Os cristãos no Iraque não conseguiram celebrar as derrotas do grupo terrorista do Estado islâmico por muito tempo, disse um trabalhador cristão que tem ajudado a Igreja Perseguida há mais de 10 anos, observando que eles não receberam nada além de "palavras bonitas" em termos de ajuda real dos países ocidentais.
William Hollander, missionário e colaborador da Missão Portas Abertas no Iraque e países vizinhos, disse ao 'Christian Post' em uma entrevista por telefone na sexta-feira que promessas quebradas e ameaças renovadas estão tornando o destino dos cristãos no Oriente Médio cada vez mais incerto.
"Eles comemoraram no ano passado, depois que a cidade de Qaraqosh foi resgatada. As pessoas ficaram muito felizes. Mas então descobriram que a maioria das casas foram destruídas ou precisavam de grandes reformas", disse Hollander, observando que as celebrações se transformaram em tristeza.
Ele observou que nos últimos três anos, vários países ocidentais se comprometeram em ajudar os cristãos no Iraque e no Oriente Médio, que precisam de ajuda para reconstruir suas casas. Mas até agora, a comunidade cristã não recebeu nada.
"Não vemos nada. O que foi prometido não está acontecendo", disse Hollander. "A grande frustração para os cristãos e todos no momento é que [eles] estão sendo traídos pelos poderes políticos de seu país, e novamente estão em uma situação em que eles devem correr para campos de refugiados".
Contexto
Os comentários do missionário surgem poucos dias depois que o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, anunciar que os dias de cristãos que receberam pouca ou nenhuma ajuda do governo dos EUA para reconstruir suas comunidades antigas "acabaram".
Em um discurso proferido no jantar "Em Defesa dos Cristãos" na semana passada, Pence disse que o presidente Donald Trump ordenou ao Departamento de Estado que habilite o financiamento da ajuda dos EUA para ir diretamente a organizações religiosas que apoiam ativamente os cristãos e outras minorias religiosas deslocadas pelo Estado Islâmico.
Até agora, todo o financiamento de auxílio humanitário e de reconstrução enviado pelos EUA ao Iraque teve que passar pela ONU e, embora os EUA tenham dado mais de US$ 1 bilhão em ajuda humanitária e centenas de milhões em ajuda à reconstrução, quase nada dessa quantia chegou às comunidades cristãs.
Apenas algumas pequenas organizações no Iraque estão ajudando os cristãos a reconstruir suas casas e apoiar as pessoas a voltar para a escola, de acordo com Hollander.
"Uma das razões pelas quais estamos aqui no Iraque, é se opor à perseguição dos cristãos e apoiar os crentes que decidiram permanecer no Iraque, apesar dos grandes desafios", disse.
Enquanto os cristãos começaram a retornar às cidades lentamente em agosto, muitos já foram forçados a sair, ele observou.
"De um lado, eles esperam que poder voltar e realmente querem voltar", disse ele. Por outro lado, eles podem reconhecer grandes perigos, enquanto "eles podem ver que o Estado Islâmico pode ser derrotado, mas sua ideologia extremista".
O Estado Islâmico foi expulso de uma série de cidades importantes para os cristãos, incluindo Qaraqosh no Iraque e, mais recentemente, Raqqa na Síria. Apesar disso, várias instituições de caridade, como a 'Ajuda à Igreja Necessitada', alertaram que, a menos que ações concretas sejam adotadas por líderes mundiais, os cristãos no Oriente Médio podem continuar a ser dizimados.
Centenas de famílias cristãs que retornam às Planícies de Nínive foram novamente forçadas a fugir de suas casas, após as batalhas entre as forças da Peshmerga curda e os soldados iraquianos no início deste mês.
Hollander explicou que tais fatos são um grande revés, uma vez que os grupos de ajuda têm encorajado as pessoas a voltar, apenas para que enfrentem bombardeios renovados e sejam forçados a "fugir novamente para salvar suas vidas".
Êxodo
A população cristã no Iraque diminuiu significativamente, disse ele, de cerca de 1,5 milhão de 2003 para cerca de 200 mil hoje. Ele disse que o "êxodo" também ocorreu na Síria durante sua guerra civil, considerando que de 1,7 milhão de cristãos, restaram apenas 700.000 a 800.000.
Os cristãos e outras minorias sofreram fortemente nas mãos do terrorismo islâmico, e ele disse que ouviu muitas histórias de crentes sequestrados, torturados e mortos.
Os seguidores de Cristo foram mortos, mesmo depois que suas famílias pagaram resgates aos jihadistas e ele observou que falou com grupos inteiros de fiéis, onde cada família teve um membro sequestrado ou morto.
Embora o Estado Islâmico esteja perdendo território agora no Oriente Médio, Hollander advertiu que a ameaça de ataques radicais está longe de terminar.
"Eles têm medo de células terroristas adormecidas, as pessoas estão muito preocupadas", disse ele, observando que "a taxa de criminalidade está aumentando".
"As pessoas estão muito preocupadas com tudo o que está acontecendo", afirmou.