Apesar de o governo ter anunciado o fim das negociações, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino (Andes) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Tecnológica (Sinasefe) afirmaram, nesta quinta-feira (2), que a greve continua na maioria das universidades. As duas entidades dizem representar, juntas, cerca de 65 mil professores de ensino superior de quase todas as universidades e institutos federais, além de professores da educação básica dos institutos.
A Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), que decidiu na noite da quarta-feira (1º) que assinaria o acordo proposto pelos ministérios do Planejamento e da Educação, diz representar cerca de 20 mil professores em 77 campi de universidades e institutos.
Gutenberg de Almeida, coordenador-geral do Sinasefe, criticou a atitude do governo de assinar um acordo com apenas uma das entidades representantes dos professores federais em greve. "É uma irresponsabilidade do governo endossar uma coisa dessa natureza. O Proifes tem representatividade em sete universidades e um instituto", afirmou, lembrando que quase todas as assembleias rejeitaram ambas as propostas feitas pelo governo.
Em entrevista coletiva realizada na quinta-feira (2), Marinalva Oliveira, presidente do Andes, disse que não houve discussão sobre a proposta do sindicato apresentada há mais de dois anos. Segundo ela, o que foi proposto pelo governo mantém a desestruturação da carreira, e o que houve foi um "simulacro de acordo."
De acordo com a edição mais recente do Censo da Educação Superior, de 2010, o Brasil tem mais de 78 mil professores na rede federal de ensino superior. O número inclui docentes das universidades, dos institutos, dos centros de educação tecnológica e do Colégio Pedro II, e exclui os professores afastados e os que atuam nos colégios militares. Pelos dados do Censo, 69 mil docentes atuam nas universidades e mais de 8 mil, nos institutos (segundo o Sinasefe, incluindo o número de professores do ciclo básico, a quantidade atual de docentes nos institutos aumenta para cerca de 28 mil).
Segundo o presidente do Proifes, Eduardo Rolim de Oliveira, a entidade representa cerca de 20 mil professores em 77 campi, distribuidos em oito estados, dez universidades e três institutos.
São eles: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Instituto Federal do Paraná (IFPR), Instituto Federal do Rio Grande (IFRG) e Instituto Federal da Bahia (IFBA).
Acordo com o governo
Rolim afirmou, na quarta-feira, que a decisão do Proifes de aceitar o acordo se baseou em uma consulta aberta que o Proifes realizou, entre o sábado (28) e a quarta-feira (1º), com 5.222 professores de 43 universidades e institutos. O resultado apontou que 74% dos docentes eram favoráveis à aceitação da proposta do governo federal.
Porém, segundo Gutenberg, a consulta incluiu professores que não aderiram à paralisação e muitas universidades tiveram pouca representatividade. Na tabulação de resultados, 976 participantes da consulta, ou 18,7% do total, trabalham na UFRN, que não está em greve. Da lista de 43 instituições, cerca de metade tiveram entre um e cinco participantes. "O plebiscito não tem representatitividade, por isso trabalhamos com assembleia", afirmou.
Até a noite da quinta-feira, apenas os professores da UFSCar haviam decidido, em assembleia, sair da greve. Na UFRGS, um plebiscito eletrônico realizado com 1.367 professores da instituição também apontou pelo fim da paralisação. De acordo com o Censo da Educação Superior, a universidade gaúcha tinha 2.730 docentes em 2010.
Representatividade
Rolim explica que o Proifes é uma federação que conta com associações de docentes afiliadas a elas, além de também exercer representatividade direta em outras instituições. Já o Andes e o Sinasefe são representados localmente por meio de seções sindicais que respondem ao braço nacional.
O Sinasefe afirma que tem 82 seções sindicais presentes nos 40 institutos --incluindo os dois centros de educação tecnológica e o Colégio Pedro II). A entidade estima representar cerca de 90% dos 28 mil docentes que dão aulas no ensino superior e na educação básica nos institutos federais, e diz que, atualmente, 254 campi dos cerca de 320 que o governo federal mantém no Brasil estão paralisados. De acordo com Gutenberg, pelo menos cinco campi aderiram à greve nesta quinta-feira.
A assessoria de imprensa do Andes afirmou que possui 46.801 professores sindicalizados e que tem seções sindicais em todas as 59 universidades federais e que é o único sindicato presente em 49 delas. O Andes diz que divide espaço com o Proifes em seis universidades: UFBA, UFC, UFG, UFMS, UFSCar e UFRGS. Ainda segundo a assessoria de imprensa, duas universidades, a UFMG e a UFSC, possuem entidades que não se associam a nenhum dos dois sindicatos, mas entraram em greve aderindo à pauta de reivindicação do Andes. Já a Universidade Federal de Itajubá (Unifei), associdade ao Andes, decidiu não entrar em greve, além da UFRN, que se associou ao Proifes.
O G1 tentou entrar em contato com o Proifes durante a tarde da quinta-feira (2), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.