Na última terça-feira (28), uma megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha levou o Rio de Janeiro a decretar estado de emergência. Após a reação da facção, que lançou bombas por meio de drones, o Rio se transformou em um cenário de guerra.
A Operação Contenção, que foi a mais letal da história do Estado, deixou 132 mortos, sendo 4 policiais (dois civis e dois militares do Bope).
As vias da cidade também sofreram um grande impacto, como a Avenida Brasil e a Linha Amarela. Escolas municipais e estaduais foram fechadas, unidades de saúde suspenderam o atendimento, igrejas cancelaram suas atividades e diversas linhas de ônibus tiveram seus trajetos desviados.
Nas redes sociais, muitos chegaram a comparar as imagens das bombas com a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
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Em meio à tensão que tomou conta do Rio de Janeiro, o Guiame ouviu militares da segurança pública que também compartilham da fé cristã, ressaltando a importância de unir fé e responsabilidade diante da crise.
Para um subtenente aposentado do BOPE, a operação foi “sangrenta, porém necessária”. Ele avaliou que o cenário de violência é resultado de um “sistema corrompido e da falta de continuidade nas políticas públicas”.
“É um momento de reflexão sobre o país que queremos deixar para nossos filhos. Isso exige fé em Deus, coragem e oração, mas também responsabilidade e ação”, afirmou.
E continuou: “Homens são mais amantes de si mesmos do que de Deus e buscam associações para alcançar poder absoluto; com isso, pisam sobre a Constituição, sobre princípios e valores cristãos. Hoje não se vê o país com seus poderes Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando em harmonia; estão corrompidos”.
“Hoje, talvez o remédio para o tratamento tenha que vir de fora. Porém, se o país se unir nas urnas, poderemos eleger novos políticos com capacidade de conter o avanço da corrupção nos poderes da União. É preciso, nós como cristãos, orar a Deus pelo nosso país”, acrescentou.
Para outro subtenente da Polícia Militar, a megaoperação foi “extremamente necessária e positiva, uma vez que o Rio de Janeiro tem sido local de reuniões de traficantes de todo Brasil”.
“Positiva para que não haja um encorajamento dos novos jovens que pretendem entrar ou se deixam seduzir pelo crime”, explicou ele.
Para o militar, a crise na segurança pública está ligada ao aparelhamento em todas as esferas do poder público.
“No judiciário com vendas de sentença, e habeas corpus para criminosos. No legislativo, onde estão infiltrados para dar sustentação às ações criminosas através de influência e associação a outros órgãos do poder público. No executivo, que como administrador, não exerce o papel como deveria na área de segurança pública em prol do cidadão cumpridor das leis vigentes”, disse ele.
No campo espiritual, ele destaca a importância da oração para resistir aos desafios e permanecer firme, citando a passagem bíblica de João 16:33:
“‘Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo. Jesus Cristo não aboliu a lei estabelecida. Como cristão devemos obedecer às autoridades constituídas e zelar pelo bem Espiritual e material do nosso próximo’”.
Já um pastor, que atua como 3° sargento da Polícia Militar, declarou: “Com base no que disse o nosso Governador em Entrevista: ‘A operação foi muito boa, apesar do ponto negativo de haver 04 dos nossos vindo a óbito’. Isso nos deixa muito tristes, apesar do resultado positivo”.
E continuou: “Na minha visão, o cumprimento de promessas, a Bíblia está repleta de textos que falam da corrupção, Lucas 17 e Mateus 18. Temos as pedras do tropeço, que podem ser interpretadas como corrupção moral e espiritual. Creio que a corrupção, ligada ao 'ser amante de si mesmo', é algo tanto moral quanto espiritual, sendo o nosso maior problema”.
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Mais de 132 pessoas morreram na operação. (Foto: Reprodução/Agência Brasil)
Por fim, o pastor observou como acredita que a Igreja brasileira deve agir diante deste cenário:
“Orar seria a resposta mais comum, porém Jesus nos ensinou mais sobre comportamento do que sobre oração — isso deve nos dizer alguma coisa. Creio que a igreja precisa ser igreja: ser honesta sobre o dinheiro, desde a propina até a caneta não devolvida. A igreja não faz a diferença que poderia fazer porque a luz não brilha (Mt 5.16). O mundo precisa ver as boas obras; atos e ações devem falar por aqueles que representam. Vamos aos montes orar, participar de congressos de ativação espiritual em busca de algo extraordinário, mas isso deveria se refletir quando nos relacionamos com os outros — no ordinário do dia a dia. Não damos de comer, nem de beber, nem doamos agasalhos, nem visitamos presídios, etc. É necessário cuidar também dos elementos pessoais, e não apenas do coletivo”.
“Precisamos ser igreja e dar lugar às ações ordinárias da vida, nas quais o Espírito Santo deseja nos conduzir”, concluiu.
A megaoperação no Rio
Na manhã desta quarta-feira (29), a Praça da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, amanheceu com uma fila de corpos cobertos por lonas.
Segundo a CNN Brasil, mais de 60 corpos teriam sido retirados por moradores da área de mata do Complexo da Penha durante a madrugada.
No entanto, até o momento, os órgãos oficiais não confirmaram se esses corpos já estão incluídos no balanço final da operação.
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Mesa com autoridades do Estado do Rio de Janeiro durante coletiva de imprensa sobre a Operação Contenção na Cidade da Polícia, no Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução/Agência Brasil)
A megaoperação foi uma ação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, que mobilizou cerca de 2.500 agentes das forças estaduais de segurança, foi resultado de mais de um ano de investigação conduzida pela DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SESP) e o Governo do Estado, a operação teve como principal objetivo conter a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes e líderes da facção.
Entre os alvos, 30 seriam criminosos vindos de outros estados — especialmente do Pará — que estariam escondidos nas comunidades alvo da ação.
Além das mortes registradas, a operação resultou na prisão de 81 pessoas, entre elas Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, apontado como operador financeiro do Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha e braço direito do chefe da facção, Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”.
Os militares também apreenderam 93 fuzis, número que supera o total mensal de apreensões dessa arma em quase todos os meses do ano, aproximando-se de um recorde histórico.