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Racismo velado, mágoa e ironia marcam reencontro com Aranha

fonte: Terra.com

Atualizado: Sexta-feira, 19 Setembro de 2014 as 2:32

Gremistas pegaram no pé de AranhaA volta de Aranha à Arena na noite de quinta-feira, 21 dias após o episódio de injúria racial, foi marcada por um embate de opiniões dentro e fora dos campos no empate sem gols entre Grêmio e Santos. A torcida tricolor ainda se mostrava magoada com a punição que excluiu o time da Copa do Brasil, enquanto o goleiro deixou o gramado reclamando das vaias que recebeu por julgar que eram um sinal de que o público concordava com as ofensas dirigidas a ele naquela noite de 28 de agosto. Mas era possível sentir a ironia e o racismo velado nas falas de algumas das pessoas que opinaram sobre o assunto.

Em um bar localizado em frente ao estádio, um senhor pediu para falar sobre o reencontro com Aranha, e disse que ele seria chamado pela torcida de “branquinho do Santos” ou “orelha de elefante”. “Até o Pelé falou que ele se precipitou”, justificava Luiz Fernando Souza, dizendo ainda que, agora, “macacos” eram apenas rivais colorados. “Eles têm um macaco na Camisa 12”, afirmava, referindo-se a uma torcida organizada daquela equipe, e sem considerar suas declarações racistas.

Um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho das Nações Unidas (ONU) mostrou os problemas do “racismo institucional” no País, porque, apesar dos avanços, a população negra ainda está muito exposta ainda a desigualdades em diferentes aspectos.

No mesmo bar, comendo um pastel, um senhor que se identificou apenas como Luis Antônio reclamava da imprensa do centro do País e da imprensa vermelha, que é como os gremistas se referem a jornalistas que eles consideram favoráveis ao Internacional. Para ele, o ataque ao Grêmio tinha outros motivos, uma vez que um clube de fora do eixo Rio-São Paulo estava crescendo na tabela.

“Em 1995 a imprensa do centro do País caiu de pau contra o Grêmio, dizendo que o futebol do Sul era muito violento, que era maldoso, que aqui só tinha pauleira. Estão tentando criar uma imagem ruim do time, desqualificando a torcida”, opinava.

Próximos do estádio, um grupo de jovens tricolores bebia cerveja em volta de um carro. Eles reclamavam da punição, que consideraram excessiva, dizendo que as injúrias são algo que sempre aconteceu, mas depois da reclamação de Aranha, o Grêmio foi usado como exemplo. Colocaram ainda da forma como Patrícia Moreira da Silva (a menina flagrada nas imagens de TV) foi julgada nacionalmente. Entretanto, eles pediam que o time desse resposta dentro do campo, mas não foi o que aconteceu no empate sem gols, graças a pelo menos duas grandes defesas do goleiro santista.

Outros torcedores como os irmãos Adriana e Dejair Silveira reclamavam das declarações do presidente da Fifa, Joseph Blatter, que elogiou a punição do Grêmio, mas que nada disse sobre o episódio de racismo dos torcedores peruanos do Real Garcilaso contra Tinga, do Cruzeiro, em partida válida pela Libertadores, no começo do ano, nem sobre a morte de Kevin Espada, atingido por um sinalizador atirado por corintianos, no ano passado.

“Existem coisas mais graves, porque ele não falou nada sobre o que aconteceu com o Tinga, ou da morte daquele menino na Bolívia”, criticava Adriana. Entretanto, ela condenava o que aconteceu com Aranha, e dizia que ela mesmo ia fiscalizar a torcida para denunciar excessos.

O clube colocou microfones em frente a arquibancada para flagrar possíveis insultos, que não ocorreram, e a polícia reforçou o efetivo, caso precisasse atender um número elevado de ocorrências.

Ao todo, Aranha ouviu 29 vaias, quase uma a cada três minutos. Cada vez que ele encostava na bola, até mesmo fora de jogo, o coro era grande. Mas ele parecia não se afetar. Na saída se dirigiu aos microfones para reclamar da postura da torcida. Foi também xingado em ao menos seis ocasiões. Na sua opinião, aquilo demonstrava que os tricolores apoiavam o que tinha acontecido.

"Fiquei triste porque deu para ver qual é o pensamento do torcedor gremista. Não foi só a garota. Ela é quem está pagando, principalmente porque apareceu, mas tinha muita gente se manifestando hoje contra a minha atitude, sendo que a única coisa que fiz foi relatar ao árbitro. É a justiça, é a lei, a punição tem que servir para ensinar", disse o goleiro.

Marcelo Grohe, goleiro do Grêmio, amenizou as vaias dizendo que “dificilmente vou ser tratado com carinho quando vou jogar na Vila (Belmiro)”. Ele disse ainda que o que aconteceu foi uma lição para todos, mas rebateu as reclamações do adversário. “O pessoal vai me xingar, me vaiar, assim como toda nossa equipe. Ele está no direito dele, opinião dele, a gente respeita.”

 

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