Conservadora, nova primeira-ministra do Japão defende valores tradicionais da família

Admiradora de Margaret Thatcher, Sanae Takaichi entra para a história como a primeira mulher eleita para liderar o governo japonês.

fonte: Guiame, com informações da AP e Reuters

Atualizado: Terça-feira, 21 Outubro de 2025 as 10:16

Sanae Takaichi torna-se a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do Japão. (Foto: Wikiwand)
Sanae Takaichi torna-se a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do Japão. (Foto: Wikiwand)

O Parlamento japonês elegeu nesta terça-feira (21) Sanae Takaichi como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país.

Sua eleição representa não apenas um marco histórico para a participação feminina na liderança política do Japão, mas também sinaliza a ascensão de uma figura alinhada a um movimento conservador influente no cenário nacional.

Sua agenda dá destaque a valores tradicionais, à preservação da estrutura familiar, à manutenção da ordem social e a uma postura firme em questões de segurança – com especial atenção à política de imigração.

Takaichi, 64 anos, chefe do Liberal Democratic Party (LDP), conseguiu 237 votos na Câmara dos Representantes (abaixo da maioria) e garantiu apoio parlamentar suficiente graças à formação de nova coalizão com o partido Japan Innovation Party (Ishin no Kai), após o rompimento do tradicional parceiro de coalizão, o Komeito.

Formada politicamente sob a influência do ex-premiê Shinzo Abe – baleado enquanto discursava em um comício político – Takaichi assume o lugar de Shigeru Ishiba.

Assim, encerra um período de três meses de indefinição política e entrando na disputa após a derrota eleitoral sofrida pelo Partido Liberal Democrata em julho.

Ex-ministra da Segurança Econômica e do Interior, Takaichi é admiradora da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Ela frequentemente a cita como fonte de inspiração, destacando seu caráter firme, suas convicções políticas e o que chama de “calor feminino”.

Apesar de sua vitória, o novo governo estreia em ambiente de fragilidade: coligação nova, maioria apertada ou mesmo minoritária, e uma oposição atenta aos seus passos.

Conservadorismo em foco

Takaichi tem sido descrita como uma “ultraconservadora”, alinhada à linha dura da política japonesa recente. Três eixos centrais se destacam de seu programa no âmbito social e moral: família, interrupção da gravidez e drogas.

A nova premiê defende a manutenção de valores familiares tradicionais, enfatizando o papel da mulher como mãe e esposa dentro de certo modelo de sociedade. Recusa a reforma da lei imperial para permitir sucessão feminina no trono do Japão, mantendo visão tradicional de gênero nas instituições simbólicas.

Takaichi também se opõe ao reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo e à separação de sobrenomes para cônjuges (tema de debate no Japão).

Sobre um projeto LGBT, ela chegou a se manifestar quanto à sua atuação parlamentar, se posicionando como não favorável à proposta original do projeto de lei, exigindo modificações.

“Em relação ao chamado projeto de lei LGBT, eu não teria podido apoiá-lo se tivesse permanecido como originalmente proposto pelo PLD e pelo Komeito. No entanto, por meio de negociações com o Partido da Inovação do Japão e o Partido Popular para emendas, a disposição que promovia as atividades de organizações privadas foi removida e foi adicionada uma disposição que exige que o governo formule diretrizes para a tranquilidade de todos os cidadãos, o que acredito ter resolvido, em certa medida, as preocupações levantadas por especialistas conservadores."

Sobre o aborto e regulação sexual, embora não haja declarações públicas extensas de Takaichi para revisar totalmente a legislação do aborto no Japão, as linhas gerais de sua plataforma conservadora indicam uma abordagem mais restritiva quanto à liberalização desses temas.

No Japão, o aborto é permitido em condições específicas, mas políticas sobre pílulas abortivas ou contraceptivos de emergência têm sido objeto de debates regulatórios que refletem tensões entre progresso e conservadorismo.

Recentemente, o Japão aprovou o uso de contraceptivo de emergência “over-the-counter” (sem receita). Para analistas, um avanço que poderá entrar em atrito com visões mais restritivas da nova primeira-ministra.

Drogas, ordem pública e imigração

No plano mais amplo de “ordem social”, Takaichi apoia medidas mais firmes contra práticas que, em sua visão, ameaçam a solidez da sociedade, inclusive controle mais rigoroso de imigração, reforço da segurança nacional e defesa da “lei e ordem”, segundo informa o The Guardian.

Embora o assunto “drogas” especificamente não tenha recebido amplo destaque em suas declarações públicas de campanha, o contexto conservador dela sugere uma postura menos permissiva para liberalização ou uso recreativo de substâncias, o que indica continuidade de linha tradicional de rigor social na política japonesa.

Possíveis linhas de atuação a observar

Mudanças nas leis de família, no nome dos cônjuges e na sucessão imperial estão no radar: a expectativa gira em torno de saber se Takaichi promoverá reformas significativas ou optará por manter o status quo.

A abordagem sobre contraceptivos, educação sexual e aborto permanece em debate: ainda não está claro se haverá endurecimento das políticas ou a manutenção da atual regulamentação.

Na área de relações internacionais e segurança, espera-se um fortalecimento da aliança com os EUA – incluindo a visita do presidente Donald Trump ao Japão na próxima semana, quando também passará pela Coreia do Sul entre 29 e 30 de outubro, pouco antes da cúpula asiática.

Cúpula asiática

Takaichi terá sua primeira agenda internacional na Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), que ocorrerá nos dias 31 de outubro e 1º de novembro de 2025, em Gyeongju, na Coreia do Sul.

A APEC 2025, um dos eventos diplomáticos mais importantes do ano, reunirá as principais economias asiáticas e do Pacífico em um momento de redefinição geopolítica.

Será a primeira grande oportunidade para a nova líder japonesa apresentar ao mundo a direção que pretende dar ao governo.

Com uma agenda firmemente ancorada em valores conservadores e nacionalistas, Takaichi deverá usar a cúpula não apenas para reforçar laços econômicos e estratégicos, mas também para sinalizar a postura do Japão em temas sensíveis, como segurança regional, defesa da família tradicional e proteção dos valores culturais frente às pressões globalistas.

Analistas esperam que a nova premiê adote um tom firme em questões relacionadas à China e à Coreia do Norte, além de defender a importância da cooperação entre democracias asiáticas para conter ameaças comuns.

 

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