É cedo para fazer projeções. Enzo tem apenas 11 anos e ainda divide o futebol com as tarefas e compromissos da escola. Mas já começa, aos poucos, a repetir o caminho trilhado do pai, Fernandão, ídolo colorado morto em acidente aéreo, em junho. Alto, é centroavante e demonstra habilidade com a bola nos pés. Carrega no sangue o mesmo amor pelo futebol e pelo Inter. Tanto que o menino integra as escolinhas de futebol do clube há cerca de duas semanas e fez até mesmo sua estreia pela equipe sub-11 neste domingo, na vitória por 5 a 2 sobre o União de Dois Irmãos, time do interior do Rio Grande do Sul.
Recém-chegado ao Inter, Enzo entrou no segundo tempo da partida e não chegou a balançar as redes na primeira partida pelo Colorado. Uma trajetória promissora, mas ainda incipiente, que é cercada de zelo por parte da diretoria do clube. Os dirigentes evitam fazer avaliações técnicas com os jogadores da categoria . Querem apenas que as crianças joguem bola e se divirtam nos treinamentos.
Enquanto os mandatários são cautelosos, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Novelletto, não poupa elogios a Enzo. Chega até a considerá-lo com potencial para se tornar centroavante titular do Inter.
- É o DNA do pai. Dá para ver até no jeito de caminhar. Está marcado no sangue dele. Ele quer jogar. Não podia ser diferente. É torcedor do Inter. A fruta não cai longe do pé. Também é líder. Sabe cobrar os colegas. Quem vê de longe, pensa que ele é mais velho. Será o titular do ataque daqui a oito anos - aposta o mandatário, a quem Fernandão costumava chamar de “pai do sul”.
A mudança para Porto Alegre foi planejada pela família logo após a morte de Fernandão. A mãe, Fernanda, sabia do carinho dos gêmeos Enzo e Eloá pelos colegas da escola que frequentaram na capital gaúcha, fundamental para suportar a perda. O ingresso na escolinha do Inter surgiu como natural para um garoto que respira futebol e se destacava na base do Goiás.
Pelo Esmeraldino, o garoto contava sempre com o apoio do pai, que costumava ir aos treinos e aos jogos acompanhar e incentivar o filho. Tanto que retornaria para Goiânia no dia do acidente para assistir ao menino em um campeonato. Zelo que já rendeu os primeiros títulos do garoto como pequeno atleta em seu sonho de se tornar jogador profissional como Fernandão.
No mês de junho, após a morte de Fernandão, Enzo foi campeão de um torneio regional com o Goiás. Jogou a final e teve boa atuação. Quase marcou em duas oportunidades. No Esmeraldino, Enzo também demonstrou aptidão para balançar as redes. Em um amistoso contra uma equipe do interior do estado, o garoto anotou sete gols na vitória por 14 a 0.
- Tem muito talento e atualmente preenche os requisitos para a categoria. Fomos campeões de um torneio entre clubes em Goiânia, e ele teve participação efetiva. Jogou a final e foi muito bem. Como ele viu o pai dele como centroavante, é natural que jogue na função. É um pouco semelhante. Se destaca pela inteligência, por jogar para o grupo. Finaliza muito bem, mas joga muito de costas para o gol, servindo os companheiros - analisa o ex-professor do garoto em Goiânia, Flávio Augusto.
O acidente
Fernando Lúcio da Costa voltava de helicóptero de sua casa em Aruanã, cidade no interior de Goiás, localizada a 315 km de distância da capital. Junto com Fernandão estavam mais quatro amigos, que também não sobreviveram: Edmilson de Souza Leme (vereador de Palmeiras de Goiás), Antônio de Pádua, Lindomar Mendes Vieira (funcionário da fazenda) e o piloto, identificado como Milton Ananias.
Segundo a Polícia Civil, a aeronave levantou voo da fazenda que pertencia a Fernandão por volta de 1h de sábado e caiu segundos depois sobre um banco de areia (uma pequena praia de água doce) às margens do rio Araguaia, capotando diversas vezes. O local do acidente fica a 15 km do centro de Aruanã. O ex-jogador chegou a ser levado para o hospital da cidade com sinais vitais, mas morreu pouco depois.