“Genocídio”: 85 cristãos são mortos em uma semana de ataques na Nigéria

Os ataques foram coordenados por extremistas Fulani no estado de Benue, centro da Nigéria.

fonte: Guiame, com informações de ICC

Atualizado: Terça-feira, 3 Junho de 2025 as 10:16

Imagem Ilustrativa. (Foto: Reprodução/Unsplash/Ajigah Harrison)
Imagem Ilustrativa. (Foto: Reprodução/Unsplash/Ajigah Harrison)

No período de uma semana, cerca de 85 cristãos foram mortos em uma onda de ataques coordenados no estado de Benue, centro da Nigéria. Enquanto as autoridades buscam solucionar os crimes, a insegurança continua a aumentar na região do Cinturão Médio

No último domingo (01), grupos armados atacaram comunidades nos condados de Gwer West e Apa, matando pelo menos 43 pessoas. 

Autoridades e moradores locais descreveram os agressores como extremistas Fulani, e informaram que eles teriam chegado em um comboio e atacado Tse Antswam, próximo à cidade de Naka, e Edikwu-Ankpali, em Apa, por volta das 19h. 

Conforme o International Christian Concern (ICC), dias antes, ataques semelhantes em várias aldeias de Gwer West resultaram em 42 mortes e no deslocamento de centenas de moradores. 

As comunidades atacadas estão localizadas no Cinturão Médio da Nigéria, uma região conhecida pela disputa por terra, água e representação política entre agricultores predominantemente cristãs e muçulmanos, incluindo os Fulani

‘As pessoas foram abandonadas’

Em Tse Antswam, nas proximidades da escola primária da Autoridade de Educação do Governo Local (LGEA) e de um projeto de barragem federal, 17 corpos foram encontrados após a operação. Moradores que perderam suas casas buscaram refúgio na escola, onde recebem apoio de segurança oferecido por vigilantes locais e policiais.

Patrick Modoom, um líder comunitário local, relatou que 14 dos 15 distritos políticos em Gwer West foram atacados em 2024.  

“O ataque aconteceu perto de um posto de controle militar, mas não houve resposta dos soldados. As pessoas foram abandonadas”, disse ele ao ICC.

De acordo com Abu Umoru, membro da Assembleia Legislativa do Estado de Benue, em Apa, 16 pessoas foram confirmadas mortas nas comunidades de Edikwu e Ankpali. Umoru também informou que vários moradores continuam desaparecidos e membros da comunidade estão realizando buscas para identificar o número total de vítimas. 

A violência em Benue ocorreu apenas um dia após o sequestro de 14 mulheres que continuam desaparecidas. 

Embora a maioria dos Fulani viva de forma pacífica em toda a Nigéria, algumas facções formaram milícias armadas que atacam comunidades cristãs, especialmente na região do Cinturão Médio, onde conflitos por terras e rotas de pastagem têm contribuído para o aumento da violência. 

Essas milícias atuam de maneira independente, sem ligação direta com a população Fulani em geral, e atuam fora do controle dos líderes tradicionais.

Aumento da perseguição local

Desde maio de 2023, pelo menos 10.217 nigerianos foram mortos em ondas de violência em várias partes do país, de acordo com dados reunidos por organizações da sociedade civil e da imprensa.

Segundo a Anistia Internacional Nigéria, mais de 6.896 dessas mortes ocorreram no estado de Benue, enquanto o estado de Plateau registrou cerca de 2.630 vítimas.

O mesmo relatório revela que 672 aldeias foram saqueadas apenas nos estados de Benue, Plateau e Kaduna. Muitas dessas comunidades eram assentamentos agrícolas de maioria cristã.

O governador do estado de Plateau, Caleb Mutfwang, classificou os ataques como um "genocídio".

A crise humanitária provocada pela violência continua se intensificando. Milhares de pessoas deslocadas estão refugiadas em escolas, igrejas e áreas abertas, enfrentando escassez de água potável, alimentos e atendimento médico.

Apesar da gravidade da situação, a ajuda humanitária permanece limitada, e os provedores locais relatam estar sobrecarregados.

Em uma carta endereçada ao governador de Benue, Rev. Fr. Hyacinth Alia, o grupo Benue Concern Youths expressou a crescente frustração das comunidades afetadas.

“Vidas inocentes foram perdidas mais uma vez. Confiamos em vocês em busca de liderança e esperança”, informou o porta-voz do grupo, Unaji Pax Romana.

As regiões mais atingidas pelos ataques recentes incluem os condados de Gwer West, Guma, Logo, Agatu e Apa, áreas que têm sido alvos recorrentes nos últimos cinco anos. A cidade de Naka, antes considerada um local seguro, agora está entre as mais afetadas.

Até o momento, nenhuma prisão foi registrada em relação aos ataques, e as investigações sobre os autores e suas ligações ainda estão em andamento.

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