Depois de seis meses aprendendo a língua portuguesa na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cinco jovens haitianos começaram os cursos de graduação. O objetivo deles é voltar e reconstruir o país, destruído por um terremoto em janeiro de 2010.
Todos estudavam em universidades do Haiti quando aconteceu a catástrofe. “Estava dentro da universidade assistindo aula, houve os abalos e o piso caiu”, disse o estudante de medicina Georges Dorilien.
O terremoto devastou o país, matou 200 mil pessoas e deixou um milhão de desabrigados. As universidades ficaram destruídas e as aulas só foram retomadas de maneira improvisada.
A falta de perspectiva motivou os jovens a saírem do país em busca de um futuro. Eles chegaram em São Carlos para estudar na UFSCar há oito meses. Apesar de ainda terem dificuldades com o português, já conseguem se comunicar.
Eles moram na mesma casa. Ouvindo músicas e vendo fotos, conseguem amenizar a saudade da família e de casa. “Quando eu fico olhando as fotos eu fico com muita saudade”, disse o estudante de engenharia da computação Alidieu Liberiste.
Os haitianos foram para UFSCar com apoio do Ministério da Educação (MEC). Só outras três universidades em todo o país aderiram ao programa de ajuda humanitária. Os estudantes recebem uma bolsa de estudos de R$ 750 por mês e as refeições no restaurante universitário. “Eu particularmente acho que a UFSCar ganha mais do que dá. O contato com diferentes culturas certamente agrega muito valor, não só na formação dos próprios estudantes como dos próprios funcionários e professores, que tem a oportunidade de ensinar e aprender”, disse a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Cláudia Martinez.
Raynord Mayard estava no quarto ano de engenharia civil na Universidade Americana de Ciências Modernas do Haiti e está fazendo o mesmo curso na UFSCar. “Tem bastante diferença no nível do ensino, porque o volume de trabalho a fazer aqui é bem diferente”, explicou.
Segundo o professor do Departamento de Engenharia Civil Simar Vieira de Amorim, Mayard ainda tem algumas deficiências que podem ser sanadas na universidade. “Ele vai levando para o país dele uma contribuição brasileira”, destacou.
Apesar da distância de casa, da família e muitas vezes com dificuldade de acompanhar os colegas de turma, o mais importante para eles é o esforço para ajudar na reconstrução do próprio país. “É estudar, continuar o meu curso e depois voltar para ajudar. O país precisa de nós”, disse o estudante de ciências da computação Enoc Pierri.