
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um grave aumento dos casos de sofrimento emocional entre adolescentes. Segundo dados recentes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Ministério da Saúde, entre 2023 e 2024 foram registrados mais de 100 mil atendimentos a jovens com sofrimento psíquico grave, tentativas de suicídio ou automutilação.
Em média, a cada 10 minutos, um adolescente tenta se ferir ou tirar a própria vida.
Esses números revelam mais do que estatísticas. Mostram uma geração que clama por atenção, por escuta e por sentido. O sofrimento emocional dos adolescentes é profundo, e muitas vezes invisível — escondido atrás de sorrisos, telas de celular e frases como “está tudo bem”.
Por que nossos adolescentes estão sofrendo tanto?
Vivemos uma era de pressões intensas e desconexão emocional.
Os jovens são expostos precocemente à comparação social nas redes, à cobrança por desempenho, à erotização precoce e à falta de referências afetivas sólidas.
Além disso, a ausência de diálogo familiar, o excesso de tempo online e o enfraquecimento da espiritualidade têm contribuído para o aumento da solidão e da desesperança.
Muitos adolescentes estão perdendo o sentido da própria existência, e quando a dor da alma se torna insuportável, o corpo passa a expressar o que o coração não consegue mais dizer.
Sinais de alerta que não podem ser ignorados
As tentativas de suicídio ou automutilação raramente acontecem de forma repentina.
Na maioria das vezes, há sinais prévios que podem ser observados por familiares, professores, líderes e amigos.
Entre os principais sinais de alerta estão:
Tristeza persistente ou apatia por mais de duas semanas.
Mudanças bruscas de humor, irritabilidade ou isolamento.
Falas de desesperança, como “nada mais vale a pena” ou “eu preferia desaparecer”.
Abandono de atividades que antes eram prazerosas.
Alterações no sono e no apetite.
Automutilação (cortes, queimaduras, arranhões repetitivos).
Queda no rendimento escolar ou desinteresse por planos futuros.
Afastamento da família, da igreja ou de grupos de convivência.
Dicas práticas de proteção emocional e espiritual
Cuidar de um adolescente em sofrimento exige atenção, amor e firmeza com empatia.
A seguir, algumas estratégias baseadas na psicologia e na fé cristã:
1. Promova um ambiente seguro de escuta
Crie momentos de conversa sem julgamento. O jovem precisa sentir que pode falar sem ser criticado ou punido.
A escuta empática salva vidas.
2. Reduza o tempo de exposição digital
O excesso de redes sociais aumenta a comparação, a ansiedade e a autocrítica. Estimule atividades offline e conexões reais.
3. Fortaleça os vínculos familiares
Comer juntos, conversar sobre o dia e orar em família são práticas simples que reforçam o sentimento de pertencimento e proteção.
4. Encoraje o adolescente a buscar ajuda profissional
A psicoterapia é um espaço seguro para reorganizar pensamentos e emoções.
Quando necessário, o encaminhamento médico e o acompanhamento multidisciplinar são fundamentais.
5. Integre a fé ao cuidado emocional
A religião não substitui a terapia mas oferece esperança, propósito e resiliência.
Incentive a oração, a leitura bíblica e a comunhão com a igreja — não como obrigação, mas como abrigo espiritual.
6. Observe os comportamentos e não negligencie sinais
Nunca minimize frases como “não quero mais viver” ou “ninguém se importa comigo”.
Leve-as a sério e busque ajuda imediatamente.
7. Demonstre amor com presença
Mais do que conselhos, o adolescente precisa sentir-se amado e valorizado.
O amor constante e coerente é o maior antídoto contra o desespero.
Um chamado à esperança
A vida é dom de Deus.
Proteger a vida — física, emocional e espiritual — é um ato de amor e obediência ao Criador.
Como profissionais da saúde mental, pais e líderes cristãos, somos chamados a ser pontes de esperança, ajudando os jovens a reencontrar o propósito que Deus tem para cada um deles.
“O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido.”
(Salmo 34:18)
Marisa Lobo (CRP 08/07512) é psicóloga, missionária, ativista pelos direitos da infância e da família e autora de livros sobre saúde mental, educação de filhos e autoestima infantil, entre eles "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo". Especialista em Direitos Humanos, preside o movimento Pró-Mulher.
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