Pastor é interrogado após dizer que Deus pode ajudar a resolver os problemas de Cuba

A repressão religiosa em Cuba persiste. Em 2024, a CSW registrou 624 violações, incluindo detenções arbitrárias e ameaças a líderes.

fonte: Guiame, com informações do Baptist Press

Atualizado: Terça-feira, 3 Junho de 2025 as 11:33

De acordo com a CSW, o apoio da comunidade internacional é crucial neste momento. (Foto ilustrativa: IMB)
De acordo com a CSW, o apoio da comunidade internacional é crucial neste momento. (Foto ilustrativa: IMB)

Um pastor batista local pediu orações por Cuba nas redes sociais. Pouco depois, ele foi interrogado pela polícia por declarar que a Igreja poderia solucionar os problemas do país, enquanto a visão das autoridades é defender que apenas a “só a Revolução e seus sistemas políticos podem resolver os problemas do povo”.

O grupo de defesa religiosa Christian Solidarity Worldwide (CSW) afirmou em seu relatório anual, "Sem trégua: a supressão sistemática da liberdade de religião ou crença em Cuba", que esse tipo de assédio é indicativo da perseguição a protestantes, católicos e outros grupos religiosos no país até 2024.

O relatório divulgado em 29 de maio registra 624 casos distintos de perseguição religiosa, totalizando 1.894 violações da liberdade de religião ou crença.

Entre as práticas documentadas estão detenções arbitrárias, vigilância invasiva, interrogatórios, ameaças e assédio a líderes religiosos. Além disso, há relatos de abuso físico e verbal contra crianças em idade escolar devido às suas crenças religiosas.

Assédio a pastor

O pastor Orlando de la Fuente Lovaina, da Primeira Igreja Batista Nuevo Pacto, sofreu assédio em 23 de março após promover orações por Cuba nas redes sociais.

Dois agentes governamentais não identificados o levaram a uma delegacia de polícia, onde foi acusado de "usar o púlpito para alegar que havia problemas em Cuba que a Igreja pode resolver, quando somente a Revolução e seus sistemas políticos podem resolver os problemas do povo", conforme relatado pela CSW.

Ao afirmar sua convicção de que "Deus, por meio da Igreja, pode ajudar a trazer soluções para as dificuldades que o país enfrenta", Lovaina foi informado de que 'pessoas religiosas' não podem usar símbolos nacionais, reservados exclusivamente para revolucionários.

As autoridades consideraram a posição do pastor uma mensagem de que a Revolução não seria capaz de resolver os problemas do povo.

O regime comunista então ameaçou apresentá-lo a acusações criminais e tomar medidas contra sua família caso sua pregação encorajasse o "divisionismo ideológico". Além disso, emitiram uma "Acta de Advertencia" – ou advertência – que Lovaina se recusou a assinar.

A Primeira Igreja Batista Nuevo Pacto, na cidade de Ciego de Ávila, é uma instituição legalmente reconhecida e registrada, sendo também membro da Convenção Batista do Leste de Cuba.

A CSW identificou que o assédio a líderes religiosos continua sendo a forma de perseguição mais recorrente, que se mantém como uma tendência dos anos anteriores.

As práticas incluem telefonemas anônimos, interrogatórios, multas e convocações frequentes para comparecimento diante de autoridades policiais ou em delegacias de segurança estaduais.

Além disso, quando grupos paramilitares ou "supostos civis" – conforme descrito pela CSW – cometeram ataques violentos contra líderes religiosos, o "governo não tomou nenhuma medida para investigar ou impedir" tais crimes.

Apoio da comunidade internacional

A repressão cubana à liberdade religiosa, que se intensificou em 2021, afetou Testemunhas de Jeová, grupos afro-cubanos e diversas associações, tanto registradas quanto não registradas, conforme apontado pela CSW no relatório, que inclui documentação de primeira mão de moradores cubanos.

A organização também destacou que as violações das Regras Nelson Mandela continuam, com o governo negando sistematicamente o direito de presos políticos a visitas religiosas e ao acesso a materiais religiosos.

"A CSW continua profundamente inspirada por aqueles em Cuba que seguem se levantando e se manifestando em defesa da liberdade religiosa e de outros direitos humanos fundamentais, muitas vezes correndo grandes riscos para sua própria liberdade e bem-estar", declarou Anna Lee Stangl, Diretora de Advocacy da CSW, ao divulgar o relatório.

"Estamos em solidariedade com essas pessoas e com todos que foram forçados ao exílio devido à sua religião ou crença, ou à sua pacífica defesa dos direitos humanos, e instamos a comunidade internacional a fazer mais para responsabilizar o governo cubano por sua severa e contínua repressão ao povo cubano."

De acordo com a CSW, o apoio da comunidade internacional é crucial neste momento.

"Agora, é ainda mais crucial que os governos ao redor do mundo, especialmente os amigos e vizinhos de Cuba na América Latina, expressem de forma enfática suas preocupações com as constantes violações dos direitos humanos no país, incluindo a liberdade de religião ou crença, e busquem maneiras de apoiar a sociedade civil independente em Cuba, incluindo os grupos religiosos", afirmou a CSW em seu relatório.

"Em última instância, o futuro de Cuba pertence ao seu povo; aqueles ao redor do mundo que acreditam nos princípios da democracia e dos direitos humanos fundamentais devem apoiar os cubanos em sua busca pacífica por mudanças políticas e sociais."

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