
Grupos militantes islâmicos ampliaram sua atuação na África, provocando mais que o dobro de mortes relacionadas à violência em áreas específicas do continente, segundo análise do Centro Africano de Estudos Estratégicos (ACSS).
O estudo foi divulgado em meio a um ataque brutal contra cristãos na cidade de Komanda, no leste da República Democrática do Congo, pelas Forças Democráticas Aliadas, grupo militante vinculado ao ISIS (Estado Islâmico no Iraque e na Síria) e ISIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante).
A organização terrorista reivindicou a autoria do massacre de 43 cristãos dentro da igreja, além de incendiar lojas e casas. Dias antes, também assumiu a responsabilidade por outro atentado, ocorrido no início de julho, que deixou 66 mortos na província de Ituri, próxima à fronteira com Uganda.
Ao longo do ano encerrado em 30 de junho, dez grupos militantes islâmicos foram responsáveis pela morte de 22.307 pessoas – em sua maioria cristãos – nas regiões da África Ocidental, Oriental e Central.
Recentemente, o pastor Franklin Graham denunciou o silêncio do mundo diante do massacre de cristãos na África:
"Enquanto as notícias se concentram em tarifas e outras coisas, o mundo está estranhamente silencioso sobre o massacre de cristãos na República Democrática do Congo (RDC) por jihadistas muçulmanos", escreveu Graham nas redes sociais.
Violência letal
A análise revela que, desde 2023, os grupos intensificaram o uso de violência letal, resultando em um aumento de 60% nas mortes em comparação com o período de 2020 a 2022.
“Quase metade das mortes (10.685) no ano passado ocorreram no Sahel”, uma vasta região que abrange 10 países, como Mali, Chade, Nigéria, Burkina Faso e Camarões.
“Juntamente com a Bacia do Lago Chade, essas três regiões (incluindo a Somália) são responsáveis por 99% das mortes relacionadas a militantes islâmicos na África no último ano”, afirmou o estudo, que também mapeou como os grupos militantes expandiram seu domínio territorial no continente.
“Em toda a África, estima-se que 950.000 quilômetros quadrados (367.000 milhas quadradas) de territórios povoados estejam fora do controle governamental devido a insurgências de militantes islâmicos. Isso equivale ao tamanho da Tanzânia.”
Militantes islâmicos
Segundo o estudo, grupos militantes islâmicos foram responsáveis por mais de 150.000 mortes na África ao longo da última década.
A partir de 2022, o Al Shabaab intensificou sua atuação na Somália, enquanto facções ligadas ao JNIM (Jama'at Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin) ampliaram suas ofensivas no Sahel – ambas as regiões registraram mais de 49.000 mortes cada.
Já os países da Bacia do Lago Chade contabilizaram cerca de 39.000 vítimas no mesmo período.
A instabilidade política no Sahel tem impulsionado a violência militante, elevando a média anual de mortes para 10.500 nos últimos três anos, um aumento de sete vezes em relação a 2019.
“O ritmo e a escala da violência no Sahel são provavelmente ainda maiores do que os relatados, dado que as juntas militares que tomaram o poder no Mali, Burkina Faso e Níger restringiram o acesso da mídia na região, que é a principal fonte de dados sobre o conflito”, afirma o estudo publicado em 28 de julho.
Mídias sociais, drones e inteligência artificial
Com até 7.000 militantes, a rede JNIM é responsável por mais de 80% das mortes registradas no Sahel, especialmente nas regiões norte, central e sul do Mali, além do sul de Burkina Faso, onde atualmente controla mais da metade do território.
Recentemente, os grupos têm ampliado o uso de mídias sociais, drones e inteligência artificial para recrutar novos militantes, difundir propaganda e enfrentar forças militares na Nigéria, Mali e Burkina Faso.
No Mali, o JNIM tem divulgado vídeos alegando abusos das forças de segurança contra membros da comunidade Fulani, buscando se posicionar como “defensor das populações marginalizadas”
Em contrapartida, as forças governamentais acusam essa comunidade de colaborar com os militantes. O estudo atribui cerca de 17.700 mortes de civis às ações das forças estatais e seus aliados.
O avanço dos ataques do Al Shabaab, com base na Somália, provocou 6.224 mortes entre 2024 e 2025. Com uma receita estimada em US$ 200 milhões – oriunda de extorsões, pedágios e pirataria – o grupo rivaliza com a arrecadação interna do país, o que tem impulsionado o recrutamento de combatentes, atualmente estimados entre 7.000 e 12.000.
Um ponto de alerta crescente é a expansão do Estado Islâmico na Somália (EIS), que, segundo as Nações Unidas, passou a funcionar como centro administrativo e financeiro do ISIS em escala global.