Por Ayrina Pelegrino
A presença das mulheres no ambiente de trabalho no Brasil avançou fortemente na primeira década do século XXI. Entre 2000 e 2010, sua participação na população economicamente ativa passou de 35% para 44%, segundo o IBGE. Embora este progresso seja significativo, a luta pela igualdade de gêneros dentro das empresas ainda encontra enormes desafios. A busca por posições de liderança é um deles. Segundo estudo do IBCG (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), em 2011, 66% das empresas brasileiras não possuíam uma única mulher no conselho de administração.
No mundo dos escritórios de advocacia não é diferente. A presença delas neste universo é significativo como revela a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No último Exame, por exemplo, elas representaram 46% dos inscritos no Estado de São Paulo. Após serem aprovadas no Exame da Ordem, e começar a exercer a advocacia, as dificuldades encontradas para ascender profissionalmente são as mesmas das mulheres nas demais profissões: ter de conciliar a carreira com a vida em família e de superar o preconceito que, com raras exceções, ainda é presente nos escritórios.
Para Rosana Chiavassa, sócia do escritório Chiavassa&Chiavasssa, a mulher busca a equivalência com o homem no mundo corporativo travando uma luta “de igual para igual”, mas não leva em conta o trabalho em casa, o cuidado com os filhos, ou os relacionamentos. “As mulheres buscam a equidade do ponto de vista masculino. Mas não sei até quando as mulheres vão aguentar esse ritmo e os prejuízos dessa vida para os outros campos.”
Na mesma linha, Caroline Marchi, membro da Comissão das Mulheres da OAB e coordenadora do Comitê de Desenvolvimento da Advogada no Exercício da Profissão, reforça que as mulheres acabam não tendo as mesmas condições competitivas que os homens na evolução da carreira. “Não diria que por preconceito, mas em razão das dificuldades das mulheres em conciliarem a carreira com as demais obrigações sociais. Mas também pela postura no mercado de trabalho diante da conjectura cultural e social que existia. Não era comum que elas ocupassem cargos elevados dentro das sociedades de advocacia”, explica Caroline. “Contudo, hoje existe uma perspectiva de mudança. As mulheres têm se qualificado profissionalmente, o que, aliado às competências femininas, as tornam imprescindíveis na condução e gestão dos negócios”.
Sócia do escritório BCBO – Buccioli, Craveiro e Braz de Oliveira Advogados Associados, Mariana Conti Craveiro também destaca as dificuldades em harmonizar trabalho e vida pessoal. “No meu caso, busquei um trabalho em que pudesse ter flexibilidade nos horários, para poder conciliar com a vida acadêmica e outras áreas da minha vida”, conta.
Muitas vezes, buscar posições de liderança significa ter que fazer escolhas e sacrifícios e a advogada deve saber até que ponto está disposta a ir. “Hoje é diferente de uma geração ou duas atrás, você não sente que não pode fazer determinadas coisas por ser mulher. Acho uma questão de maturidade saber qual estágio você está e o que é relevante para você nesse momento. A mulher não deve se sentir culpada por certas escolhas, como priorizar a maternidade”, diz Mariana.
“Tivemos conquistas, tivemos no papel, mas na prática não sei se da forma como veio ainda é a que a gente espera. Tive um caminho difícil, cheguei a levar filho para o escritório. Há uma certa compreensão dessa situação, mas em uma grande empresa essa possibilidade não existe”, conta Rosana.
Preconceito
Já o preconceito, embora tenha diminuído, ainda existe. “Há muitas pressões, principalmente quanto à maternidade. Mas acredito que você deve mostrar todo o seu potencial para que as pessoas vejam sua capacidade e você possa se destacar”, afirma Mariana.
“As sociedades de advogados devem se organizar e se reunir para fazer frente a essa nova realidade. O Machado Meyer, no qual trabalho, possui um programa voltado para as advogadas, que se chama “Mulheres no Machado Meyer” cujo objetivo é promover a carreira das mulheres no escritório, além disso o escritório conta com uma sócia administradora mulher, a Dra. Raquel Novais. Acredito que existem condições para que isso passe a ser uma realidade no mercado”, explica Caroline.
No entanto, ter uma mulher como sócia ainda é uma realidade para poucos escritórios. “Enquanto as mulheres não estiverem compartilhando o poder essas questões não vão ser debatidas. É chegada a hora das mulheres ocuparem mais poder. A gente tem que encarar isso conversar entre nós mulheres, pois depende da gente mudar este status quo”, diz Rosana, que já foi candidata ao cargo de presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados de São Paulo)
Para Rosana cada vez mais, os homens têm reconhecido uma mulher de sucesso, no entanto muitos ainda tem dificuldade em lidar com o sexo oposto. “Ele pode ate não concordar com o jeito o estilo, mas ele respeita a mulher que consegue se destacar nesse mundo machista. Mas ele não sabe como lidar com ela, eles não sabem nem como conversar, é muito engraçado. É mais fácil você conversar com um estranho do que com um colega de profissão no mundo bem sucedido. É como se a gente passasse para eles uma insegurança, ainda não somos tratadas de igual pra igual, diz Rosana.