Cristianismo corre o risco de ser "eliminado" em algumas partes do mundo pela perseguição

O governo britânico definiu 10 países prioritários em sua nova política externa, com o objetivo de proteger a liberdade religiosa.

fonte: Guiame, com informações do Christian Post

Atualizado: Terça-feira, 22 Julho de 2025 as 1:48

Homem orando na Coreia do Norte. (Foto representativa: Portas Abertas)
Homem orando na Coreia do Norte. (Foto representativa: Portas Abertas)

O cristianismo enfrenta o risco de ser “eliminado” de determinadas regiões do mundo diante do avanço da perseguição religiosa, advertiu David Smith, enviado especial do Reino Unido para a Liberdade de Religião ou Crença.

Em resposta, o governo britânico definiu 10 países prioritários em sua nova política externa, com o objetivo de proteger esse direito humano fundamental: Vietnã, Argélia, Índia, Nigéria, Paquistão, China, Síria, Ucrânia, Afeganistão e Iraque.

Smith afirmou que esses países foram selecionados devido à gravidade da necessidade, aos laços diplomáticos do Reino Unido e à possibilidade de progresso.

Deputado trabalhista por Northumberland, ele fez as declarações durante uma entrevista coletiva realizada no Ministério das Relações Exteriores e do Desenvolvimento da Commonwealth.

Cristão e ex-colaborador da Tearfund e da Sociedade Bíblica, Smith anunciou um novo plano estratégico para colocar a liberdade de religião (FoRB) como prioridade em países onde minorias religiosas enfrentam repressão ou atos de violência, segundo informações do Religion Media Centre.

380 milhões de perseguidos

Smith destacou que a perseguição, promovida por governos e também por grupos sociais, pode se manifestar de diversas formas, desde assédio policial, exclusão comunitária e detenções arbitrárias até a negação de cidadania, atos de tortura, ataques contra templos religiosos e até assassinatos. A análise se baseia em dados do Pew Research Center.

Ele citou dados recentes que mostram que 380 milhões de cristãos enfrentam perseguição em todo o mundo e alertou:

“A perseguição com base na religião ou crença, praticada pelos próprios Estados e grupos sociais, está ocorrendo em todos os continentes do mundo”.

Smith classificou o compromisso do Reino Unido como “um novo capítulo” na política externa, ressaltando que a liberdade religiosa está profundamente conectada a outros direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, consciência e reunião.

Intolerância religiosa

Entre os 10 países priorizados pelo Reino Unido, apenas Nigéria, Paquistão e Afeganistão figuram entre os 10 primeiros da Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas, que aponta os locais onde os cristãos sofrem maior repressão.

Já os países no topo dessa lista – como Coreia do Norte, Somália e Iêmen – não foram incluídos entre os focos da política externa britânica no momento.

Smith reconheceu essa lacuna e afirmou que países como Eritreia e Iêmen seguem sob sua responsabilidade por meio de esforços contínuos de advocacy, prática estratégica de defender causas e influenciar políticas públicas.

Ressaltou ainda que, embora a estratégia seja direcionada, isso não limita a atuação do Reino Unido em outras situações, inclusive na defesa de prisioneiros de consciência em diferentes partes do mundo.

O deputado ressaltou que a liberdade de expressão vai além da dimensão religiosa: trata-se de um pilar essencial para a saúde e o equilíbrio das sociedades.

"A intolerância religiosa e a perseguição podem alimentar a instabilidade e o conflito", disse ele. Ele acrescentou que proteger os direitos de crença é crucial para prevenir crises futuras, especialmente em países que enfrentam guerras ou divisões sectárias.

Estratégias 

A estratégia FoRB do governo do Reino Unido envolve cinco vertentes.

Em primeiro lugar, visa manter os padrões internacionais por meio de organismos como a ONU e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Em segundo lugar, incorporará a questão à diplomacia bilateral direcionada, incentivando missões individuais a levantar a questão da liberdade de religião (LCR) em capitais estrangeiras.

Em terceiro lugar, o Reino Unido fortalecerá as coalizões internacionais que trabalham pela liberdade religiosa.

Em quarto lugar, o Ministério das Relações Exteriores incorporará a questão da liberdade de religião (LCR) em sua programação principal de direitos humanos.

A quinta vertente envolve a colaboração com grupos da sociedade civil que trabalham com respeito e conscientização inter-religiosos.

Direitos fundamentais

Durante o briefing, Lord Collins de Highbury, ministro dos Direitos Humanos, reafirmou que o Reino Unido mantém há muito tempo a convicção de que os direitos fundamentais e o Estado de Direito são pilares que impulsionam a prosperidade e a resiliência global.

Ele acrescentou que seu gabinete já havia orientado os chefes das missões diplomáticas britânicas a integrar os direitos humanos, incluindo a liberdade de religião ou crença (FoRB), em todas as dimensões da atuação internacional.

Ele mencionou a libertação recente de dois indivíduos – o ativista ateu nigeriano Mubarak Bala e o pastor cubano Lorenzo Rosales Fajardo – como exemplos concretos de advocacy eficaz promovido com o apoio do Reino Unido

“Somente trabalhando juntos podemos construir um mundo onde todos, em todos os lugares, possam viver com dignidade, livres para acreditar – ou não acreditar – sem medo”, disse Lord Collins.

Durante um debate realizado em abril, Smith destacou que a trajetória histórica do Reino Unido – marcada pela transição da perseguição religiosa ao pluralismo – confere legitimidade à sua atuação diplomática em defesa da liberdade de crença.

Ele descreveu o país como “excepcionalmente bem posicionado” para liderar ações nesse campo, graças ao seu legado de direitos legais e de convivência pacífica entre diferentes tradições religiosas.

Relatório

A criação do cargo de enviado especial para a Liberdade de Religião ou Crença (FoRB) foi motivada por um relatório publicado em 2019 pelo então Bispo de Truro, Philip Mounstephen.

O documento revelou que muitos funcionários do Ministério das Relações Exteriores desconheciam a extensão da perseguição religiosa ao redor do mundo.

A partir dessas constatações, foram feitas recomendações para que a liberdade religiosa fosse oficialmente incorporada à política externa britânica.

Smith defendeu que a promoção da liberdade de expressão não favorece apenas as comunidades perseguidas, mas também pode beneficiar aqueles que praticam a repressão.

Segundo ele, garantir esse direito fundamental tem o potencial de abrir caminhos para novas oportunidades e liberdades, permitindo que essas nações alcancem prosperidade.

Ele reafirmou ainda seu compromisso em pressionar o governo britânico a agir com firmeza nesse campo.

veja também