
Com a morte do Papa Francisco, na manhã desta segunda-feira (21), aos 88 anos, em sua residência no Vaticano, em consequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e saúde debilitada após 37 dias de internação por pneumonia bilateral e insuficiência respiratória, líderes da Igreja Católica analisam os desafios a serem enfrentados pela instituição.
Entre eles está a perda de fiéis, predominantemente para as igrejas evangélicas, conforme destacado em uma reportagem da BBC.
Embora a diminuição católica seja um fenômeno global, no Brasil o crescimento das igrejas evangélicas tem sido notável. Dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2000, os católicos representavam 74% da população brasileira. Dez anos depois, esse percentual caiu para 65%.
Além disso, muitos dos que se identificam como católicos o fazem apenas de forma "estatística", sem envolvimento ativo na vida religiosa.
"A existência do católico não praticante é uma questão cultural brasileira", diz a antropóloga e historiadora Lidice Meyer Pinto Ribeiro, professora da Universidade Lusófona, em Portugal.
Crescimento evangélico
Enquanto o número de católicos no país diminuía, observou-se um crescimento significativo dos cristãos de denominações evangélicas, passando de 15% para 22% entre 2000 e 2010.
Os dados mais recentes, referentes ao Censo de 2022, estão previstos para serem divulgados somente em junho deste ano.
De acordo com um levantamento mais recente do Datafolha, divulgado em 2020, 50% da população brasileira se identificava como católica, enquanto 31% como evangélica.
"O catolicismo não está perdendo fiéis porque estes se tornam ateus, mas sim porque abraçam um cristianismo mais conservador", explica o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, editor do jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo.
Conservadorismo
Há, contudo, quem argumente que o conservadorismo católico é, na verdade, o principal fator responsável pela redução no número de seus fiéis.
"As igrejas evangélicas crescendo têm no catolicismo um grande fornecedor de fiéis. A Igreja Católica precisa preservar o que ainda resta, estancar a crise da perda de fiéis", pontua ele.
O teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que a Igreja Católica está diante de um desafio duplo: por um lado, vem perdendo a hegemonia com os fiéis migrando para outras denominações; por outro, não pode descuidar daqueles que seguem sendo católicos – é preciso "manter acesa a chama do catolicismo no país, ainda o maior país católico do mundo".
"As igrejas evangélicas crescendo têm no catolicismo um grande fornecedor de fiéis. A Igreja Católica precisa preservar o que ainda resta, estancar a crise da perda de fiéis", avalia ele.
Em paralelo, avalia Moraes, a Igreja Católica sofre com a falta de padres e, em um contexto político extremamente polarizado, parece ainda não ter encontrado o ponto certo para se posicionar de forma contundente frente a questões importantes para o século 21.