Mais de 100 famílias cristãs sofrem violência para negar Jesus em Bangladesh

Segundo a organização Portas Abertas, há outros 36 casos verificados de ataques diretos a cristãos e suas propriedades.

fonte: Guiame, com informações da Portas Abertas

Atualizado: Quarta-feira, 6 Agosto de 2025 as 8:54

Casa de família cristã foi destruída pela violência que se seguiu à queda do governo em 2024. (Foto: Portas Abertas)
Casa de família cristã foi destruída pela violência que se seguiu à queda do governo em 2024. (Foto: Portas Abertas)

Desde a queda do governo da primeira-ministra Sheikh Hasina em agosto de 2024, Bangladesh mergulhou em instabilidade política e religiosa. Essa crise abriu espaço para uma onda de violência contra minorias religiosas, especialmente cristãos.

Segundo a Portas Abertas no Reino Unido, há registro de mais de 100 famílias pressionadas a renunciar à sua fé.

O caso de Amin*, que sobreviveu aos ataques que começaram em 5 de agosto de 2024, ilustra bem o caos no país.

"Por volta das 17h30, um grupo de extremistas destruiu e saqueou minha loja de decoração", disse ele. "Eles também ameaçaram me matar. Fiquei sabendo que o motivo dessa destruição era porque sou um seguidor de Jesus Cristo."

De acordo com parceiros no local da organização PA, há outros 36 casos verificados de ataques diretos a cristãos e suas propriedades.

Desde então, muitos cristãos foram forçados a se esconder por medo de perder suas vidas, enquanto os oponentes intensificavam a retórica contra eles.

“Alguns líderes muçulmanos estão retratando os cristãos como inimigos e promovendo a ideia de estabelecer um estado 100% islâmico”, diz Rajon*, um parceiro da Portas Abertas em Bangladesh.

“Essa agenda inclui converter cristãos de volta ao islamismo e atacar líderes religiosos e famílias para incutir medo e pressioná-los a renunciar à sua fé.”

“Alguns muçulmanos espalham intencionalmente falsidades sobre o cristianismo, levando a uma percepção distorcida da religião e fomentando a animosidade em relação aos seus seguidores.”

Instabilidade e injustiça

A prolongada instabilidade desses meses criou um ambiente propício para a ascensão de grupos extremistas. Nesse clima volátil, as minorias religiosas – cristãos, hindus e budistas – enfrentam uma vulnerabilidade ainda mais acentuada, tornando-se alvos fáceis em meio ao caos político e social.

Grupos islâmicos radicais, como Hefazat-e-Islam e Hizb ut-Tahrir, expandiram sua presença e poder. Há relatos de violência coletiva, conversões forçadas, ataques a locais de culto e vandalismo. Além disso, algumas dessas facções pressionam por legislações mais severas contra a blasfêmia, incluindo punições extremas.

Os convertidos do islamismo e membros de comunidades tribais – especialmente do grupo étnico cristão Bawm – nas regiões rurais do norte e oeste de Bangladesh figuram entre os mais atingidos pela violência.

Segundo parceiros da Portas Abertas, os ataques ocorrem impunemente: os agressores não são detidos, e a justiça permanece ausente.

“A falta de justiça e responsabilização dos perpetradores da perseguição agrava ainda mais a situação”, diz Rajon.

Futuro incerto

As eleições previstas para ocorrer entre dezembro de 2025 e junho de 2026 têm o potencial de redefinir a realidade dos cristãos em Bangladesh, seja intensificando os riscos ou abrindo caminhos para maior proteção e liberdade religiosa.

“Se partidos políticos de base religiosa islâmica assumirem o poder, acredita-se que a situação provavelmente se deteriorará. Se partidos políticos liberais assumirem o poder, há possibilidade de melhora, embora nada seja certo”, diz Rajon.

Bangladesh ocupa o 24º lugar na Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas, um ranking anual que destaca os 50 países onde os cristãos enfrentam os níveis mais intensos de perseguição.

Embora o islamismo seja a religião oficial, a constituição do país assegura, em teoria, igualdade de direitos e liberdade religiosa para hindus, cristãos, budistas e outras minorias.

No entanto, grupos de pressão vêm propondo mudanças constitucionais, e muitos cristãos temem que tais reformas resultem em uma erosão ainda maior das liberdades religiosas já fragilizadas.

 

* Nomes alterados por motivos de segurança

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