No último artigo, falei sobre o crescente cerco sofrido por Israel nos tempos do fim e seu significado na vinda do Messias. Ainda nessa temática, abordarei esse cerco no que diz respeito especificamente a Jerusalém, conforme profetizado por Zacarias. Jerusalém, embora uma pequena capital, é a Cidade do Grande Rei, segundo o Salmo 48, citado por Yeshua em Mateus 5:35.
“Eis que eu farei de Jerusalém um cálice de atordoamento para todos os povos vizinhos e também para Judá, durante o sítio contra Jerusalém. Naquele dia, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos. Todos os que tentarem erguê-la ficarão gravemente feridos. E todas as nações da terra se ajuntarão contra ela” (Zacarias 12:2-3 - NAA).
A cidade mais disputada
Durante milênios, Jerusalém tem sido a cidade mais disputada pelos mais diversos povos. Antes mesmo de se tornar a capital do reino de Israel, cerca de mil anos a.C., foi tomada à espada pelo rei Davi, quando ainda se chamava Jebus. Ele guerreou contra os jebuseus e tomou a fortaleza de Sião, fundando a Cidade de Davi. Em Jerusalém, ele estabeleceu o centro monárquico e religioso da nação, onde, mais tarde, Salomão edificou o Templo ao Senhor.
Ao longo da História, outros cercos foram feitos contra Jerusalém que terminaram com a queda da cidade e duas grandes diásporas. A primeira, no século VI a.C., levou ao exílio babilônico por 70 anos. A segunda, conduzida pelos romanos no século I d.C, durou 19 séculos e dispersou o povo judeu literalmente por todas as nações da Terra. A cidade permaneceu como alvo de disputas, principalmente durante as Cruzadas na Idade Média. Mesmo após a criação do Estado novo de Israel, Jerusalém continuou a ser uma cidade dividida e, apenas na Guerra dos Seis Dias, em 1967, ela voltou em sua íntegra para o controle do povo judeu.
Nenhuma outra cidade foi tantas vezes cercada e tomada por exércitos dominantes de diversas épocas, ao longo de milênios, tendo sido conquistada por babilônios, persas, gregos, selêucidas, romanos, bizantinos, muçulmanos, cruzados, mamelucos, otomanos e britânicos. Uma vez invadida, séculos mais tarde, era cercada e tomada por outras forças em um ciclo contínuo de ascensão e queda. Suas muralhas, construídas e destruídas ao longo de sua história, são testemunhas desse estado de guerra permanente.
Mesmo que atualmente seja considerada a capital indivisível do Estado de Israel, o fato é que Jerusalém permanece uma cidade cobiçada e qualquer conversação sobre acordos de paz, seja com árabes-palestinos, seja com qualquer outro ator estatal envolvido, passa necessariamente pela questão política e religiosa de Jerusalém.
Um cerco inédito
O sítio mencionado por Zacarias, entretanto, é distinto de todos os demais ocorridos ao longo da existência de Jerusalém. Trata-se de um cerco que nunca houve, pois a cidade permanecerá ilesa e não cairá ao golpe da espada de seus agressores, como ocorreu em cercos passados. Ao contrário, os povos, exércitos e nações que se levantarem contra ela serão feridos. A expressão “naquele dia” (ba’iom hahu), muito usada por Zacarias em seu livro, é uma referência ao juízo divino nos tempos do fim (acharit hayamim). É o acerto de contas do Todo-Poderoso contra um mundo rebelde e hostil a seus mandamentos.
O cerco a Jerusalém, como já ocorre hoje nos campos acadêmico, político, religioso e psicossocial, passará a ser físico mediante o uso do poder militar dos “povos em redor”, assim como para Judá, a região bíblica da Judeia (hoje território da Cisjordânia). Nesse sentido, será um cerco inédito, pois o uso da força não será capaz de derrubar Jerusalém e tomá-la das mãos dos judeus.
A resistência da cidade não será compreensível do ponto de vista militar. Será algo sobrenatural, pois “naquele dia o Senhor amparará os habitantes de Jerusalém” (Zc. 12:8). A cidade será um cálice de atordoamento para seus agressores ao redor, uma bebida forte que embriaga o raciocínio lógico, gerando confusão e entorpecimento. Será uma pedra pesada para todos os povos que serão incapazes de levantá-la, mesmo com todo esforço conjunto para removê-la de seu lugar.
O cálice da ira
Embora tenha caído em mãos inimigas em sítios anteriores, “naquele dia” em que nações inimigas juntarem forças militares para invadir Jerusalém, o cerco fracassará. O cálice atordoante — a própria Jerusalém — que deixará as nações trôpegas está na mão do Senhor e seu vinho ferve com sua ira para ser bebido por todos os ímpios (Salmo 75:8).
Ao se levantarem contra Jerusalém, se levantarão contra Deus e beberão do cálice de sua ira, conforme também profetizou Obadias. “O dia do Senhor está perto, sobre todas as nações. (...) assim beberão de contínuo todas as nações; beberão e sorverão, e serão como se nunca tivessem sido. Mas no monte de Sião, haverá livramento” (v.15-17).
Sobre a perseguição e o cerco da Cidade Santa, Zacarias finaliza, profetizando em nome do Senhor: “Naquele dia procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém” (Zc. 12:9). Essa intervenção do alto para proteger a Cidade do Grande Rei e julgar as nações precede o derramamento do Espírito de graça e de súplicas sobre seus habitantes, preparando-os para o encontro com o Messias de Israel (v.10) e a inauguração da era messiânica a partir de sua cidade eterna. Maranata!
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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Leia ao artigo anterior: O cerco a Israel e a vinda do Messias