Passando por um tempo de dificuldades, o missionário Marcelo Dornelles não olhou apenas para si, mas sempre via o próximo. Apesar de estar doente, com malária, sob ataques intensos provocados pela guerra civil de Angola, ele salvou 20 crianças angolanas de morrerem de fome, em 1993. Ele relata que alimentava as crianças com polenta e as abrigava em sua cabana.
“O que eu via nas ruas era terrível. Dezenas de crianças em pele e osso, morrendo de fome. Eu não podia suportar tanta miséria. As pessoas comiam plantas, solas de sapato, cachorros mortos. Então eu reuni as crianças que encontrei e as levei para minha casa e as alimentava com polenta. Nós não podíamos sair do refúgio, temendo as bombas. Como fugir e para onde levar 20 crianças?”, indagou o missionário que na época trabalhava para a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Angola).
“Comecei a orar e somente Deus nos podia proteger contra os bombardeios e da morte”, relatou Marcelo que teve de viver dois anos sob os estragos da guerra civil.
Mas, isso não era o bastante. Além das crianças que Marcelo salvou, ele criou um projeto chamado Lares Substitutos, que ajuda mais de 200 crianças que são resgatadas da miséria e que levadas para os lares. Calmo e simples, o líder detém uma personalidade de coração humilde.
O brasileiro dedica sua vida ao serviço humanitário desde seus 21 anos. O tempo trouxe as rugas, os fios brancos, mas também anos de árduo trabalho sob bombardeiros, sol intenso, frio, chuva. Se algum dos colegas necessita de algum favor, no momento, ele é o primeiro em detectá-lo e oferece ajuda imediata, o que o torna um líder querido pelos seus subordinados.
“Em 1990, senti uma insatisfação muito grande, a despeito de ter uma vida confortável. Quando vi as cenas, na televisão, de pessoas morrendo de fome na Etiópia e na Somália, onde havia guerra naquele tempo, senti o desejo de ajudar as pessoas desses países. Eu sabia que o chamado vinha de Deus”, relata Marcelo.
Seu primeiro trabalho como missionário foi em setembro de 1990, quando viajou do Brasil para Moçambique, no término da guerra fria, e onde um milhão de pessoas morreram de fome e cinco milhões de civis foram deslocados. “Quando cheguei ao meu destino, vi que a situação era mais complicada do que eu imaginara, mas não podia voltar atrás, pois a necessidade de ajuda era muita”, relembra.
Após oito meses de missões em Moçambique, seu desejo de prestar ajuda humanitária somente aumentava. Sua mãe, que vivia no Brasil, estava com problemas de saúde o que o obrigou a voltar e cuidar dela por um tempo. Marcelo ficou responsável pela coordenação das intervenções humanitárias nas províncias orientais do norte e sul de Luanda (1997-1998) e em Huambo, em 2001, para evitar a duplicação de intervenções humanitárias e maximizar os recursos disponíveis.
Agora, aos 48 anos, Marcelo aceitou um novo desafio, ser diretor da ADRA Curdistão (Iraque). Sua missão é cuidar da distribuição de roupas para as pessoas deslocadas pela guerra no território iraquiano. Mas, em maio deste ano, o missionário brasileiro se tornou um dos principais organizadores do projeto de Atenção Médica Emergencial 24/7 (junto com a Adventist Help), que fica no acampamento de refugiados Hasan Shami U2, na cidade de Mosul.