
Em uma crescente onda de violência, entre 100 e 200 pessoas, a maioria cristãos, foram mortos por jihadistas Fulani no estado de Benue, na Nigéria, conforme relatado por diversas fontes.
Jihadistas fortemente armados invadiram Yelwata, uma comunidade agrícola no município de Guma, entre sexta-feira (13) e sábado (14). Eles incendiaram casas e massacraram os moradores, em sua maioria cristãos.
Situada a menos de oito quilômetros ao norte da capital do estado, Makurdi, Yelwata é uma vila agrícola com 97% de católicos e 3% de pessoas de outras denominações.
A comunidade também acolhe pessoas deslocadas internamente (IDPs) que fugiram de ataques anteriores de jihadistas Fulani em cidades vizinhas.
Duas horas de ataque
Segundo Tersoo Kula, porta-voz do gabinete do governador do estado, o ataque a Yelwata durou aproximadamente duas horas e resultou na destruição de várias casas por incêndios.
Ele acrescentou que autoridades governamentais e policiais que visitaram a vila confirmaram um número menor de vítimas, estimado em 45 mortos.
No entanto, a Anistia Internacional afirmou que pelo menos 100 pessoas foram mortas, enquanto a Truth Nigeria – uma organização de mídia online registrada nos EUA que documenta a perseguição de cristãos na Nigéria – estima que o número de vítimas seja superior a 200.
Padre Moses Aondover Iorapuu, Vigário Geral Pastoral, Diretor de Comunicações e Pároco da Paróquia do Espírito Santo em Makurdi, também confirmou o número mais alto de vítimas.
“O recente ataque a Yelewata, no estado de Benue, que deixou mais de 200 mortos ou queimados irreconhecíveis, é um lembrete sombrio das lutas diárias enfrentadas por muitos cidadãos de Benue”, declarou.
“Esta tragédia ocorreu em 13 de junho de 2025, um dia após o presidente Bola Tinubu renovar seu compromisso com a transformação da Nigéria e a proteção das vidas e propriedades de seus cidadãos. O contraste gritante entre as palavras e a realidade é chocante”, escreve Iorapuu no jornal Catholic Star.
Número de vítimas pode aumentar
“Muitas pessoas ainda estão desaparecidas, além de dezenas de feridos e sem atendimento médico adequado. Muitas famílias foram trancadas e queimadas dentro de seus quartos. Muitos corpos foram queimados até ficarem irreconhecíveis”, disse a Anistia Internacional no X.
The Nigerian authorities must immediately end the almost daily bloodshed in Benue state and bring the actual perpetrators to justice.
— Amnesty International Nigeria (@AmnestyNigeria) June 14, 2025
The horrifying killing of over 100 people by gunmen that invaded Yelewata; from late Friday into the early hours of Saturday 14 June 2025, shows…
Ele disse que os homens armados estão "em uma onda de assassinatos com total impunidade".
Em declarações ao Crux, Iorapuu classificou o ataque como "bárbaro" e demonstrou frustração com a inação das forças de segurança.
"Esses agressores são animais e bárbaros. Algumas das vítimas já foram deslocadas em ataques anteriores desses grupos malignos", disse ele.
“O mais preocupante é que alguns militares estavam nas proximidades e até mesmo os policiais que estavam entre eles e a casa da missão só conseguiram impedi-los de ter acesso à casa da missão, onde a maioria dos deslocados estava alojada”, acrescentou o padre.
Comunidades cristãs
O ataque de sexta-feira se soma à crescente onda de agressões de pastores jihadistas Fulani contra comunidades cristãs.
No mês passado, homens armados, supostamente pastores, mataram pelo menos 20 pessoas na região de Gwer West, em Benue. Já em abril, ao menos 40 pessoas perderam a vida no estado vizinho de Plateau.
Iorapuu afirmou ao Crux que cada ataque altera a demografia cristã na Nigéria.
Ele acrescentou que, seguindo seu histórico de inação, o governo nigeriano falhou novamente em agir, apesar dos alertas de que os ataques provavelmente se intensificariam após o testemunho do bispo Wilfred Anagbe nos EUA.
Em 14 de fevereiro de 2024, o bispo de Makurdi falou perante os legisladores americanos, afirmando que os cristãos na Nigéria estavam sendo vítimas de genocídio e pedindo à comunidade internacional que intervisse.
Tragicamente, seu depoimento levou a um aumento da violência em sua cidade natal, com jihadistas chegando a ameaçar sua vida.
“Esperávamos que os ataques se intensificassem após o testemunho do bispo Wilfred Anagbe nos EUA sobre a Igreja perseguida, mas acreditávamos que o aviso dos EUA faria o governo ser proativo; erramos novamente”, disse Iorapuu ao Crux.
“Desta vez, mais de 200 cristãos foram mortos e queimados. São vidas humanas desperdiçadas; não são números que possam ser contabilizados”, disse ele.
Afirmando que "estes são jihadistas", Iorapuu observou que a identidade dos agressores é conhecida, citando o presidente da área de governo local de Guma.
Inação do governo
O presidente declarou na televisão que "estes são fulanis" e instruiu que não fossem mais chamados de "suspeitos pastores ou bandidos".
"As evidências confiáveis de quem eles são são inegáveis, então por que o governo é incapaz de garantir a segurança de seus cidadãos?", perguntou Iorapuu.
Emeka Umeagbalasi, diretor da Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety), sugeriu que a inação do governo é resultado de um plano deliberado.
“Há uma agenda para islamizar a Nigéria”, disse ele ao Crux.
Ele afirmou que essa agenda se tornou mais evidente durante a presidência de Muhammadu Buhari, que liderou a Nigéria de 29 de maio de 2015 a 29 de maio de 2023.
Segundo ele, Buhari – filho de um chefe fulani – não apenas forneceu armas a esse grupo, mas também colocou seus irmãos muçulmanos em cargos importantes de sua administração, enquanto relegava os cristãos a uma posição secundária.
Além disso, Umeagbalasi afirmou que o ex-presidente se esforçou para "islamizar" as agências de segurança, destacando que o último mandato de Buhari resultou em um aumento no acesso dos jihadistas Fulani aos arsenais do estado.
“Temos um exército jihadista”, disse ele.