Pastor resgata mais de 5 mil pessoas do crime no Acre: “A saída é a igreja”

Arnaldo Barros lidera o projeto ‘Paz no Acre’, onde negocia com facções criminosas o desligamento de pessoas que decidiram seguir Jesus.

fonte: Guiame, com informações de Folha de São Paulo

Atualizado: Quinta-feira, 24 Julho de 2025 as 12:49

Arnaldo Barros. (Foto: Reprodução/Instagram/Arnaldo Barros)
Arnaldo Barros. (Foto: Reprodução/Instagram/Arnaldo Barros)

No Acre, o pastor Arnaldo Barros, de 56 anos, tem chamado atenção por liderar um projeto que ajuda homens e mulheres a deixarem facções criminosas por meio da fé em Jesus. À frente da Igreja Geração Eleita, ele já resgatou mais de 5 mil ex-integrantes de organizações criminosas.

Em vídeos compartilhados nas redes sociais, Arnaldo aparece ao lado de ex-membros de facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital), o CV (Comando Vermelho) e o Bonde dos 13, facção local do estado — para realizar o desligamento dessas pessoas da vida do crime.

O projeto Paz no Acre busca utilizar a igreja como uma forma de justificar, diante dos chefes do tráfico, a decisão de deixar a vida no crime.

"Quando chego para o cara e tiro ele do crime, ele me passa o número dos superiores dele, e eu mando o vídeo", explicou o pastor à Folha de São Paulo.

Muitas facções criminosas seguem estatutos próprios que autorizam a saída de membros que decidem seguir o Evangelho.

Segundo o pastor, no caso do Bonde dos 13 (B13), uma das regras é clara: “A saída é a igreja”. Caso contrário, a alternativa costuma ser a morte.

A realidade no Acre é agravada pela forte atuação do crime organizado, impulsionada pela localização estratégica do estado, que faz fronteira com países usados como rota do tráfico de drogas.

Testemunhos

Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, Arnaldo, que também é ex-vereador em Rio Branco pelo Podemos, aparece dentro de um carro e anuncia: "Vamos desligar um jovem de uma certa facção, que está baleado".

Dois homens que deixaram a vida no crime para seguir Jesus aparecem no banco do carona. Um deles é ex-membro do PCC, conhecido pelo vulgo CFK, e o outro é ex-integrante do CV, anteriormente chamado de Tubarãozinho.

Em seguida, eles chegam a uma casa para resgatar um homem com tornozeleira eletrônica, que fazia parte do B13. No local, o rapaz mostra cicatrizes de múltiplos tiros que levou, sendo um deles no peito, próximo ao coração.

Ao mostrar as cicatrizes do rapaz, o pastor disse: “Ele ficou deficiente da perna". Então, o homem afirma que, ao se desligar do crime, vai cuidar da saúde e do filho.

"Agora ele vai estar congregando na igreja", acrescentou o pastor no local.

Arnaldo também contou o testemunho de um homem que que largou o B13, onde falsificava dinheiro e era traficante. Após 10 anos no presídio, ele teve a vida transformada.

Outro caso, foi a história de Antonia, de 36 anos, que relatou: "Em 2020, conheci a Palavra de Deus e resolvi me render aos pés Dele para largar toda a minha vida errada de prostituição, de engano. Tudo aquilo que eu fazia errado deixei para trás".

Nos últimos cinco anos, ele construiu uma família e contou: "Deus tem derramado bênção transbordante sobre a minha vida".

Já Rodrigo, de 24 anos, disse que procurou o pastor pois "não queria mais fazer parte da organização (CV)". O jovem, que respondia pelo vulgo Carioca, começou na vida do crime aos 14 anos. 

"Queria ter um celular, uma camisa de marca, um tênis da Nike também, e eu não podia porque não tinha condições", relembrou ele.

Então, ele passou a vender cocaína, crack e skank (uma espécie de supermaconha). Como não era viciado em nenhuma dessas drogas, Rodrigo foi reconhecido pela competência e subiu rápido na hierarquia do crime. 

"Aí virei o gerente da boca em 2017, quando começou [um conflito entre facções]. Fui fazer parte do grupo de extermínio do Comando Vermelho. Era um clima de guerra muito sinistro. A gente não podia dormir com medo de ser encontrado e morto", contou ele.

‘A igreja é a única solução’

Autor do livro “A Fé e o Fuzil – Crime e Religião no Brasil do Século XXI” e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Paes Manso afirma que a igreja se tornou “a única porta de saída” do tráfico. Isso porque, com o tempo, muitos que conseguem envelhecer na vida criminosa acabam percebendo que fizeram uma escolha equivocada ao ingressar nesse caminho.

“Você abandona seus laços afetivos mais importantes — esposa, filhos, irmãos, mãe — para viver na correria, numa trajetória sofrida e vazia”, relatou o pesquisador.

Ele explicou que, por esse motivo, é comum que esses criminosos respeitem aqueles que decidem deixar o crime para seguir o cristianismo, especialmente nas periferias, onde a presença das igrejas evangélicas é forte.

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