Igreja pede orações em meio à onda de violência no Equador: ‘Paz e justiça de Deus’

O presidente Daniel Noboa declarou guerra às facções criminosas e decretou estado de exceção no país.

fonte: Guiame, com informações da Folha e AFP

Atualizado: Quarta-feira, 10 Janeiro de 2024 as 2:19

Presidente do Equador, Daniel Noboa. (Captura de tela/YouTube/WION)
Presidente do Equador, Daniel Noboa. (Captura de tela/YouTube/WION)

A descrição de uma foto com pedido orações pelo Equador, feita pela Igreja Zion de Quito em seu perfil do Instagram, diz: “Declaramos a paz e a justiça de Deus sendo estabelecidas em nossa nação!”

A igreja cita um texto famoso do apóstolo Paulo, especialmente no contexto de guerra espiritual: “Pois não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os governantes das trevas deste mundo, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.” (Efésios 6:12).

O motivo da manifestação da Zion equatoriana é a onda crescente de violência que está abalando o país, localizado na América Central, onde atuam gangues e facções criminosas ligadas ao narcotráfico.

O caos começou há dois dias quando José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, o líder do Choneros, principal facção criminosa do Equador fugiu da prisão.

Fito, chefe da principal quadrilha criminosa do Equador. (Captura de tela/YouTube/AFP)

A violência nesse curto período já deixou 70 detidos e mais de 13 mortos, entre civis e policiais, o que fez o presidente Daniel Noboa assinar um decreto nesta terça-feira (09) colocando o Equador em estado de exceção.

O estado de exceção, frequentemente adotado em situações de emergência, é uma condição jurídica e política em que as autoridades governamentais possuem poderes extraordinários, geralmente temporários, que vão além das restrições normais impostas pela legislação e pela Constituição.

No caso do Equador, a medida foi tomada para reprimir e conter os conflitos causados por criminosos armados e ameaças à segurança nacional que colocam a ordem pública em risco.

Terroristas

A autoridade máxima do país reconhece oficialmente que o Equador está enfrentando um "conflito armado interno". O mesmo documento identifica 22 organizações criminosas como terroristas e instrui as Forças Armadas a realizar operações com o objetivo de "neutralizar" os grupos mencionados.

Dentre essas facções que dominam o país, destaca-se os Choneros, cujo líder, Fito, conseguiu escapar da prisão no domingo (7). O incidente desencadeou uma crise de violência, sendo descrita pela imprensa local como uma "noite de terror" na madrugada desta terça-feira (09). Houve relatos de explosões de carros-bomba e outros atos aparentemente coordenados, incluindo o sequestro de quatro policiais.

As ações ocorreram após o presidente Noboa, enfrentando sua primeira crise desde que assumiu a Presidência em novembro, decretar um estado de exceção de 60 dias em todo o país. Essa medida abrange um toque de recolher de seis horas, das 23h às 5h.

Criminosos invadem emissora de TV ao vivo

O caos persistiu na tarde desta terça-feira, quando indivíduos encapuzados invadiram a sede da emissora TC na cidade portuária de Guayaquil, no sudoeste do território.

Os homens, que estavam armados e com granadas, renderam o apresentador e funcionários durante uma transmissão ao vivo do telejornal El Noticiero, que foi abruptamente interrompido.

Nos vídeos da transmissão, é possível observar o grupo esbravejando contra a polícia. Profissionais da emissora são vistos deitados no chão, enquanto ao fundo se ouvem o que parecem ser tiros.

Um dos funcionários presentes durante o ataque enviou uma mensagem a um repórter da agência de notícias AFP, afirmando: "Entraram aqui para nos matar". Cerca de 30 minutos se passaram até que as forças de segurança entrassem no local e prendessem pelo menos 13 criminosos envolvidos na ação.

Paralelamente a isso, diversos ataques ocorridos em Pascuales e outras regiões de Guayaquil resultaram em oito mortos e dois feridos, de acordo com informações do jornal local El Universo, com base em um balanço da polícia divulgado às 18h30 no horário local (20h30 em Brasília).

