O reservatório de água de Santa Branca (SP), um dos quatro que abastece o estado do Rio de Janeiro, atingiu o volume morto neste domingo (25), de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Este é o segundo abastecedor a ficar sem volume útil desde o início de 2015. Na quarta-feira (21), o reservatório de Paraibuna (SP) também secou.
O volume morto é a água que está abaixo do nível das comportas e precisa ser puxada por bombas. Desta forma, as hidrelétricas são automaticamente desligadas. Em ação inédita, no entanto, em Paraibuna foi decidido pela utilização do volume morto para manter a geração de energia. Até as 14h50, a Agência Nacional de Águas, não havia informado se faria o mesmo em Santa Branca.
Pezão em Brasília
Nesta quarta-feira (28), o governador Luiz Fernando Pezão apresentará à presidente Dilma Rousseff, em Brasília, um plano para amenizar as consequências da estiagem. A proposta foi elaborada por técnicos da Cedae e da Secretaria estadual do Ambiente. Segundo a assessoria de imprensa, Pezão detalhará também um programa de reflorestamento das margens dos rios Paraíba do Sul e Guandu, além do projeto de saneamento da Região Metropolitana do Rio.
Da acordo com o governador, se a estiagem terminar, "algumas cidades podem ser prejudicadas". A declaração foi dada no município de Italva, no Noroeste do estado, durante o lançamento do programa Rio Emergencial Rural, um conjunto de ações emergenciais para beneficiar pequenos produtores rurais já prejudicados pela falta de água.
Represas
Além de Paraibuna e Santa Branca, o sistema de abastecimento do Rio inclui Jaguari, também em São Paulo, e Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense. Todos ficam dentro de hidroelétricas e, além de produzir energia, armazenam água para abastecimento do Rio Paraíba do Sul – que passa pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Ao todo, quase 16 milhões de pessoas recebem água do Paraíba do Sul. A maioria do estado do Rio, incluindo a Região Metropolitana.
Segundo o boletim Diário da Agência Nacional de Águas (ANA), o nível médio da bacia do Rio Paraíba do Sul estava em 0,66% no domingo (25). Ele mede a média de água dos quatro reservatórios que abastecem o Rio. As hidroelétricas de Jaguari (1,72%) e Funil (3,75%) permanecem com volume útil. O último, no entanto, atingiu seu menor nível desde que foi criado em 1969.
Se comparado com anos anteriores, o atual nível da bacia do Paraíba do Sul fica muito abaixo do normal. No boletim mensal de outubro de 2013, a média dos reservatórios era de 48,2%. Em 2009, o nível chegou a 80,8%.
A crise hídrica que atinge o Rio é causada pela falta de chuva dos reservatórios que abastecem o estado. Uma peça-chave para entender o abastecimento não só do Rio, mas de todo o Sudeste é a Bacia do Paraíba do Sul, que abastece 37 municípios, sendo 26 no Rio e 11 em São Paulo. O sistema leva água diretamente para 11,2 milhões de pessoas.
O Rio Paraíba do Sul resulta da confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, que nascem no Estado de São Paulo, a 1.800 metros de altitude, na Serra da Bocaina. O curso da água percorre 1.150km, passando por Minas Gerais e Rio de Janeiro, até desaguar no Oceano Atlântico em São João da Barra (RJ). Os principais usos da água na bacia são: abastecimento, diluição de esgotos, irrigação e geração de energia hidrelétrica.
As águas de Funil, que chegou ao nível mais baixo desde 1969, também abastecem o reservatório de Santa Cecília, em Piraí (RJ), que integrado a outros reservatórios Ribeirão das Lajes, que vai abastecer o Sistema Guandu.
As reservas do Paraibuna ficaram abaixo do nível das hidrelétricas e, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA) o reservatório passou a operar o volume morto, que não tem capacidade para gerar energia. Mas ainda há volume suficiente para ser transposto para a bacia hidrográfica do Rio Guandu, que abastece de água mais de nove milhões de consumidores da Região Metropolitana do Rio.
De acordo com Cedae, a companhia que abastece de água o Grande Rio, embora o Sudeste esteja enfrentando a maior crise hídrica dos últimos cem anos, o risco de racionamento ainda está afastado. Segundo a empresa, nos últimos dois anos foram tomadas medidas como a redução da transposição de 190 mil metros cúbicos por segundo para 100 mil metros cúbicos por segundo. E mesmo assim, para abastecer a região Metropolitana a Cedae só precisa captar 45 mil metros cúbicos de água por segundo.
Essas manobras, segundo o secretário estadual de Meio Ambiente André Corrêa, já possibilitaram uma economia de aproximadamente 400 milhões de litros de água.
Há mais de um ano a Cedae veicula em rádios, jornais, TVs e redes sociais campanhas sobre o uso consciente da água, como jingle gravado por Martinho da Vila e comerciais com as personagens de animação Esbanja e Manera. Entre as dicas de economia, o consumidor deve fechar o chuveiro enquanto ensaboa o corpo durante o banho, fechar a torneira enquanto escova os dentes e não lavar calçadas ou carros com mangueiras.