Cientista descobre tradução 'oculta' do Novo Testamento de 1.750 anos

Grigory Kessel descobriu uma das primeiras traduções dos Evangelhos, feitas no século III e copiadas no século VI .

fonte: Guiame, com informações do Christian Post

Atualizado: Quinta-feira, 13 Abril de 2023 as 9:17

Imagem do manuscrito com a tradução do Novo Testamento. (Foto: Reprodução/OeAW)
Imagem do manuscrito com a tradução do Novo Testamento. (Foto: Reprodução/OeAW)

Através de uma técnica de captação de imagem por luz, um cientista descobriu uma tradução bíblica antiga de 1.750 anos que estava escondida. 

O fragmento contém partes do livro de Mateus, no Novo Testamento, que pode ser o único "resto do quarto manuscrito que atesta a versão siríaca Antiga" dos Evangelhos, produzido no século III e copiado no século VI. 

Os pesquisadores, incluindo o medievalista Grigory Kessel da Academia Austríaca de Ciências, (OeAW) sigla em inglês, usaram a chamada fotografia ultravioleta para encontrar a tradução antiga escondida sob três camadas de texto.

Grigory conseguiu tornar as palavras perdidas neste manuscrito em camadas duplas, chamadas de “palimpsesto”, descobertas no Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai. As páginas individuais legíveis, foram recentemente identificadas em um curso do "Projeto Palimpsestos do Sinai".

Segundo o Christian Post, o estudo publicado no mês passado na revista New Testament Studies, apresenta uma interpretação de Mateus 11:30 ao capítulo 12:26, originalmente traduzido como parte das traduções siríacas antigas há quase 1.500 anos.

Importância do manuscrito na língua siríaca

De acordo com a Biblioteca Britânica em Londres, onde um desses fragmentos é mantido,  desde o primeiro século até a Idade Média, o siríaco era um dialeto do aramaico oriental usado pela Igreja na Síria e em vários países do Oriente Médio.

Embora tenha sido escrito no mesmo alfabeto que o hebraico, a língua siríaca tem seus próprios caracteres distintos.


O fragmento é visível sob luz ultravioleta. (Foto: Reprodução/OeAW)

Segundo a OeAW, cerca de 1.300 anos atrás, um escriba na Palestina apagou um livro do Evangelho inscrito com texto siríaco para reutilizá-lo.O pergaminho era escasso no deserto na Idade Média, então os manuscritos eram frequentemente apagados e reciclados.

"A tradição do cristianismo siríaco conhece várias traduções do Antigo e do Novo Testamento. Até recentemente, apenas dois manuscritos eram conhecidos por conter a antiga tradução siríaca dos evangelhos", afirmou Grigory. 

O fragmento identificado pelo medievalista oferece uma "porta de entrada" para uma fase inicial da "transmissão textual" dos Evangelhos.

"Por exemplo, enquanto o grego original de Mateus capítulo 12, versículo 1 diz: ‘Naquele tempo, Jesus passou pelas searas no sábado; e seus discípulos ficaram com fome e começaram a colher as espigas e comer’, a tradução siríaca diz : "[...] começou a colher as espigas, esfregá-las nas mãos e comê-las”, explicou um comunicado divulgado pela OeAW.

Junção de novas tecnologias 

Claudia Rapp, diretora do Instituto de Pesquisa Medieval da OeAW, elogiou Grigory pela descoberta e seu "profundo conhecimento" de textos siríacos antigos e suas características de escrita.

Claudia informou que a tradução siríaca foi produzida pelo menos um século antes de alguns dos mais antigos manuscritos gregos sobreviventes, como por exemplo o Codex Sinaiticus, um texto completo dos Evangelhos que acredita-se ser mais antigo do que o século IV.

"Esta descoberta prova o quão produtiva e importante pode ser a interação entre as tecnologias digitais modernas e a pesquisa básica ao lidar com manuscritos medievais", concluiu ela.

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