
Caminhoneiros iranianos, dependentes químicos do Tajiquistão e russos em luta contra o alcoolismo encontram acolhimento em uma casa de reabilitação cristã, liderada por um ex-presidiário convertido.
Após sua conversão ao cristianismo, o russo Vladimir passou a evangelizar homens marginalizados e esquecidos pela sociedade, oferecendo não apenas abrigo e cuidado, mas também esperança por meio do Evangelho.
Ele alimenta, oferece abrigo e cuida das necessidades básicas desses vulneráveis. Mas, acima de tudo, compartilha o Evangelho: “Se as pessoas crerem nestas Palavras, suas vidas serão transformadas.”
Vladimir é uma figura bastante conhecida entre os batistas russos – e reconhecido por três características marcantes. A primeira é seu carro, repleto de versículos bíblicos e adesivos com a mensagem: “Jesus Cristo é o Salvador”.
Em segundo lugar, Vladimir se destaca por suas pregações incisivas, desafiando os fiéis a se levantarem para “alimentar os pobres e ajudar os necessitados”. E, por fim, ele é reconhecido por sua generosidade constante – sempre disposto a oferecer uma refeição gratuita em sua casa.
Antes, Vladimir vivia com a esposa e os quatro filhos em um modesto apartamento de dois cômodos na região de Moscou. No entanto, o espaço se mostrou incompatível com sua missão – o proprietário não aceitava a presença de moradores de rua, dependentes químicos e alcoólatras no local.
Diante disso, Vladimir deu um salto de fé e adquiriu uma ampla casa nos arredores da capital russa, onde pessoas em situação de vulnerabilidade pudessem encontrar abrigo, recomeçar e, com esperança, conhecer a Cristo.
Recursos
No novo imóvel, Vladimir instalou uma "casa de defumação" em seu quintal e explica. "Temos que ganhar dinheiro de alguma forma".
Vladimir compartilhou o que o motivou a adquirir a casa, que ele sonha transformar, futuramente, em um centro de reabilitação. Atrás dele, uma pilha de Bíblias aguarda para ser distribuída.
Carne de porco pendurada no defumador da nova casa de Vladimir, para gerar recursos para o ministério. (Foto: William Immink)
Sobre este projeto, Vladimir diz, com um suspiro profundo: "Estamos nos segurando".
“Está difícil, e não temos muitos recursos. Precisamos investir meio milhão de rublos (aproximadamente R$ 35.000,00) em uma bomba de água perfurada. Levar gás até a nossa porta exigirá mais meio milhão. Nem sequer temos um chuveiro para que as pessoas em situação de rua possam se lavar. Por isso, realmente esperamos e oramos para que Deus nos envie os meios para resolver isso.”
Conversão
Sobre sua conversão, Vladimir diz que “é uma longa história”.
E resume: “Tive uma vida difícil. Minha mãe nos criou – quatro filhos – sozinha. Meu pai estava na prisão. Quando eu tinha 20 anos e voltei do serviço militar, também cometi alguns crimes. Fui preso duas vezes, por doze anos. Eu era uma pessoa astuta, pecadora, mesquinha e vil.”
O caminho trilhado por Vladimir foi semelhante ao do pai.
“Bem, é previsível que você absorva o ambiente em que vive. No entanto, eu sempre estive em busca do sentido da vida. Cresci em um ambiente onde as pessoas viviam do jeito que queriam. E, no geral, todos sofrem e choram”, diz.
“Pessoas se entregam à bebida; alguém se enforca, alguém se afoga, crianças perdem os pais, e o pai de alguém abandona a mãe. Você percebe tanta injustiça, mentira e engano, e não entende o sentido disso tudo. Deve haver algum tipo de propósito”, reflete.
Sentido para a vida
Apesar dessa perspectiva, Vladimir posteriormente encontrou um sentido para a sua vida. Ele conta que em sua segunda pena de 12 anos, decidiu se cortar.
“Eu não queria cometer suicídio, mas queria sair da prisão e ir para o hospital. Queria descobrir a podridão de alguém", explica.
Vladimir mostrava cicatrizes profundas no pescoço, nos braços e no abdômen.
“Certa vez, quebrei uma lâmina de uma máquina e, numa noite, levei-a para o banheiro. Quando todos já estavam dormindo, comecei a cortar minha garganta, veias e o estômago. Foi horrível. Jatos de sangue saíam do meu abdômen, das mãos e da garganta. O espelho inteiro ficou coberto de sangue. Eu parecia um açougueiro”, lembra.
“Olhei para mim mesmo com horror. O que eu havia feito? Para onde eu estava indo? Foi como se um véu satânico tivesse sido retirado por um instante. Felizmente, os agentes penitenciários me encontraram ainda com vida, costuraram meus ferimentos e me colocaram em isolamento por cinco dias.”
Na cela de isolamento, Vladimir diz que ficou muito fraco, sem comer por cinco dias e com feridas infeccionadas.
