Armênia cristã e Azerbaijão muçulmano assinam acordo de paz histórico em Washington

O acordo de paz entre país cristão e nação muçulmana encerra 35 anos de conflitos no Cáucaso.

fonte: Guiame, com informações da Reuters e Guardian

Atualizado: Segunda-feira, 11 Agosto de 2025 as 9:38

Donald Trump com Ilham Aliyev (à esq.) do Azerbaijão e Nikol Pashinyan da Armênia. (Foto: The White House)
Donald Trump com Ilham Aliyev (à esq.) do Azerbaijão e Nikol Pashinyan da Armênia. (Foto: The White House)

O presidente Donald Trump assinou um acordo histórico em Washington com os líderes do Azerbaijão e da Armênia para encerrar décadas de conflito entre os dois países.

A cerimônia ocorreu na Casa Branca na sexta-feira (8), com a presença dos presidentes Ilham Aliyev (Azerbaijão) e Nikol Pashinyan (Armênia).

A assinatura do acordo ocorre entre nações com identidades religiosas distintas. A Armênia é reconhecida como o primeiro país do mundo a adotar oficialmente o cristianismo, em 301 d.C., mantendo até hoje forte vínculo com a Igreja Apostólica Armênia.

Já o Azerbaijão é um país de maioria muçulmana xiita, cuja cultura e história foram marcadas por séculos de influência islâmica. Essas diferenças tornam o pacto ainda mais significativo, por reunir dois povos com tradições religiosas e culturais profundamente enraizadas e, por vezes, contrastantes.

Em seu discurso, o primeiro-ministro armênio declarou:

“Hoje, alcançamos um marco significativo nas relações Armênia-Azerbaijão. Estamos lançando uma base para escrever uma história melhor do que a que herdamos do passado. Esse avanço simplesmente não teria sido possível sem o engajamento pessoal do presidente Trump e seu firme compromisso com a paz em nossa região.”

Pashinyan também citou a Bíblia, na mesa com Trump e o presidente do Azerbaijão:

“A grande conquista de hoje é mais um testemunho de sua liderança global e seu legado como estadista e pacificador no cenário mundial. Trazer a paz requer visão, coragem política e determinação. Mas o mais importante é que requer fé na causa. Como é dito na Bíblia Sagrada: ‘Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus’. Que Deus ilumine este caminho”.

Conquista histórica

Segundo a Casa Branca, os dois líderes assinaram a declaração conjunta de paz após décadas de conflito intenso e dezenas de vidas perdidas, em uma conquista histórica para a diplomacia internacional e para a região do Cáucaso, formado por Armênia, Azerbaijão e Geórgia.

“Por mais de 35 anos, Armênia e Azerbaijão travaram um conflito amargo que resultou em tremendo sofrimento para ambas as nações… Muitos tentaram encontrar uma solução… e não obtiveram sucesso. Com este Acordo, finalmente conseguimos fazer a paz”, disse o presidente Trump.

“É um dia que será lembrado pelo povo do Azerbaijão com um sentimento de orgulho e gratidão ao Presidente Trump... Em poucos meses, ele conseguiu pôr fim aos conflitos na Ásia, na África e agora no Cáucaso do Sul – o que não conseguimos por mais de 30 anos... Viraremos a página do impasse, do confronto e do derramamento de sangue e proporcionaremos um futuro brilhante e seguro para nossos filhos”, disse o presidente Aliyev.

“Hoje, alcançamos um marco significativo nas relações entre a Armênia e o Azerbaijão. Estamos lançando as bases para escrever uma história melhor do que a que tivemos no passado. Este avanço simplesmente não teria sido possível sem o engajamento pessoal do Presidente Trump e seu firme compromisso com a paz”, disse o primeiro-ministro Pashinyan.

O presidente do Azerbaijão, Aliyev, celebrou o acordo de paz que, para muitos especialistas, era inimaginável: "Estamos hoje a estabelecer a paz no Cáucaso do Sul. Hoje estamos a escrever uma grande história nova".

Equilíbrios de poder

Após mais de três décadas de inimizade, os dois países deram um passo decisivo rumo à reconciliação ao assinarem o acordo que põe fim às hostilidades.

O tratado de paz que inclui a entrega da administração de um corredor estratégico, na fronteira com o Irã, a um consórcio privado dos EUA.

O corredor, localizado no sul da Armênia, conectará o Azerbaijão ao enclave de Nakhchivan – reivindicação antiga de Baku. Pelo acordo, os EUA passarão a operar a rota sob soberania armênia, em regime de arrendamento por 99 anos, alterando o equilíbrio de poder no Cáucaso. Para alguns analistas iranianos, a medida representa uma “asfixia geopolítica” do Irã na região.

O controle do corredor, agora rebatizado como “Trump Route for International Peace and Prosperity” (TRIPP), localizado na fronteira entre a Armênia e o norte do Irã, tem sido o principal obstáculo para a assinatura de um acordo de paz entre os dois países.

Embora inicialmente tenha saudado o acordo de paz como um passo importante para a estabilidade regional, o Irã se opôs fortemente à construção do corredor.

Ali Akbar Velayati, principal conselheiro do líder supremo iraniano, declarou que o plano pode provocar conflitos e sinalizou que o Irã está “pronto para impedir qualquer mudança geopolítica” com o uso de força militar. Ele chegou a afirmar que o corredor não seria uma “passagem de Trump”, mas sim “um cemitério para os mercenários de Trump”.

O Irã teme que o corredor, ao ignorar sua participação e proximidade geográfica, desestabilize a segurança regional e reduza sua influência estratégica no Cáucaso. Analistas observam que não está claro como o Irã poderia tecnicamente barrar a construção, mas ressaltam que a ameaça adiciona um nível significativo de incerteza ao plano.

A Rússia, tradicional mediadora na região, também manifestou apreensão por não ter sido incluída nas negociações e defendeu uma abordagem regional mais tradicional, com o envolvimento direto de países como Rússia, Irã e Turquia.

 

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