
Quando falamos em Reforma Protestante, é comum pensarmos em Martinho Lutero e nas 95 teses que marcaram profundamente a história da Igreja.
Lutero escreveu essas teses em 1517, e o conteúdo delas provocou intensa reflexão teológica e espiritual, influenciando não apenas o contexto alemão, mas também outras nações da Europa. A partir dali, iniciou-se um movimento de renovação que mudou os rumos da fé cristã e abriu caminho para transformações que ecoam até hoje.
A Reforma Protestante foi, antes de tudo, uma reforma da consciência cristã. Lutero resgatou a centralidade da graça e da fé (Sola Fide), ao afirmar que “o justo viverá pela fé” (Rm 1:17). Essa redescoberta libertou o cristão da dependência de mediações humanas e o reconectou diretamente com a graça de Deus.
O pentecostalismo, por sua vez, insiste que essa fé deve ser viva, cheia do poder e da presença do Espírito Santo.
Outro princípio reformador, o Sola Scriptura, devolveu a Bíblia ao povo. A Escritura passou a ser a regra de fé e prática, e não mais as tradições humanas. O pentecostalismo herda esse mesmo amor pela Palavra, mas com uma ênfase carismática: a Bíblia não é apenas um texto antigo, mas a voz viva de Deus, iluminada pelo Espírito. Como ensina Paulo, “toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, repreender, corrigir e formar na justiça” (2Tm 3:16).
A doutrina do sacerdócio universal dos crentes, defendida por Lutero, também encontra no pentecostalismo uma de suas mais belas expressões. No culto pentecostal, homens e mulheres oram, profetizam e testemunham, revelando que todos são chamados a servir. É a prática visível da verdade bíblica: “Vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa” (1Pd 2:9).
Enquanto a Reforma restaurou a Palavra e a graça, o Pentecostalismo restaurou a experiência viva com o Espírito. Ambos os movimentos nasceram de uma profunda inquietação espiritual e de um desejo de ver a Igreja mais próxima do Evangelho. A diferença é apenas histórica; o Espírito é o mesmo.
Como já afirmei em Reforma Protestante e Pentecostalismo – A conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal, a missão da Igreja continua sendo “proclamar a verdade absoluta que é o nosso Jesus Cristo (João 16:6), edificarmos as nossas comunidades para o amadurecimento da fé cristã (Ef 4:13), e sempre adorar o verdadeiro Deus em espírito e em verdade (João 4:23–24)” (FONTES, 2019, p. 121).
A frase latina Ecclesia semper reformanda — “a Igreja está sempre em reforma” — continua atual. A Reforma Protestante abriu o caminho; o Pentecostalismo reacendeu o fogo. Cada geração precisa ouvir novamente o chamado de Deus à conversão, à santidade e à renovação espiritual.
No fim das contas, o Pentecostalismo não é uma ruptura com a Reforma, mas a sua continuação. Ele reafirma que toda a glória pertence a Deus — Soli Deo Gloria — e que a verdadeira Igreja é aquela que permanece aberta à ação do Espírito Santo, permitindo que o mesmo vento que soprou na Alemanha volte a soprar sobre nós.
Referência bibliográfica
FONTES, Ediudson. Reforma Protestante e Pentecostalismo – A conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal. São Paulo: Editora Reflexão, 2019.
Ediudson Fontes (@ediudsonfontes) é pastor auxiliar da Assembleia de Deus Cidade Santa (RJ), teólogo, pós-graduado em Ciências da Religião e mestrando em Teologia Sistemático-Pastoral pela PUC-Rio. Escritor, professor de Teologia, casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Os cinco solas: A alma da Reforma e a base da fé cristã