“Senti como se estivesse morrendo e ainda não tivesse descoberto o sentido da vida. Isso me deprimiu muito. Percebi que estava num beco sem saída. E fiquei com medo."
Ele conta que não tinha medo da morte, mas tinha medo do que aconteceria depois da morte. “A julgar pela minha vida na Terra, nada de bom me esperaria lá. E então, clamei a Deus, gritei: ‘Senhor, se tu existes, então qual é o sentido?’"
Novo Testamento
Ele diz que esse foi o início da sua transformação, que avançou após a visita de um evangelista à prisão.
"Ele me deu um Novo Testamento. Prometi que leria, mas queria jogá-lo fora. E naquele momento, senti o Senhor dizendo: 'Você nunca concluiu nada'."
Vladimir diz que aquela frase o tocou, e começou a ler o Novo Testamento. “Li três passagens sobre o nascimento de Jesus Cristo, João 3 e o Dia do Juízo Final em Apocalipse”.
Ele conta que ficou em choque ao entender que Deus tinha um processo criminal contra ele. “Isso me fez ler mais a Bíblia. Mais tarde, quando finalmente cheguei ao hospital, fiquei lendo a Bíblia sem parar. Chorei muito naquela época.”
Vladimir diz que se apaixonou verdadeiramente por Cristo seis anos depois do seu segundo período preso, há 20 anos. “Lembro que era 24 de junho de 2005, quando me ajoelhei no chão do hospital e disse a Deus: Viverei como o Senhor me disser’”.
Ele conta que levei um tempo para entender o Evangelho por completo. Inclusive, ele só recebeu a Bíblia completa um tempo depois. A partir daí, ele leu o livro de Gênesis, e entendeu de onde vinha o pecado.
Vladimir diz que desde o início de seu relacionamento com Deus, se forçou a ser humilde e orava de joelhos na frente de todos. “Os outros presos viram a mudança, e muitos se tornaram crentes, e continuam até hoje."
Versículos da Bíblia
Após ser solto, Vladimir encontrou um jeito inusitado de evangelizar, colando muitos versículos da Bíblia em seu carro. Mas isso começou ainda na prisão, diz com um grande sorriso.
"Eu tinha um amigo, Aleksei, que costurava um pouco. Perguntei se ele poderia costurar um pijama novo para mim. Escrevi alguns versículos da Bíblia neles e, com linhas vermelhas, bordei desajeitadamente para que todos pudessem ler. Eu tinha o desejo não só de acreditar, mas de que outros também pudessem ler [os versículos]."
Vladimir e seu carro adesivado com versículos. (Foto: William Immink)
Para Vladimir, se as pessoas realmente crerem nas palavras escritas em seu carro, suas vidas serão transformadas. “Elas serão salvas do tormento eterno”, afirma.
Hoje, ele espalha versículos bíblicos por onde passa – em muros, cartazes, placas e qualquer lugar que sirva de testemunho. E nunca o incomodaram por isso.
"Apesar das dificuldades, Deus sempre abriu portas para que o Evangelho fosse pregado. Há apenas alguns meses, fui até Kursk (quando os militares ucranianos atacaram a região da fronteira russa) para levar Bíblias aos refugiados. Além disso, nos hospitais, raramente encontro portas fechadas.”
Pobres e necessitados
Sobre seu ministério de atender os pobres e necessitados, Vladimir explica que precisou ter um local exclusivo para eles.
“Bem, como eu disse, morávamos em apartamentos alugados e levávamos pessoas para lá. Os proprietários nos repreendiam por trazer pessoas em situação de rua para dentro de suas casas.”
Também ao levar aquelas pessoas à igreja, diz que a congregação também não ficava muito contente ao vê-las, por causa do cheiro.
“Então, tentamos enviá-las a centros de reabilitação. Logo percebi que esses centros funcionavam como casas de trabalho, onde pessoas em situação de rua podiam ser exploradas como mão de obra em Moscou”.
Vladimir hospeda vulneráveis em sua nova casa, adaptada como centro de reabilitação. (Foto: William Immink)
“Elas acabavam voltando para as ruas e, quando eu as reencontrava, estavam magoadas e perguntavam por que eu as havia mandado para lá. Foi então que entendemos: teríamos que fazer algo nós mesmos.”
Vladimir conta que comprar a nova casa foi um verdadeiro milagre.
“Certa noite, eu estava acordado e vi esta casa no meu celular. Imediatamente entendi que era a casa que eu precisava comprar. No entanto, eu não tinha o dinheiro. Então, orei para que o Senhor provesse, e começamos a economizar e arrecadar recursos. Os proprietários da casa acabaram nos dando 2 milhões de rublos e, com o valor que juntamos, conseguimos comprá-la.”
“Hoje, ainda moramos nesta casa. Ela está inacabada, mas esperamos que Deus continue tecendo este ‘tapete’. Por isso a chamamos de ‘casa-tapete’ – um tapete para os que precisam de descanso. Oramos para que Deus traga pessoas até nós. E também para que traga gás, água, recursos para reformas e um lugar onde os necessitados possam permanecer.”