As relações turco-israelitas estão em pauta depois do encontro de quarta-feira (9) entre os dois líderes, Isaac Herzog e Recep Tayyip Erdogan. Os dois concordaram em reconstruir suas relações, apesar das diferenças.
Herzog, o presidente de Israel, foi recebido com pompa e cerimônia por Erdogan, o presidente da Turquia. Durante vários anos, os dois países tiveram muitos conflitos.
Embora a visita de 24 horas não tenha ocorrido para a tomada de decisões executivas, “foi uma reunião de mais alto nível de um líder israelense na Turquia em 14 anos”, conforme o News York Times.
Sobre a reunião
Os dois presidentes e suas delegações se reuniram no complexo presidencial em Ancara, na Turquia. Houve um jantar em homenagem a Herzog e sua esposa Michal Herzog.
“Acredito que esta visita histórica será um novo ponto de virada nas relações entre Turquia e Israel”, disse Erdogan, ladeado por bandeiras israelenses e turcas, enquanto os dois presidentes faziam declarações após a cúpula.
Herzog disse que a visita representou “um momento muito importante nas relações entre os países”.
“Sinto que é um grande privilégio para nós dois lançar as bases para o cultivo de relações amistosas entre nossos estados e nossos povos”, disse ele ao destacar a “importância de construir pontes”.
Razões para desentendimentos
No passado, a Turquia era o país mais próximo de Israel no mundo muçulmano. Porém, houve desentendimento após um confronto mortal, em 2010, entre comandos israelenses e ativistas turcos.
Na ocasião, um navio de passageiros tentou romper o bloqueio naval de Israel à Faixa de Gaza — território costeiro palestino que está sob a controle do Hamas, o grupo militante islâmico.
O navio “Mavi Marmara” fazia parte de uma pequena frota que transportava ajuda para Gaza, quando comandos navais israelenses desceram de rapel e mataram nove ativistas, após encontrarem resistência violenta. Outro ativista morreu mais tarde devido aos ferimentos. Houve 10 vítimas no total.
As relações entre Turquia e Israel passaram por altos e baixos desde então. Em 2016, as relações diplomáticas foram retomadas plenamente, quando Israel concordou em pagar cerca de 20 milhões de dólares (equivalente a 100,4 milhões de reais) para compensar as famílias dos mortos no Mavi Marmara.
Sendo assim, a Turquia retirou as acusações criminais que havia feito contra os oficiais israelenses envolvidos no confronto. Israel também pediu às autoridades turcas que evitassem que os agentes do Hamas na Turquia orquestrassem ataques contra Israel. Mas esse acordo não durou muito.
Novos conflitos
No final de 2017, quando o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, as relações turco-israelitas sofreram nova queda.
Erdogan criticou duramente a política de Israel em relação aos palestinos na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, comparando os israelitas aos nazistas.
Turquia acusou Israel de genocídio depois que suas forças armadas mataram dezenas de manifestantes palestinos durante confrontos ao longo de uma cerca na fronteira de Gaza, em 2018.
O ataque israelense aos palestinos aconteceu no dia em que os Estados Unidos transferiram sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.
Apesar de tudo…
Mesmo em meio aos conflitos entre os dois países, o comércio bilateral e o turismo continuaram em ritmo acelerado. Erdogan disse na quarta-feira que o volume de comércio entre os dois países atingiu 8,5 bilhões de dólares (equivalente a 42 bilhões de reais) no ano passado, e que espera que chegue a 10 bilhões (50 bilhões de reais) este ano.
Erdogan indicou uma disposição para laços mais calorosos desde que o novo governo de Israel foi formado em junho do ano passado, com Naftali Bennett substituindo Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro, e desde que Herzog se tornou presidente um mês depois.
Ambos os lados têm um claro interesse em melhores laços, dizem analistas. Erdogan, cujo país está no meio de uma crise financeira , expressou repetidamente o desejo de que a Turquia participe das lucrativas descobertas de gás natural de Israel no Mediterrâneo, incluindo uma proposta para trabalhar com Israel no transporte de gás natural para a Europa.
Outro ponto que vale destacar é que tanto a Turquia quanto Israel se tornaram mediadores na atual crise dos ucranianos por conta da invasão russa.