Ao pôr do sol do dia 2 de outubro, celebra-se o ano novo judaico — conhecido por Rosh HaShaná —, chamado na Torá de Festa das Trombetas. Este nome se deve ao maior símbolo desta Festa que é o shofar, o chifre de carneiro. Embora seja traduzido por trombeta, o original faz distinção entre as duas palavras. Na verdade, o Rosh HaShaná era anunciado pelo toque do shofar e por duas trombetas de prata na entrada do Santuário.
Essa data marca o aniversário da criação do homem, quando Deus soprou nas narinas de Adão de seu Espírito, tornando-o “alma vivente” (nefesh chaiah). O toque do shofar é um poderoso símbolo da voz de Deus. O sopro que emite seu som faz alusão ao sopro do Espírito de Deus sobre o primeiro homem, depositando em si a própria essência do Altíssimo e Criador do universo.
Tempo de juízo
Embora Rosh HaShaná seja um dia de celebração, ele aponta para o juízo vindouro sobre a humanidade. Esse é o propósito de se tocar o shofar bem cedo em todas as manhãs do mês que antecede a Festa, como um chamado ao arrependimento e conserto perante Deus e os homens. Exatamente por representar a voz de Deus, o shofar é o instrumento perfeito para ser usado nesse período conhecido como Teshuvá. Antes do juízo, Deus sempre faz uma chamada ao arrependimento para que sejamos poupados. Foi assim com Israel antes das duas diásporas, foi assim com Nínive, foi assim nos dias de João, o batista, e foi assim no ministério de Yeshua. Ele iniciou sua mensagem do ponto que João terminou, admoestando a todos: “Arrependei-vos, pois é chegado o Reino dos céus!”.
A tradição rabínica estabelece que o juízo se inicia em Rosh HaShaná e termina em Yom Kippur, quando o juízo estará selado sobre toda carne. Os dez dias entre essas duas Festas são conhecidos como os Dias de Temor, quando se intensificam as orações e busca-se corrigir os caminhos e as atitudes erradas, pedindo-se perdão a quem ofendemos, acertando nossos relacionamentos antes do juízo em Yom Kippur. Por esse motivo, uma das saudações nesse tempo é: “Que você seja inscrito para a vida!”.
As Festas do Senhor no Novo Testamento
As sete Festas do Senhor na Torá (a Bíblia não as chama de festas judaicas) foram instruídas diretamente por Deus a Moisés como “estatuto perpétuo”. Isso significa que serão celebradas eternamente, tanto nesta era como na próxima. Elas possuem um fator temporal e outro profético. Enquanto se repetem ano a ano, conforme estabelecidas por Deus, apontam para o Messias e seu plano redentor.
Dessa forma, temos as quatro Festas da Primavera cumpridas profeticamente na primeira vinda de Yeshua. Sua morte se deu exatamente em 14 de Nisan, no início da Páscoa. Sua permanência na sepultura se deu durante os três primeiros dias da Festa dos Asmos, o símbolo do pão que desceu do céu para alimentar os homens, numa clara alusão ao matzah (pão asmo) que permanece escondido durante o seder, envolto em um pano de linho. Sua ressurreição ocorreu exatamente na Festa das Primícias e, durante a celebração de Pentecostes, Ele derramou o Espírito Santo sobre os discípulos, cumprindo sua promessa.
Rosh HaShaná e seu cumprimento profético
Diferentemente das Festas da Primavera, as Festas do Outono (Trombetas, Yom Kippur e Tabernáculos) ainda não tiveram seu cumprimento profético. Elas apontam para a segunda vinda do Messias. Como Deus seguiu um padrão perfeito em sua primeira vinda, não há dúvidas de que fará o mesmo em sua volta.
Embora a Festa das Trombetas não seja mencionada abertamente no Novo Testamento, seu principal símbolo — o shofar — aparece em várias passagens, sempre relacionado ao fim dos dias e à vinda do Messias, como o texto de 1Tessalonicenses 4:16-17, quando o Senhor descerá do céu ao som da trombeta de Deus (shofar). É uma alusão direta à Festa das Trombetas, anunciada pelo shofar e pelas trombetas de prata. É o anúncio de um tempo novo que iniciará o juízo de Deus sobre as nações e instaurará o Reinado do Messias de Israel sobre a Terra.
Seja na ressurreição e no arrebatamento dos santos para se encontrar com Ele nos ares, seja no ajuntamento do remanescente de Israel dos quatro cantos da Terra, ou em seu retorno para Jerusalém, todos esses eventos fazem menção ao som do shofar ou trombeta. É importante frisar que essa ideia remonta a textos bem mais antigos que o Novo Testamento, como Joel 2:1: “Tocai o shofar em Sião e dai o alarme em meu santo monte. Tremam todos os moradores da Terra porque o dia do Senhor vem, já está perto”. Ou Zacarias 9:14: “O Senhor Deus fará soar o shofar; marchará nos redemoinhos do sul”. Em ambos as passagens, como em muitas outras, o termo no hebraico é shofar, o instrumento de Rosh HaShaná.
A Festa das Trombetas é um alarme estabelecido por Deus para Israel. É um tempo de despertamento para os dias de juízo e tribulação que se levantarão sobre a Terra, sobre Israel e sobre todos os que confessam o nome do Messias Yeshua. Por isso mesmo, deve ser um tempo de grande expectativa para todos os que aguardam sua volta. Ele mesmo nos ensinou que, ao ver os sinais cada vez mais sombrios, deveríamos exultar, pois sua chegada estaria próxima.
A tradição indica que se deve usar roupas brancas em Rosh HaShaná. Isso me faz lembrar da exortação de Eclesiastes 9:8: “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça”. Essa é uma Festa para que todos os que almejam sua vinda estejam mais do que prontos para se encontrar com Ele. Maranata!
Para saber mais sobre as Festas do Senhor e sua ligação com o Messias, acesse: https://www.aoliveiranatural.com.br/sobre-a-pagina-a-oliveira-natural/
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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