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A Festa de Tabernáculos e o retorno dos reféns

Parece um aviso do céu de que essa etapa terrível de prova chegou ao fim e é tempo de celebração e regozijo para a nação.

fonte: Guiame, Getúlio Cidade

Atualizado: Quarta-feira, 15 Outubro de 2025 as 2:15

Festa dos Tabernáculos. (Imagem ilustrativa gerada por IA)
Festa dos Tabernáculos. (Imagem ilustrativa gerada por IA)

A Festa de Tabernáculos, iniciada na semana passada e com duração de oito dias, terminou ontem. E é digno de nota que, exatamente no sétimo dia da Festa, os cidadãos israelenses sequestrados há dois anos e mantidos reféns pelos terroristas do Hamas, em condições sub-humanas durante esses dois anos, tenham sido devolvidos a Israel.

No calendário judaico, a data de 7 de outubro de 2023 coincidiu exatamente com o oitavo dia de Tabernáculos, o dia da assembleia solene em que se celebra o encerramento de um ciclo de leitura da Torá e o início de outro. Por esse motivo, esse dia é conhecido como Simchat HaTorá (a Alegria da Torá).

Foi nesse dia, há dois anos, que o Hamas invadiu e atacou as comunidades agrícolas do sul do território judeu, matando mais de 1.200 pessoas e cometendo as maiores atrocidades que o mundo já viu, como queimar civis inocentes vivos, incluindo bebês, tortura, estupros e decapitação de bebês, crimes que, em uma escala de barbaridades, são comparados apenas ao Holocausto.

Foi assim que se iniciou a guerra em Gaza que agora chega a um cessar-fogo, ainda que frágil e incerto. As negociações ao longo desses dois anos foram muitas, envolveram vários países, sempre liderados pelos EUA, mas, normalmente, finalizavam com poucos reféns libertos, gerando frustração e sofrimento para suas famílias. Dessa vez, o improvável aconteceu, com a libertação de todo o restante sequestrado no dia 7 de outubro, ainda que a maioria seja composta de reféns mortos. A devolução de seus corpos, porém, ameniza uma dor excruciante na alma das famílias que poderão honrá-los com um sepultamento digno.

Unidade forjada no fogo

Os últimos dois anos têm sido uma grande provação para o povo de Israel, não apenas na terrível condição dos reféns, mas nos conflitos que se seguiram, originados pelo ataque do 7 de outubro. A guerra em Gaza evoluiu para enfrentamentos com grupos terroristas no Líbano, Cisjordânia, Síria, Iêmen e o regime do Irã, levou a milhares de mortos e feridos, e enlutou o país inteiro. No entanto, existe algo subjacente a todo esse sofrimento. Deus está operando de modo invisível e silencioso no coração da nação de Israel.

A história se repete. Na antiguidade, antes mesmo de ser coroado rei, Davi e seus homens passaram por provação semelhante, em território filisteu (correspondente à atual Faixa de Gaza). Durante uma campanha militar de Davi, os amalequitas invadiram Ziclague, a cidade onde habitava, incendiando-a e sequestrando mulheres, crianças, jovens e idosos.

Ao regressarem à cidade queimada e verem que suas famílias foram levadas cativas, Davi e seus homens choraram em alta voz, o mesmo choro das famílias israelenses que tiveram suas casas destruídas pelo fogo e seus parentes sequestrados violentamente no 7 de outubro. A dor de Davi e seu exército os uniu em torno de um só objetivo: trazer seus entes queridos de volta. E assim foi feito, após lançarem uma perseguição contra seus inimigos.

Essa experiência dolorosa unificou o exército que, mais tarde, ficou conhecido como os valentes de Davi e consolidou sua liderança que o levaria, no tempo certo, a ser coroado rei de Israel. Foi uma unidade forjada no fogo, muito semelhante à unidade que Deus tem operado nesse tempo no coração da sociedade israelense em meio a essa longa provação.

Tempo de nossa alegria

É interessante frisar que, imediatamente antes do 7 de outubro, a sociedade israelense se encontrava amplamente dividida como nunca, desde a fundação do Estado moderno, divisão esta causada principalmente por divergências políticas no campo interno. Seus inimigos farejaram isso e julgaram que era o momento de lançar um ataque decisivo. Enganaram-se, porém, quanto à reação do povo judeu (dentro e fora de Israel), o que uniu o país inteiro que passou a lutar a guerra em Gaza, como em outras frentes, como um só homem, exatamente como ocorreu com Davi e seus valentes do passado, numa batalha incessante para trazer os reféns para casa.

Após dois longos anos, sem medir esforços militar, econômico e político, Israel conseguiu trazer de volta definitivamente seus filhos, sem deixar nenhum deles para trás, “nem mesmo uma unha”, conforme agiu Moisés ao libertar o povo do Egito. Foram dois anos de provação e sofrimento, de uma dor incalculável para as famílias que tiveram seus entes queridos sequestrados, torturados, mortos e os que foram mutilados ou tombaram em combate. Por trás disso, está a mão invisível de Deus promovendo a unidade de seu povo, algo que será imprescindível para a restauração de Israel nos últimos dias, antes do encontro definitivo com seu Messias.

É notável que a volta de todos os reféns de Gaza — vivos e mortos — tenha sido concluída durante a Festa de Tabernáculos, conhecida como o “tempo de nossa alegria”. Parece um aviso do céu de que essa etapa terrível de prova chegou ao fim e é tempo de celebração e regozijo para a nação. Entretanto, Deus prosseguirá trabalhando silenciosa e poderosamente no coração de Israel até as “Dores de Parto do Messias”, a fim de separar e preparar seu remanescente para o encontro com Yeshua.

Por ora, é preciso celebrar essa graça divina, concedida oportunamente em Tabernáculos, e aproveitar o momento para unificar ainda mais o país, a fim de fortalecê-lo para os tempos difíceis adiante.

“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5).

 

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor de A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Yom Kippur: As guerras e o remanescente de Israel

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