'Divulguem os riscos que a maconha causa', diz médico da USP contra a liberação da droga

João Paulo Lotufo diz que números de usuários dos diversos tipos de drogas no Brasil podem ser considerados “epidêmicos”.

fonte: Guiame, com informações do Jornal da USP

Atualizado: Segunda-feira, 11 Setembro de 2023 as 2:22

Médico diz que número de usuários no Brasil revelam ‘epidemia’. (Foto ilustrativa: Unsplash/Abstral Official)
Médico diz que número de usuários no Brasil revelam ‘epidemia’. (Foto ilustrativa: Unsplash/Abstral Official)

Em meio ao julgamento da liberação do porte de maconha para consumo pessoal, em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), um médico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo defende que se divulgue os potenciais riscos associados ao consumo da substância.

Médico assistente do Hospital Universitário da USP, João Paulo Lotufo que em sua cruzada contra a liberação do uso da maconha, está em Brasília para participar de uma reunião da Comissão de Drogas Lícitas e Ilícitas com o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça.

“O Supremo está para liberar o porte de pequenas quantidades de maconha, fato que ocorreu em outros países, mas não diminuiu o tráfico, aumentou o consumo e aumentou acidentes por drogas em casa, principalmente por crianças”, diz Lotufo.

E continua: “E é o que temos visto aqui no Hospital Universitário. Um indivíduo dissolveu um sachê de ecstasy numa garrafa de água mineral e deixou em cima da pia e a tia da criança fez a mamadeira dessa criança com aquela água. A criança convulsionou quatro horas e meia sem parar.”

Divulgação de riscos

“O que defendo é uma ampla divulgação do risco de uso de maconha, onde estaremos formando uma população de ‘noias’, com lesão cerebral irreversível, além de outros com doenças psiquiátricas com tratamento ineficaz. O uso de drogas lícitas pode levar ao uso de drogas ilícitas e estas levar a drogas mais potentes e assim vai”, afirma.

De acordo com o médico, no Brasil acontecem por ano 150 mil mortes por fumo e 100 mil por álcool – se se adicionar a isso as mortes por maconha, crack e droga sintéticas “estaremos perto ou ultrapassaríamos o número de mortes pela covid-19”.

O médico, que acredita que o uso de diversos tipos de drogas lícitas e ilícitas é uma ‘epidemia’, sugere prevenção:

“O Ministério da Saúde, através das vacinas de orientação sobre covid-19, conseguiu diminuir drasticamente o número de mortes; porque não enfrentar o problema das drogas da mesma maneira com prevenção, como foi para a covid? […] se em 100 mil jovens temos 5 mil tabagistas, 4 mil maconhistas, 12 mil alcoólicos e mil no crack, tudo isso é mais do que epidêmico no nosso meio”.

Drogas no berçário

Segundo informa o jornal da USP, Lotufo falará no Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) sobre abstinência de drogas no berçário.

“Nos Estados Unidos, isto ocorre com opiáceos, aqui no berçário do HU ocorre com síndrome de abstinência de recém-nascido por uso de maconha, crack ou álcool durante a gestação. O crack também tem sido responsável por mortes de crianças amamentadas por usuários”, explica.

“Acidentes ocorrem sempre e tivemos uma criança de 15 dias de vida que foi a óbito, e ela tinha alta concentração de cocaína na urina, porque a mãe era usuária e amamentou a criança”, relatou.

“Se querem liberar o porte de maconha, que façam ampla divulgação do risco que essa droga pode causar […] o custo das doenças relacionadas ao tabaco supera em três vezes o recolhimento de impostos sobre a venda de cigarros. O mesmo deverá acontecer com a maconha – o interesse financeiro de alguns poucos lesará mais uma vez o nosso sistema de saúde.”

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