No sábado (12), a Arábia Saudita executou 81 pessoas condenadas por crimes que vão desde assassinatos até pertencer a grupos militantes ou adotar ideologias extremistas. Entre os executados estão 73 sauditas, 7 iemenitas e 1 sírio.
Essa foi a maior execução em massa realizada no reino saudita, em toda sua história moderna, conforme o CBN News.
O número de pessoas executadas superou até mesmo um episódio ocorrido em janeiro de 1980, quando 63 militantes foram condenados por tomar a Grande Mesquita em Meca, em 1979. Foi o pior ataque de militantes contra o reino e num local que é considerado sagrado pelo Islã.
Sobre as execuções
Não há informações sobre o local das execuções e as autoridades não deram explicações sobre a escolha do sábado para a realização das sentenças de morte.
A forma como os prisioneiros foram executados também não foi informada, embora os presos no corredor da morte normalmente sejam decapitados na Arábia Saudita.
A agência estatal de imprensa saudita apenas fez o anúncio dizendo que “os condenados foram acusados por vários crimes, entre eles o assassinato de homens, mulheres e crianças inocentes”. Um anúncio na TV estatal descreveu os executados como tendo “seguido os passos de Satanás” na realização de seus crimes.
“Os acusados tiveram direito a um advogado e foram garantidos seus direitos totais sob a lei saudita durante o processo judicial, que os considerou culpados de cometer vários crimes hediondos que deixaram um grande número de civis e policiais mortos”, disse ainda a imprensa.
Sobre a pena de morte na Arábia Saudita
Mesmo com a queda no número de executados durante a pandemia por Covid-19, a Arábia Saudita continuou com a decapitação de condenados.
Os líderes do país alegam que alguns eram membros do grupo terrorista Al Qaeda e que havia também apoiadores dos rebeldes houthis do Iêmen.
Uma coalizão liderada pela Arábia Saudita luta contra os houthis, apoiados pelo Irã desde 2015, no vizinho Iêmen, num esforço para restaurar o governo internacionalmente reconhecido no poder.
“O reino continuará a adotar uma postura estrita e inabalável contra o terrorismo e as ideologias extremistas que ameaçam a estabilidade do mundo inteiro”, diz um relatório.
A última execução em massa do reino ocorreu em janeiro de 2016, quando 47 pessoas foram executadas, incluindo um proeminente clérigo xiita da oposição que havia mobilizado manifestações no reino.
Em 2019, mais 37 cidadãos sauditas foram decapitados, a maioria deles xiitas minoritários, em uma execução em massa em todo o país por supostos crimes relacionados ao terrorismo.
“É um ensinamento do Alcorão”
Desde que assumiu o poder, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, sob o comando de seu pai, Salman bin Abdulaziz, tornou cada vez mais liberal a vida no reino, abrindo salas de cinema e dando permissão para que as mulheres dirijam.
Por outro lado, as agências de inteligência dos EUA acreditam que o príncipe herdeiro também ordenou o assassinato e o desmembramento do colunista do Washington Post, Jamal Khashoggi, enquanto supervisionava ataques aéreos no Iêmen que mataram centenas de civis.
Em trechos de uma entrevista à revista The Atlantic, o príncipe herdeiro discutiu a pena de morte, dizendo que uma “alta porcentagem” de execuções foi interrompida por meio do pagamento dos chamados acordos de “dinheiro de sangue” a famílias enlutadas.
“Bem, sobre a pena de morte, nós nos livramos de tudo, exceto por uma categoria, e esta está escrita no Alcorão, e não podemos fazer nada a respeito, porque é um ensinamento claro”, disse o príncipe conforme o canal de notícias por satélite saudita Al-Arabiya.
“Se houve assassinato, a família dessa pessoa tem o direito de ir ao tribunal e aplicar a pena capital, a menos que perdoe o assassino. Ou se alguém ameaça a vida de muitas pessoas, isso significa que ele deve ser punido com a pena de morte”, explicou o príncipe. “Independentemente de eu gostar ou não, não tenho o poder de mudar isso”, disse ainda.
Cristianismo está entre as ideologias extremistas
A Arábia Saudita ocupa o 11º na Lista Mundial da Perseguição 2022, conforme a Portas Abertas. No segundo maior país árabe do mundo, atribuir qualquer bênção ao “Deus do Cristianismo” ou a Jesus pode ser considerado um crime.
“Se eu acreditar que Jesus é Deus, eles vão me matar”, disse uma ex-muçulmana perseguida que não foi identificada por motivos de segurança. Abandonar o islã é um dos maiores pecados que um muçulmano pode cometer.
Sabe-se que o material didático usado nas escolas do país estão repletos de “linguagem de ódio” contra os cristãos e de outras religiões que rejeitam o islamismo.
Para exemplificar, um livro didático do quinto ano declara que “é dever de todo muçulmano excomungar os ‘kifars’, que significa descrentes”. O material ordena: “Aquele que não excomunga-los ou duvidar da infidelidade religiosa deles pode se considerar também um descrente”, explica a Portas Abertas.
A Arábia Saudita tem sido pressionada para reformular o conteúdo do currículo escolar desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Apesar das autoridades terem prometido a correção, o relatório mostra que não houve mudança nos últimos 12 anos.
Um dos casos que chamou atenção da imprensa foi a prisão de 28 cristãos que participavam de uma reunião de oração na casa de um indiano, na cidade de Khafji (cidade na fronteira entre Arábia Saudita e Kuwait). Um ministro do governo saudita afirmou não ter conhecimento das prisões, mas o caso foi relatado em vários meios de comunicação do país.
Apesar da perseguição, há um crescimento no número de cristãos. De acordo com um relatório da Portas Abertas, o cristianismo era praticamente inexistente há 10 anos, quando havia apenas 50 cristãos na Arábia Saudita, em 1910.
Em 2010, o cristianismo explodiu para 4,4% da Arábia Saudita. Apesar de não ser uma maioria, os dados representam o crescimento significativo na região. Em 2022, é possível que o número de cristãos seja ainda maior.