A cidade portuária de Palma, no Norte de Moçambique, foi retomada pelas forças de segurança do governo e está segura, afirmou um porta-voz do Exército, depois que militares mataram um “número significativo” de combatentes que atacaram a cidade no final de março e a ocuparam no dia 27 do mês passado.
Mais de uma centena de insurgentes devastaram a cidade, destruindo edifícios cívicos, roubando e ateando fogo a pelo menos um banco e matando dezenas de pessoas, segundo autoridades moçambicanas, consultores de segurança e um relatório da União Africana visto pelo Financial Times. Milhares fugiram da violência.
No domingo (04), o Exército de Moçambique disse que Palma estava segura novamente com insurgentes mortos após dias de batalha.
“Concluímos a limpeza [da cidade]. Era a única área sensível que precisávamos limpar. Está completamente segura”, disse o porta-voz do Exército, Chongo Vidigal, em comentários transmitidos pelo canal de TV estatal TVM na noite de domingo.
Armindo Ngunga, secretário de Estado da província de Cabo Delgado, disse à Reuters que Palma está novamente "sob o controle do Estado".
“Houve uma perda significativa de vidas humanas e a infraestrutura foi destruída. Mas as pessoas estão seguras agora”, acrescentou Ngunga.
Os cristãos de Moçambique são parte da população que sofre a violência dos grupos insurgentes, passando por ondas de violência cada vez maiores no país. A Anistia Internacional já interviu em centenas de casos de ataques contra essa população e pediu ao governo que tomasse providências. O governo moçambicano vai permitir investigações às violações de direitos humanos.
Integrantes de um grupo chamado al-Shabab, que jurou fidelidade ao Estado Islâmico em 2019, atacaram em 24 de março a cidade de 75 mil habitantes, que fica próximo a um complexo gasífero liderado pela empresa francesa Total. A construção da usina de gás de US$ 60 bilhões, prevista para entrar em operação em 2024, está paralisada há vários meses. A Total havia anunciado o reinício das obras pouco antes do ataque, mas anunciou uma nova suspensão.
A exploração das reservas gasíferas do litoral de Cabo Delgado é uma das esperanças de aumento de renda de Moçambique, um dos países mais pobres da África.
Ofensiva jihadista
O governo moçambicano disse que dezenas de pessoas morreram na ofensiva jihadista, e fontes das forças de segurança afirmaram que os confrontos continuaram fora da cidade até a sexta-feira passada.
Imagens feitas pela TVM em Palma mostraram um soldado cobrindo um corpo caído na rua e edifícios incendiados. Sobreviventes relataram ter visto corpos de outras pessoas que morreram de fome ou desidratação enquanto tentavam escapar.
Grupos de ajuda acreditam que o último ataque deslocou dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais fugiram para a floresta densa ou escaparam de barco para Pemba, a capital da província. A extensão do número de vítimas, porém, ainda não está clara, com muitas pessoas ainda desaparecidas.
Desde 2017, os jihadistas têm saqueado vilarejos e cidades em Cabo Delgado, provocando o êxodo de 700 mil pessoas, segundo a ONU. Antes do ataque do final de março, a violência já havia matado pelo menos 2.600 pessoas na província, metade civis, de acordo com a ONG americana Acled (sigla em inglês para Projeto de Localização de Conflitos e Eventos Armados).
Os ataques nessa região de fronteira com a Tanzânia se intensificaram no ano passado. Desde agosto de 2020, forças jihadistas controlam Mocímboa da Praia, fundamental para a chegada dos materiais necessários às instalações de gás. Apesar de várias tentativas, os militares moçambicanos nunca conseguiram retomá-la.
Sem condições materiais, o Exército moçambicano conta com o apoio de mercenários de empresas de segurança sul-africanas. No mês passada, os Estados Unidos anunciaram que darão duas semanas de treinamento às forças especiais do país.