Um 'desertor' (fugitivo) da Coreia do Norte falou abertamenta sobre a perseguição sofrida por igrejas - como a congregação 'subterrânea' que ele conduziu - e a vida secreta que ele e outros cristãos tinham que levar naquele país regido por um regime totalitário comunista. Ele também revelou que, apesar de serem forçados renunciar à sua fé, muitos crentes que eram mandados para os temidos campos de trabalhos forçados (prisões) ainda se recusam a fazê-lo.
Choi Kwanghyuk, que agora mora em Los Angeles, disse ao 'Christian Post' em uma entrevista por e-mail com a ajuda de um tradutor em parceria com a 'International Christian Concern' na última quinta-feira (5), que a primeira vez que ele ouviu a mensagem do Evangelho foi quando fugiu para a China em busca de comida.
Lá, ele acabou conhecendo um missionário e começou a estudar a Bíblia com ele. Maravilhado com a mensagem do Evangelho, Kwanghyuk começou a compartilhar sobre Jesus com nove de seus amigos e continuou fazendo viagens de ida e volta para a China com a ajuda deste missionário que se tornou seu amigo.
Apesar da severa opressão sobre as religiões na Coreia do Norte - A Missão Portas Abertas classifica o regime norte-coreano como o pior perseguidor dos cristãos em todo o mundo - Choi começou a liderar uma igreja subterrânea em seu país de origem.
"Começamos estudando o livro de Mateus", disse Choi sobre algumas das primeiras reuniões de sua igreja para ler a Bíblia.
"Nosso ponto de encontro foi literalmente subterrâneo. Na Coreia do Norte, nós cavamos buracos no chão para armazenar 'Kimchee' [condimentos típicos da culinária coreana] e batatas durante o inverno. Faz muito frio na Coreia do Norte e se não os enterrarmos estas coisas no subsolo, então tudo congelará. Nós não tem sistema de aquecimento na Coreia do Norte", explicou.
Choi explicou que assim como eles enterravam os alimentos para que eles não congelassem completamente, os cristãos também passaram a usar cavar buracos para se reunirem escondidos.
"Nós estudávamos a Bíblia escondidos em buracos, e líamos os versos com a ajuda de uma lanterna. Como é perigoso cantar em voz alta - pois podem nos descobrir - louvamos sussurrando os hinos".
Choi sublinhou que, devido ao rigoroso controle da informação e vigilância na Coreia do Norte, muitas pessoas lá nem sabem que o cristianismo existe.
"Eu diria que uma em cada 100 pessoas sabe sobre a existência de Deus. Neste caso, é porque os seus bisavós eram cristãos no início de 1900. Se você for pego associando-se a qualquer religião, então o governo da Coreia do Norte irá te enviar para o campo de trabalhos forçados", disse ele.
O 'desertor' norte-coreano observou que algumas pessoas têm permissão para viajar para fora do país, mas quando retornam, eles não podem revelar que aderiram a qualquer confissão de fé - caso o tenham feito no exterior.
Relatos do horror
Houve vários relatos de outros desertores, incluindo um último mês que afirmou que Kim Jong Un mantém escravas sexuais adolescentes, desfruta de um estilo de vida luxuoso e obriga as crianças a assistirem a execuções públicas, enquanto seu povo morre de fome.
Choi revelou que é bem possível que essas histórias sejam verdadeiras.
"Quando eu estava na Coreia do Norte, e isso foi antes de Kim Jong Un se tornar o ditador do regime, Kim Jong Un iniciou a 'revolução monetária'. Ele introduziu um novo sistema de moeda e afirmou que a nova moeda seria muito valiosa. Com 500 moedas norte-coreanas, você poderia comprar comida e roupas ilimitadas", acrescentou. "As pessoas acreditavam em Kim Jong Un, mas na verdade o valor da moeda norte-coreana realmente caiu após a 'revolução monetária'. Muitas pessoas se suicidaram por causa desta revolução".
Quanto aos campos de prisioneiros, para onde o regime envia presos políticos e cristãos, Choi compartilhou que ele mantinha contato com soldados e guardas que trabalhavam lá. Ele revelou o que os guardas lhe falaram sobre alguns cristãos nesses campos.
"Muitas vezes me falaram sobre o quão 'teimosos' são os cristãos. Mesmo que lhes ofereçam a liberdade mediante a renúncia de sua fé em Jesus, eles não aceitam essa proposta. Alguns sentem que viver dentro do campo de trabalhos forçados é melhor do que sair de lá, porque acreditam que seria difícil para eles se readaptarem à sociedade externa", contou.