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A fé como elemento antidissociativo

Pela fé há a possibilidade de uma experiência autêntica de reconciliação, liberdade, e profundidade – mesmo diante do incompreensível.

fonte: Guiame, Clarice Ebert

Atualizado: Sexta-feira, 1 Agosto de 2025 as 3:31

(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Uma crença pode parecer fé, mas deixa de ser quando atua como força de ruptura. Assim ocorre quando é instrumentalizada, usada como arma moral, política ou social, em vez de um caminho de comunhão. Ou quando se torna rígida, marcada pela literalidade sem compaixão, criando muros em vez de pontes. Ou quando é reduzida a dogma, sem espaço para o mistério, a dúvida, o silêncio e o encontro. Ou quando perde o foco no amor, centrando-se mais em regras do que em relacionamento, mais em controle do que em confiança. Ou ainda quando as fantasias de irrealidade se impõem supersticiosamente como leituras compulsivas e obsessivas da realidade.

Nesses casos, ao invés de fé, pode estar mais para fanatismo religioso, fragmentação psíquica e dissociação espiritual. A inteireza se fragmenta e passa a operar a partir de partes rígidas de si, como medo, desejo de pertencimento, necessidade de controle etc. Assim deixa de ser fé e se torna apenas uma sombra dela mesma.

A verdadeira fé, ao invés de fragmentar, integra. Por isso ela se torna o elemento antidissociativo disponível para nós diante das dúvidas, angústias e mistérios da vida. Não como parte de um processo discursivo, mas como indicador de um despertar, que registramos diante do impacto da chegada de um evento de graça. Este que é a manifestação do amor puro de Deus Pai por seu Filho, para que Ele o compartilhe com seus irmãos e irmãs. O amor compartilhado que nos toca não é posse, é expansão. E aquele que recebe esse amor, não guarda: reparte.

Pela fé há a possibilidade de uma experiência autêntica de reconciliação, liberdade, e profundidade — mesmo diante do incompreensível. É nesse terreno misterioso, onde as explicações se esgotam, que a fé revela seu poder de reunir fragmentos e restaurar sentidos, preparando-nos para um reencontro que se dá para além dos nomes, dos credos ou das dúvidas. Assim, a fé não dissocia, não aprisiona, não cobra, não mede — ela expande, reconhece, revela. Por ela somos convocados por esse sussurro invisível a sermos inteiros, mesmo trincados, alinhados por algo maior que nós. 

** Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga - CRP08/14038, terapeuta familiar e de casal, mestre em teologia).

 

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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