
Os acordos de paz assinados nesta segunda-feira (13) entre Israel e o grupo palestino Hamas, com mediação dos EUA, Egito, Catar e Turquia, marcam um novo capítulo na tentativa de encerrar o conflito na Faixa de Gaza.
Proposto pelo presidente americano Donald Trump e formalizado durante a cúpula internacional em Sharm el-Sheikh, Egito, a primeira fase do pacto – que previa cessar-fogo imediato, libertação de reféns e prisioneiros, além da retirada parcial das tropas israelenses – foi cumprida.
Nos bastidores, a figura de Jared Kushner, genro de Trump e arquiteto dos Acordos de Abraão, ressurge como peça-chave na diplomacia paralela que viabilizou o entendimento entre as partes.
O presidente Donald Trump reúne autoridades do Bahrein, dos Emirados Árabes Unidos e de Israel para a assinatura dos Acordos de Abraão, em 2020, na Casa Branca. (Foto: Andrea Hanks/White House)
Kushner é casado com Ivanka Trump desde 2009, ocasião em que ela se converteu ao judaísmo. O casal tem três filhos: Arabella Rose, Joseph Frederick e Theodore James. De ascendência judaica, Kushner segue o judaísmo ortodoxo moderno e mantém uma prática religiosa ativa.
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Sua família tem raízes profundas na tradição judaica – seus avós paternos foram sobreviventes do Holocausto, e ele foi criado em um ambiente religioso, frequentando escolas judaicas e mantendo práticas como o Shabat e alimentação kosher.
Diante do atual cenário no Oriente Médio, marcado pelos conflitos entre Israel e o Hamas, o nome de Kushner voltou aos holofotes internacionais por seu papel central nas negociações que resultaram no recente acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino.
Mesmo sem ocupar um cargo oficial no segundo mandato de Trump, Kushner tem atuado como conselheiro informal e figura-chave na diplomacia paralela da Casa Branca – uma função que já exerceu com destaque durante o primeiro governo do sogro, especialmente na articulação dos Acordos de Abraão.
Jared Kushner no cenário escatológico
Nascido em 1981, em Nova Jersey, Kushner tem sido frequentemente mencionado, nos círculos escatológicos – especialmente entre estudiosos cristãos e judeus –, em interpretações proféticas relacionadas ao fim dos tempos.
O fato de o herdeiro de um império imobiliário ter adquirido o prédio número 666 na Quinta Avenida de Nova York e sua atuação na geopolítica do Oriente Médio são usados como elementos em teorias que o associam ao Anticristo ou ao “Príncipe da Paz” mencionado em textos apocalípticos.
Durante seu discurso no Knesset, o parlamento israelense, feito nesta segunda-feira (13), Trump fez questão de citar Kushner como “meu genro e um dos grandes visionários por trás da paz no Oriente Médio”, agradecendo sua atuação nos bastidores das negociações que levaram ao cessar-fogo entre Israel e Hamas.
Jared Kushner ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. (Captura de tela: YouTube/AFP Português)
Diversos vídeos e artigos analisam as conexões entre Kushner e o fim dos tempos.
Claire Evans, escritora sul-africana, apresenta uma série de informações mescladas a teses – muitas delas consideradas teorias da conspiração – nas quais questiona se o genro de Trump poderia eventualmente ser o Anticristo.
Em seu artigo “Is Jared Kushner the Anti-Christ?” (Jared Kushner é o Anticristo?), publicado há 14 anos, durante o primeiro mandato de Trump, quando Kushner atuava como conselheiro sênior da Casa Branca, o texto se tornou um dos mais comentados do site HubPages.
Evans apresenta diversos argumentos usados pelos defensores dessa tese, como o significado do nome “Jared”, que em hebraico pode ser traduzido como “aquele que domina” ou “aquele que governa”.
Ela também traça paralelos com figuras bíblicas, como Ninrode, fundador de Babel, associando-o à ideia de uma nova ordem mundial.
O nome Jared aparece no Antigo Testamento. Segundo o relato bíblico de Gênesis 5:19, ele viveu 962 anos e foi o pai de Enoque.
Sinais bíblicos
O pastor e jornalista Daniel Lopez analisa a figura de Kushner na perspectiva da escatologia. Em uma entrevista ao Podcast Inteligência Ltda, ele foi questionado sobre Kushner ser o Anticristo.
Para Lopez, alguns fatores levam as pessoas a conjecturar essa hipótese:
“Ele foi protagonista de um acordo de paz entre Israel e a Palestina, ou entre Israel e o mundo árabe – os famosos Acordos de Abraão. Então, muita gente acha que ele vai ser esse cara que vai trazer a ‘falsa paz’ de que o Apocalipse fala”.
E explica: “Dois sinais bíblicos de coisas que o Anticristo vai fazer, para a gente ficar de olho, são: o estabelecimento de paz entre Israel e Palestina, talvez com um acordo para liberar o Monte do Templo para a reconstrução do Templo de Jerusalém.”
Analista de geopolítica e comentarista de temas ligados à Bíblia, inclusive fim dos tempos, Rafael Bittencourt, no mesmo podcast, explicou porque as pessoas pensam que Kushner seja essa figura escatológica:
“O Jared Kushner, que algumas pessoas nutrem uma expectativa de que seja um possível candidato a esse anticristo, a esse líder, ele é um judeu cabalista, que inclusive converteu a esposa ao cabalismo também, ao judaísmo ... as pessoas nutrem essa expectativa. Eu não nutro essa expectativa.
Lamartine Posella, líder da Yah Church e estudioso de escatologia, afirmou durante a mesma entrevista que, embora o Anticristo seja descrito como alguém responsável por propor acordos de paz, Kushner “não tem nenhum perfil” que corresponda a essa figura.
Ele destaca três características que ajudarão a Igreja a identificar o Anticristo: será um líder politicamente influente, à frente de um grande acordo de paz entre Israel e diversas nações. Também será extremamente rico, usando seus recursos em projetos humanitários e em agendas globais alinhadas à ONU. Por fim, terá domínio sobre as tecnologias, como satélites e redes sociais, exercendo controle global sobre as pessoas.
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O arquiteto dos Acordos de Abraão
Durante o primeiro mandato de Trump, Kushner foi o principal arquiteto dos Acordos de Abraão, assinados em 2020, que normalizaram as relações diplomáticas entre Israel e países árabes como Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.
O feito foi considerado um marco histórico, rompendo com décadas de consenso árabe que condicionava o reconhecimento de Israel à criação de um Estado palestino.
Kushner também fundou o Instituto de Paz dos Acordos de Abraão, com o objetivo de fortalecer os laços entre os países signatários e expandir o pacto para outras nações, como a Arábia Saudita.
No atual mandato de Trump, Kushner inicialmente manteve um perfil discreto. No entanto, com o agravamento da guerra entre Israel e Hamas, ele foi convocado para atuar ao lado do enviado especial Steve Witkoff.
Juntos, lideraram negociações que culminaram em um acordo de paz em duas fases: a primeira, já em vigor.
Kushner e Witkoff montaram um centro de comando informal em Miami, de onde coordenaram ligações com autoridades israelenses, árabes e com o próprio Trump.
Posteriormente, viajaram ao Egito para participar das rodadas finais de negociação em Sharm el-Sheikh. Segundo relatos, Kushner foi responsável por manter o otimismo entre os israelenses, mesmo diante da resistência inicial do Hamas.
Com o novo acordo entre Israel e Hamas, Kushner reforça sua imagem como um dos principais articuladores da política externa americana no Oriente Médio.