso com justiça”.
O presidente das igrejas em Soroti mobilizou membros para orar e jejuar pelos evangelistas detidos.
“Temos visto muçulmanos em suas cruzadas ao ar livre usando nossas Bíblias. Mesmo assim, a igreja nunca os acusou em nenhum tribunal em Uganda”, declarou ele.
Lei de blasfêmia
Segundo o Morning Star News, a lei de blasfêmia de Uganda foi criticada como “constitucionalmente inválida por violar a liberdade de expressão e por imprecisão que viola o princípio fundamental da legalidade”.
O advogado Nimrod Muhumuza afirmou, em uma edição de 2019 da revista AfricLaw, que “o destino de um potencial suspeito depende dos sentimentos e sensibilidades de outro indivíduo”. Para ele, “leis vagas” como esta podem prender inocentes por não fornecer um fundamento justo.