Na ONU, França reconhece Estado da Palestina oficialmente

Elaborada por França e Arábia Saudita, a “Declaração de Nova York” propõe um roteiro para a criação de um Estado Palestino.

fonte: Guiame, com informações do Elysee.gov e Reuters

Atualizado: Quarta-feira, 24 Setembro de 2025 as 9:57

O presidente francês Emmanuel Macron discursa no plenário da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. (Captura de tela/YouTube/ONU)
O presidente francês Emmanuel Macron discursa no plenário da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. (Captura de tela/YouTube/ONU)

Na conferência sobre a solução de “dois Estados”, realizada na sede da ONU em Nova York, na segunda-feira (22), o presidente francês Emmanuel Macron anunciou: “Hoje, a França reconhece o Estado da Palestina.”

A decisão, já sinalizada em junho, foi oficializada na “Conferência sobre a Implementação da Solução de Dois Estados e a Solução Pacífica da Questão da Palestina”, realizada na segunda-feira (22), na sede das Nações Unidas.

Elaborada pela França e pela Arábia Saudita, a “Declaração de Nova York” – documento que propõe um roteiro para a criação de um Estado palestino – foi aprovada em 12 de setembro de 2025 e recebeu o apoio de 142 Estados, entre eles o Brasil.

Condenado por Israel

A decisão foi reiterada por Macron em seu discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (23):

“Esse reconhecimento é uma forma de afirmar que o povo palestino não é um povo a mais. Pelo contrário, os palestinos são um povo – como nos ensinou Mahmoud Darwich – que nunca desiste de nada. Um povo orgulhoso de sua história, de suas raízes e de sua dignidade.”

O anúncio francês, acompanhado por outros aliados ocidentais que também reconheceram o Estado palestino, foi recebido com aplausos no plenário e condenado por Israel e por setores do governo dos EUA.

Relatos apontam que Reino Unido, Canadá e Austrália, além de Bélgica, Luxemburgo, Portugal e Malta – que já haviam sinalizado informalmente a mesma intenção – se juntaram à França.

Entre os votos contrários estavam Israel, EUA, Argentina e Hungria.

Já alguns países optaram pela abstenção, sem aderir nem manifestar apoio explícito.

“Missão de paz”

O texto da resolução condena os ataques de 7 de outubro de 2023, perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses.

A resolução estabelece que a Autoridade Palestina assuma o governo e o controle integral de todo o território palestino, com a criação imediata de um comitê administrativo de transição assim que for alcançado um cessar-fogo em Gaza.

“O Hamas deve pôr fim ao seu domínio em Gaza e entregar as suas armas à Autoridade Palestiniana”, diz a declaração, acrescentando que deve também libertar todos os reféns.

Também prevê o envio de uma “missão internacional temporária de estabilização” para Gaza, sob mandato do Conselho de Segurança da ONU, para garantir segurança, apoio à transição administrativa e proteção da população.

Troca pública de farpas

Segundo a Reuters, nos bastidores da cúpula, Macron manteve uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Donald Trump, com troca pública de farpas sobre o tema.

Trump classificou reconhecimentos como “recompensa ao Hamas”, enquanto Macron sustentou que a medida não relativiza o terrorismo e visa destravar o caminho político.

Israel e seus apoiadores rejeitam a declaração, argumentando que ela enfraquece canais diplomáticos formais e pode ser vista como uma afronta ao direito de autodefesa israelense.

Diplomatas avaliam que o reconhecimento aumenta a pressão por um roteiro concreto de dois Estados, mas não substitui negociações diretas nem define, por si, fronteiras, status de Jerusalém ou segurança.

Por ser não vinculativa, a declaração não força os Estados a agir nem impõe mecanismos legais de execução.

O Conselho de Segurança da ONU, que detém poder para mandatos vinculativos (como missões de paz), pode enfrentar vetos ou bloqueios políticos por atores-chave.

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