Em paralelo a isso, diferentes ataques ocorridos em Pascuales e em outras regiões de Guayaquil deixaram oito mortos e dois feridos, informou o jornal local El Universo com base em um balanço da polícia divulgado às 18h30 do horário local (20h30 em Brasília).

Invasão em universidade

A Universidade de Guayaquil também foi invadida por homens armados. Imagens divulgadas nas redes sociais e relatos na imprensa local mostram alunos e professores correndo assustados pelo campus, buscando refúgio em salas de aula.

Diante dessa situação, o Ministério da Educação optou por suspender as aulas e as atividades escolares em todo o país até sexta-feira (12). A extrema violência e o clima de tensão no Equador também levaram ao cancelamento de voos e deixou as ruas vazias e comércio fechado.

Comércio fecha as portas em meio à onda de violência no Equador. (Captura de tela/YouTube/AFP)

Em Nobol, cidade próxima a Guayaquil, dois policiais foram mortos, de acordo com publicação das autoridades nas redes sociais.

Diante da crise, a Assembleia Nacional (poder legislativo equatoriano) expressou apoio ao Executivo, anunciando resoluções adotadas em conjunto por bancadas políticas de diversas linhas ideológicas. Entre as medidas anunciadas está a possibilidade de conceder indultos e anistias a policiais e militares envolvidos no combate ao narcotráfico.

Repercussões internacionais

A crise também teve repercussões no exterior. O Ministério do Interior do Peru ordenou o envio de forças para a fronteira entre seu país e o Equador, decretando estado de emergência em todas as cidades ao longo da linha divisória. A medida foi anunciada na madrugada desta quarta-feira (10).

O Brasil, por meio do Itamaraty, afirmou em nota que está acompanhando com preocupação a escalada de violência no país. Além disso, mencionou que está investigando uma denúncia de suposto sequestro envolvendo um cidadão brasileiro, Thiago Allan Freitas, em Guayaquil.

Thiago Allan Freitas, brasileiro sequestrado em Guayaquil. (Captura de tela/Record TV)

Já a China anunciou o fechamento de sua embaixada, também a partir desta quarta.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também se manifestou nesta quarta-feira (10):

"Acompanhamos com preocupação os acontecimentos dos últimos dias no Equador e apoiamos a institucionalidade democrática. Esperamos que a normalidade seja retomada em breve".

‘Sem negócio com terroristas’

Ao declarar o estado de exceção na segunda-feira, o presidente Noboa afirmou que essa medida possibilitaria a intervenção das Forças Armadas no sistema prisional equatoriano. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, ele declarou: "Não negociaremos com terroristas nem descansaremos até devolvermos a paz".

No decreto desta segunda-feira, anterior ao reconhecimento do conflito armado interno, as Forças Armadas já haviam sido acionadas para se juntar às ações da polícia nacional.

A novidade foi o reconhecimento do estado de "conflito armado interno", a listagem das facções reconhecidas como terroristas e a determinação para que o Exército execute operações militares contra os grupos declarados.

Crescimento da violência

O crescimento da violência tem sido vertiginoso no Equador. Em 2022, a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes foi de 25,9, um aumento significativo em comparação com o índice de 5,8 registrado cinco anos antes, em 2017, que havia atingido o menor patamar em anos.

Situado entre o Peru e a Colômbia, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador atua como entreposto de exportação para a droga por via marítima.

O país também testemunhou facções internas associando-se ao crime transnacional, especialmente enquanto exerciam domínio nos presídios locais.

Nos últimos anos, o cultivo e a demanda por cocaína alcançaram níveis recordes no mundo, conforme relatado pela ONU, impactando a distribuição e abrindo novas rotas para o narcotráfico.

Apenas em um ano, o Equador registrou a apreensão de 210 toneladas de drogas, também estabelecendo um recorde.

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