
Uma série de ataques realizados por militantes islâmicos na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, deixou mais de 35 mortos, incluindo cristãos.
Os ataques ocorreram entre 22 de julho e início de agosto de 2025, com episódios de decapitações, sequestros, destruição de igrejas, casas e literatura cristã.
Os cristãos estão entre os alvos de uma série de ataques devastadores de militantes do Al-Shabaab na província.
Além das pessoas assassinadas pelo grupo terrorista, pelo menos dez foram sequestradas, milhares foram deslocadas e igrejas e casas foram destruídas.
E m 22 de julho, cinco pessoas foram decapitadas na aldeia de Intutupue após serem flagradas produzindo uma bebida alcoólica caseira, considerada pecaminosa pelos insurgentes.
O Al-Naba, veículo de propaganda do autoproclamado Estado Islâmico (EI), descreveu posteriormente as vítimas como “cinco infiéis cristãos capturados”.
Foco em cristãos
Embora não haja confirmação de que todas fossem cristãs, tanto a violência quanto a narrativa extremista sugerem um direcionamento intencional contra crentes.
Dois dias depois, militantes atacaram o Comando Distrital de Polícia em Chiúre Velho, incendiando diversas estruturas públicas – entre elas, uma escola, uma unidade de saúde e a delegacia local.
Em um vídeo divulgado online, os insurgentes afirmam: “Os cristãos devem se converter ao Islã se quiserem escapar do sofrimento e alcançar a salvação no Céu.”
Em 28 de julho, militantes atacaram a aldeia de Naparama, deixando 18 mortos e destruindo casas e motocicletas durante a investida.
Em 30 de julho, a aldeia de Muanquina foi alvo de um ataque militante que resultou na destruição de duas igrejas, uma casa de oração e 43 residências de cristãos.
Bíblias e outros materiais cristãos foram rasgados, enquanto pertences pessoais foram saqueados. Há suspeita de que um pastor tenha sido sequestrado, e seu paradeiro permanece desconhecido.
Milhares de deslocados
Os ataques se intensificaram em agosto. No dia 1º, 15 cristãos foram mortos enquanto tentavam fugir da vila de Marera. Segundo líderes locais, as vítimas pertenciam a uma igreja da comunidade que havia sido incendiada pelos insurgentes dois dias antes.
Um jovem colaborador da igreja relatou que, em 3 de agosto, nove membros de sua família – incluindo crianças – foram capturados em Naphela enquanto tentavam escapar de um ataque.
Outros incidentes também foram relatados em Chitunda, Ntonhane, Maririn, Cobre, Ocua, Nassivare e Mahipa.
Os ataques provocaram o deslocamento de milhares de pessoas. Em Chiúre, por exemplo, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) estima que mais de 42 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas – mais da metade delas, crianças.
Desde janeiro de 2025, cerca de 95 mil pessoas foram deslocadas pela violência em Moçambique, somando-se aos mais de 1,3 milhão de deslocados desde o início do conflito em 2017.
Espalhar o terror
“Parece um ataque planejado, quase um evento anual”, disse um representante da sociedade civil em Moçambique.
“A agenda é mais profunda do que simplesmente atacar civis ou decapitar pessoas.”
“Eles podem queimar uma igreja e deixar uma mesquita intacta. Incendiar uma casa e poupar outra. Então nos perguntamos: como escolhem qual casa queimar? Estive em Palma recentemente – um dos distritos que mais sofreu. Os danos ainda são visíveis. Os cristãos não voltaram. Mas há mesquitas a cinco, dez minutos de caminhada. Por que os cristãos não retornaram? O mesmo acontece em Mocímboa. Podemos supor que os cristãos não estão organizados, mas a pergunta é: ‘Onde estão os cristãos agora?’ Isso mostra que não se trata apenas de coincidência.”
Ele acredita que a estratégia dos insurgentes é clara: “Espalhe o terror, force a fuga – e quando os moradores retornarem, os cristãos não estarão entre eles.”
'Orações são urgentes'
Fontes locais relatam que a cidade de Chiúre, sede do distrito, está sobrecarregada com centenas de famílias deslocadas – incluindo cristãos.
Em algumas casas, chegam a se abrigar entre 15 e 30 pessoas. A superlotação, somada à escassez de alimentos, aumenta a vulnerabilidade da população, especialmente entre crianças e idosos.
“Como eu gostaria de poder dirigir por qualquer parte deste país sem o medo de ser atacado”, disse uma fonte da Portas Abertas.
“Por favor, orem pelos que estão em necessidade. As orações são urgentes – e ações também. Orem por Cabo Delgado. Orem para que Moçambique se torne uma nação pacífica.”
Moçambique ocupa a 37ª posição na Lista Mundial da Perseguição.