“Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas.” (Lucas 11:35)
Hanukkah, a Festa das Luzes, celebra a vitória dos bravos Macabeus contra o império selêucida. Após uma renhida luta de quase três anos, o improvável aconteceu. Um número bem inferior de sacerdotes, homens não preparados para a guerra, venceu um exército muito superior em número e qualidade. Foi a vitória da fé e, por si só, um milagre. Entretanto, o milagre de Hanukkah é uma referência à multiplicação do azeite da menorá que durou oito dias, quando só havia quantidade para um, após a reconquista e dedicação do Templo.
A multiplicação do óleo da menorá parece ser um milagre único na história de Israel. Uma vez que o azeite na Bíblia representa o Espírito Santo, o milagre de Hanukkah nos ensina muita coisa. Se buscarmos dentro de nós seu Espírito, ainda que nossa lâmpada esteja tênue e quase se apagando, Ele é capaz de multiplicar sua unção e nos incendiar por seu poder e sua Palavra, tornando nossa luz forte e vivaz.
Um corajoso ato de fé
O rabino norte-americano Jason Sobel conta uma história de Hanukkah incrível ocorrida no início da Segunda Guerra Mundial. Por ter perdido vários familiares no Holocausto, essa é uma história que lhe é muito estimada.
Ele conta que um judeu, encarregado dos cânticos em uma sinagoga local, conseguira obter documentos falsos para si e sua família a fim de fugir da perseguição nazista na Alemanha. Eles pegaram um trem para atravessar a fronteira e, quando estavam prestes a cruzá-la, uma parada foi feita para verificação de documentos pelos guardas nazistas. O cantor da sinagoga e sua família ficaram naturalmente preocupados porque portavam documentos falsos e sabiam que, se fossem descobertos, seriam mortos.
De repente, todo o trem ficou sem energia elétrica. Num impulso inexplicável, o pai de família pegou uma menorá em sua bagagem, pôs as velas no lugar, recitou a bênção apropriada, acendeu-as uma a uma e a pôs na janela do trem para que qualquer um pudesse vê-la iluminada. Sua família, assustada para dizer qualquer palavra, pensou que ele houvesse enlouquecido, mas ele agia naturalmente. Era a última noite de Hanukkah. Ouviu-se uma batida na porta da cabine; eram os guardas nazistas. Um deles lhe disse:
— Você é uma pessoa muito sábia por trazer velas de viagem para emergência. Podemos usar seu candelabro para verificar os documentos das pessoas? — ao que o judeu consentiu com naturalidade.
Os nazistas, então, usaram sua menorá para verificar a documentação de todos os passageiros, o que levou um bom tempo, deixando de verificar apenas a do judeu e de sua família. Ao final da inspeção, devolveram-lhe a menorá agradecidos. Em seguida, o trem foi liberado e eles cruzaram a fronteira alemã rumo à liberdade.
Então, aquele zeloso judeu se voltou para seus familiares e disse:
— Vocês acabaram de testemunhar um milagre de Hanukkah dos tempos modernos. Nunca esqueçam disso.
Retirar a menorá da bagagem e iluminá-la foi um corajoso ato de fé que abriu caminho para um novo milagre de Hanukkah. Ao fazê-lo, aquele homem se igualou aos intrépidos Macabeus em sua cruzada de fé contra os gregos selêucidas. Ele queria não apenas que seus filhos experimentassem o poder de Deus, mas também que nunca desistissem de sua fé nem perdessem a esperança, assim como os Macabeus. Segundo as palavras do rabino Sobel, você pode viver sem comida ou água por um tempo, mas não pode viver sem fé nem esperança.
A luz sempre prevalece
Em todas as passagens das Escrituras em que algum filho de Deus demonstrou sua fé corajosamente, Deus o honrou de algum modo. Foi assim com Abraão ao deixar sua terra natal ou ao sacrificar seu único filho Isaque; com Gideão ao enfrentar um exército muito superior com seus 300 homens; com Davi ao enfrentar o gigante Golias; com Elias ao enfrentar os profetas de baal; com Pedro e os demais discípulos ao desafiarem as autoridades religiosas para pregarem as boas novas; com Paulo ao testemunhar ousadamente perante as autoridades romanas etc.
A história de Hanukkah em si é uma inspiração de fé e coragem para todos os que professam o nome do Deus de Israel em todas as eras, incluindo o próprio Yeshua, que a celebrou abertamente no Templo, conforme o Evangelho de João. Neste mesmo Evangelho, Ele declara: “Eu sou a luz do mundo” (Jo. 8:12). Ele é a menorá que ilumina as trevas deste mundo mau. Tudo o que precisamos fazer é brilhar essa mesma Luz que habita em nós.
Quando a energia elétrica faltou naquele trem prestes a cruzar a fronteira alemã, todas as pessoas se viram em trevas profundas. Um homem decidiu que o certo a fazer era acender sua menorá e brilhar sua luz para que todos vissem, sem medo da morte nem do mal que os nazistas pudessem lhe causar. Deus não somente o livrou, mas honrou sua coragem e sua fé. Ele conhecia a história dos Macabeus e apenas seguiu seu exemplo inspirador.
O mundo em que vivemos está exatamente como aquele trem na fronteira, sem luz, afundado em densas trevas. Os filhos da luz dessa geração precisam se levantar, como fez aquele nobre judeu, ao acender com ousadia sua menorá, e brilhar a Luz do mundo que vive dentro de si. Se temos a Luz de Yeshua, por que deixaríamos o ambiente ao nosso redor submergir em profundas trevas?
Deixar as trevas prevalecerem e esconder nossa luz é um ato de covardia, e os covardes não herdarão o Reino de Deus. Se seguirmos a mesma coragem exemplar dos Macabeus, honraremos a Deus, como fizeram eles há mais de dois milênios. E veremos, como eles testemunharam em seu tempo, que a luz sempre prevalece. Esse é o milagre de Hanukkah.
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Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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